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Festival do Rio 2016 | Filme de ação hospitalar denuncia a crise da saúde no país

Sob Pressão eletrizou a plateia do evento

11.10.2016, às 15H58.

Enfurnada em um hospital público do subúrbio carioca durante 90 minutos de febre alta, a Première Brasil do Festival do Rio 2016 experimentou na noite de segunda (10) momentos de tensão em fervura máxima durante a projeção de Sob Pressão, de Andrucha Waddington (de Lope). Trata-se de um thriller hospitalar que mais parece um filme de ação à moda Stallone – só que com estetoscópios no lugar de armas.

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Mergulhado nas contradições sociais e nas agruras financeiras da saúde no Brasil, o longa-metragem foi filmado na Santa Casa de Misericórdia, em Cascadura, com inspiração no livro Sob Pressão — A Rotina de Guerra de um Médico Brasileiro, no qual o Dr. Marcio Maranhão relata a rotina dos centros médicos municipais e estaduais no país. Julio Andrade, que já brilhara neste festival à frente de Redemoinho, volta agora como Dr. Evandro, o cirurgião-chefe de uma unidade clínica ameaçada de fechamento pela chegada de uma nova administradora (Andréa Beltrão).

“No período em que acompanhamos a rotina hospitalar, durante as filmagens, eu fui percebendo o trabalho de MacGyver dos médicos da rede pública, que, pela falta de recursos, são capazes de improvisar, usando até furadeiras, se for preciso, para abrir um paciente e poder salvá-lo”, disse Andrucha ao Omelete, antes da sessão de Sob Pressão, a mais abarrotada da seleção brasileira do festival. “O que me levou a este projeto foi a urgência de retratar da situação da saúde pública no país”.

Na TV, esse tipo de ficção é um filão quente, vide séries como E.R. – Plantão MédicoGrey’s Anatomy, House e The Knick, que foi usada como referência direta na narrativa de Andrucha. Mas, no cinema, sobretudo no brasileiro, a medicina dificilmente ganha protagonismo, a não ser em documentários de denúncia. Mas, com Sob Pressão, o diretor de A Casa de Areia (2005) não apenas corrige esta lacuna como o faz apoiado em um hiperrealismo de eletrizar.

Eu já dirigir muitos documentários no passado, mas entro aqui numa ficção que se estabelece numa relação direta com o Real, a ponto de termos filmado num local em que havia internos de verdade em uma das alas”, diz o cineasta, premiado em Cannes em 2000 com Eu, Tu, Eles, seu maior sucesso internacional.  

Finalizado enquanto o cineasta preparava Penetras 2, comédia derivada do sucesso homônimo visto por 2,5 milhões em 2012, Sob Pressão passa uma sensação de tempo real, como se efetivamente seguisse uma hora e meia de trabalho dos colegas do Dr. Evandro em meio a três grandes obstáculos. O primeiro: decidir entre salvar um traficante ou reviver um policial baleado; o segundo: ajudar um garotinho baleado na perna; o terceiro: prestar socorro a alguém da própria equipe, que não deve ser revelado aqui para proteger o espectador de spoilers. Tudo isso se dá em meio a uma guerra no morro entre PMs e soldados do tráficos, sendo que alguns destes vão fazer uma visitinha ao centro cirúrgico. E, se não bastasse, Evandro ainda tem que lidar com sua dependência química a remédios que o ajudam a ficar acordado tempo suficiente para dar conta do fluxo contínuo de pacientes, num momento de esvaziamento de sua equipe, reforçada apenas pela chegada de uma jovem cirurgiã (Marjorie Estiano), egressa de uma temporada no Haiti.   

Num centro cirúrgico se vê de tudo, pois estamos cara a cara com o desespero”, diz o diretor, que deu ao jovem ator Ícaro Silva, um rosto consagrado no teatro, mas ainda de pouca visibilidade na telona, um dos papéis de maior destaque do filme: o idealista Dr. Paulo, o braço direito de Evandro nas mesas de operação.

Ainda na segunda, a Première Brasil vibrou e riu de rachar o bico com uma comédia social disfarçada de documentário: A Luta do Século, do baiano Sérgio Machado, cuja produção é assinada pelo ator Lázaro Ramos. O filme segue os passos das lutas entre os boxeadores Luciano “Todo Duro” Torres, de Pernambuco, Reginaldo Holyfield, da Bahia, cuja rivalidade é histórica. Até em programas de televisão, um partia para cima do outro, sem distinguir o que seria um embate real de uma simples entrevista.

Eu gosto muito de filmes de boxe, como Rocky ou Touro Indomável, mas foi a emoção de ter visto Holyfield entrar em um ringue lá na Bahia, e ser ovacionado pela multidão, que me levou a este projeto, centrado em dois atletas que foram ídolos dos ringues e pararam de lutar”, diz Machado, que concorreu na Première em 2015 com o drama musical Tudo o Que Aprendemos Juntos. “Todo Duro e Holyfield são retratos de uma geografia brasileira de resistência”.

Iniciada na sexta, a Première registrou o maior número de aplausos, até agora, para o doc Divinas Divas, de Leandra Leal, e para a já citada ficçãoRedemoinho, de José Luiz Villamarim, o título com mais chances de levar o prêmio de melhor fotografia, para o veterano da luz Walter Carvalho. Mas entre os favoritos a troféus, até aqui, os dois nomes mais citados são os das atrizes Martha Nowil, por Vermelho Russo, e Karine Teles, por Fala Comigo. Estima-se que nesta terça, o festival verá seu trabalho de ator mais vigoroso, com a conversão do comediante Marcos Veras para a seara do drama em O Filho Eterno.  

Fora da competição brasileira, os longas estrangeiros de melhor boca a boca do Festival do Rio são o terror iraniano Sob as Sombras, de Babak Anvari, e o drama americano Capitão Fantástico, com Viggo Mortensen.

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