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Festival de San Sebástian | Documentário de João Moreira Salles abre o evento espanhol

No Intenso Agora foi elogiado em Berlim

22.09.2017, às 12H54.
Atualizada em 22.09.2017, ÀS 14H02

Minúscula em quantidade, maiúscula em potência estética: assim é participação do Brasil na 65ª edição do Festival de San Sebastián, no norte da Espanha, que começa nesta sexta (22) com o documentário No Intenso Agora, de João Moreira Salles. Saudado como obra-prima em sua passagem por Berlim, em fevereiro, o novo longa-metragem do diretor de cults como Entreatos (2004) integra a seleta do Brasil no evento, ao lado do experimento mineiro Arábia, de Affonso Uchôa e João Dumans, e de duas produções mescladas a DNA estrangeiro. De um lado vem Uma Espécie de Família, do argentino Diego Lerman, e, do outro, Me Chame Pelo Seu Nome, do diretor italiano Luca Guadagnino, produzido pela paulistana RT Features (de A Bruxa). Mas quem abriu o evento, situado na parte basca do território espanhol, foi o multinacional Submersão, do alemão Wim Wenders, ovacionado em sua projeção matinal para quase mil espectadores.

Agendado para uma sessão esta noite (22/9), No Intenso Agora inaugura o pacote latino-americano de San Sebastián, posicionado num programa (Zabaltegi-Tabakalera) cheio de mestres. Ao lado do cineasta carioca – que não lançava filmes desde 2007, quando emplacou seu maior sucesso, Santiago -, aparecem realizadores de verve autoral como o francês Raymond Depardon (12 Jours) e o sul-coreano Hong Sang-soo (The Day After). 

“Tirar as estátuas do pedestal às vezes é bacana”, disse Salles ao Omelete após a projeção do filme na Berlinale, referindo-se à dessacralização política que ele propõe.

“Esse filme nasce de arquivos feitos pela minha mãe, durante uma viagem à China, e dele eu fui chegando a outro territórios da memória e do engajamento político da juventude europeia nas lutas da década de 1960”.

Coroado com três prêmios no festival francês Cinéma du Réel (melhor trilha sonora, prêmio da Sociedade Civil dos Autores Multimídia e prêmio do júri de bibliotecários), o documentário é um épico investigativo sobre 1968, seus valores políticos e suas chamas de resistência (à esquerda, sobretudo). Ao longo da montagem, o diretor salpica memórias familiares. Em volta de registros documentados em terras chinesas por sua finada mãe, o diretor dispõe, com delicadeza, na forma de um buquê de depoimentos e sensações, memórias de pelejas estudantis decalcadas de arquivos de Paris, de Praga e do Rio.

“De alguma forma, com o distanciamento do tempo, a cultura do consumo converteu  rebeldia em mercadoria, sendo 1968 o ambiente histórico mais explorado como um lugar de propaganda, um lugar de desejo. É importante saber o que o período nos deixou como legado transformador concreto. Mas eu não sou historiador profissional, nem vivi aquela época. Eu me reporto a ela apenas da única maneira que me é legítima na prática: a partir da memória de minha mãe”, disse Salles.

Este ano, o ator John Malkovich preside o júri de San Sebastián, responsável por atribuir a Concha de Ouro a um dos 17 concorrentes aos prêmios oficiais. Estão em concurso The Disaster Artist, de James Franco (EUA); El Autor, de Manuel Martín Cuenca (Espanha/ México); Beyond Words, de Urszulla Antoniak (Polônia); La Douleur, de Emmanuel Finkiel (França); o já citado Uma Espécie de Família, de Diego Lerman (Argentina/ Brasil); Handia, de Aitor Arregi (Espanha); Der Hauptmann, de Robert Schwentke (Alemanha); Mademoiselle Paradis, de Barbara Albert (Áustria); Pororoca, de Constantin Popescu (Romênia); o francês Le Sens de la Fête, de Olivier Nakache e Éric Toledano (a dupla de Intocáveis); Love Me Not, de Alexandros Avranas (Grécia); Ni Juge, Ni Soumise, de Jean Libon e Yves Hinant (Bélgica); Soldiers: Story from Ferentari, de Ivana Mladenovic (Romênia/ Sérvia); Sollers Point, de Matt Porterfield (EUA); Le Lion Est Mort Cest Soir, de Nobuhiro Suwa (Japão/ França); e Alanis, de Anahí Berneri (Argentina). Para o encerramento, a atração será The Wife, um drama que pode dar à atriz Glenn Close um Oscar por sua atuação como uma esposa devotada a um marido escritor.

Famoso por mesclar produções experimentais, trabalhos de autores consagrados e pipocas com tempero pop, San Sebastián preservou, no menu de 2017, seu interesse pelo cinema animado japonês ao escalar o esperado Fireworks, Should We See It From The Side Or The Bottom, de Akiyuki Shinbo e Nobuyuki Takeuchi, para uma sessão de gala. Esta sexta (22), o festival exibe o longa ganhador da Palma de Ouro de Cannes: a comédia de humor negro The Square, de Ruben Östlund.

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