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Homem-Formiga | Visitamos o set do filme da Marvel!

As curiosidades e os mistérios do projeto que finalmente virou realidade

01.07.2015, às 13H24.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H40

Visitas a sets de filmagens são a versão do mundo dos jornalistas para os passeios monitorados a parques de diversão - com direito a assessores controlando, contando e alimentando uma dúzia de adultos como se fossem guia de agência de turismo. Cabe aos estúdios escolher dias para o set visit que sejam relativamente calmos (para que a imprensa possa andar pelo espaço e entrevistar pessoas sem alterar demais a rotina da produção) mas que não sejam maçantes de assistir. É um equilíbrio difícil - e por isso os set visits dependem, para o jornalista, na maioria das vezes, de lances de sorte.

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Eu pude visitar o set de Homem-Formiga em Atlanta, nos EUA, no final do ano passado, nas gigantescas instalações do Pinewood Studios que ficam a meia hora do Centro da cidade. Quanto estiver completo, o complexo em construção terá cerca de 30 estúdios fechados, três vezes o tamanho do famoso Pinewood de Londres. No cronograma da filmagem, era a semana 50 e pouco de um total de 77; cerca de 65% do filme foi rodado em estúdio e, de todas essas 77, durou somente uma semana a filmagem nas ruas de San Francisco, onde a trama se passa.

São os números que se escutam quando a visita começa, devagar, entre salas de figurinos, design de produção, direção de arte - os departamentos técnicos que normalmente ficam mais à disposição para conversar com os jornalistas de imediato. Mais amenidades de Homem-Formiga: Paul Rudd leva 15 minutos para vestir o uniforme (nos primeiros dias levava 25) e cerca de 17 capacetes foram construídos para Scott Lang, dois deles tipo hero (de metal de verdade, completo e cheio de detalhes, para as poses "heroicas"), dois stunt (de plástico, para as cenas com dublês), um aberto, um fechado, um zerado, um todo derrapado com marcas de batalha etc. Originalmente, a luva tinha um bastão para acionar a redução, mas não parecia prático, diz o figurinista Ivo Coveney, então eles mexeram no design e só ficou um botão embutido na luva, sobre o indicador e ao alcance do polegar.

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Curiosidades à parte, é quando somos levados a conversar com produtores que o filme de fato começa a tomar forma, em tom e em propósito. No caso do set de Homem-Formiga, o escolhido é Brad Winderbaum, que foi promovido a coprodutor depois de trabalhar nos curtas do Marvel Studios e na locação chinesa de Homem de Ferro 3. Winderbaum diz que a trama se passa paralelamente aos eventos narrados em Vingadores - Era de Ultron. Já um flashback ambientado nos anos 1980 liga Hank Pym com Peggy Carter e a SHIELD. "Há uma cena chave do passado de Hank com a Agente Carter. A SHIELD tem um papel importante no passado de Hank", diz Winderbaum.

O produtor diz que o processo de rejuvenescimento do ator Michael Douglas, que interpreta Pym, será próximo ao do Steve Rogers mirrado de Capitão América - O Primeiro Vingadores, em computação gráfica. Embora uma participação do ator John Slattery como Howard Stark já tenha sido anunciada, Brad Winderbaum não confirma se o pai de Tony Stark também aparecerá nesse flashback nos anos 80.

Relações de pais e filhos, de qualquer forma, estão no centro do filme. O produtor diz que o ex-criminoso Scott Lang precisa aprender a ser um pai responsável, assim como Hank Pym precisa se acertar com sua filha, Hope, com quem tem uma relação estremecida. "Hank não é perfeito. Ele tem um temperamento que os fãs vão reconhecer em termos de humor", diz Winderbaum. "O fato de Hope Van Dyne decidir que vai usar o nome de solteiro da mãe dela quer dizer muito. Por que Hope não foi escolhida para suceder o Homem-Formiga original? Essa é uma das questões do filme."

Enquanto Winderbaum dá aos jornalistas uma síntese do novo longa da Marvel, fica difícil não comparar Homem-Formiga com Homem de Ferro - a começar pelo nome da rede wifi do estúdio em Atlanta, "Jarvis". A subtrama de espionagem industrial que envolve Hank Pym e seu ex-pupilo, Darren Cross, logo lembra o filme de 2008, mesmo porque a careca do ator Corey Stoll remete instantaneamente ao vilanesco Obadiah Stane. "Homem-Formiga é tão comédia quanto Homem de Ferro. Ainda assim acho que as pessoas vão se espantar com a carga dramática nesse filme", comenta o produtor. Em termos de estrutura, o novo longa está mais próximo de uma trama de assalto: "Assistimos de Onze Homens e um Segredo a Profissão: Ladrão para nos preparar", diz Winderbaum.

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A especialidade da Marvel, porém, é fazer suspense - pelo menos em relação ao que revelar, e quando revelar, durante a divulgação. Winderbaum desconversa quando questionado se veremos o Homem-Formiga em sua forma gigantesca: "Quanto mais condensado em escala, mais forte ele fica, e essa forma [diminuta] é a escala neste filme. Ainda assim, vamos ver coisas condensando e expandindo". Sobre os tipos de insetos, sabe-se apenas que haverá vários tipos de formigas: "algumas loucas, como chihuahuas, outras operárias, que constróem coisas, e uma formiga que numa picada pode provocar mais dor do que qualquer outra coisa no mundo", explica.

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As Partículas Pym, por sua vez, MacGuffin do filme, são tratadas como a típica "arma do fim do mundo": um invento poderosíssimo que em hipótese alguma pode cair em mãos erradas. No set dos laboratórios da Pym Tech, é possível ver que a empresa trabalha com assuntos diversos, de desenvolvimento de inteligência artificial a criogenia. Os atores também alimentam seus mistérios: Stoll diz que quando se encontrou pela primeira vez com a Marvel, há anos, logo adiantou que gostaria de interpretar um vilão, mas "o primeiro papel que me ofereceram não parecia certo para mim", diz. Perguntado se Darren Cross cavalgaria uma vespa, como o Jaqueta Amarela dos quadrinhos, só respondeu que não podia dizer... Já o uniforme do vilão, visto de relance no set, dias depois cairia na web; Coveney diz que é uma armadura tecnológica para fazer oposição ao modelito ultrapassado do Homem-Formiga, "como um duelo entre o analógico e o digital", diz.

Não há mistério maior em relação a Homem-Formiga, porém, do que os bastidores da troca de comando, em meados de 2014, quando o diretor Edgar Wright deixou o filme por diferenças criativas e foi substituído por Peyton Reed a pouco mais de um mês do começo das filmagens. Cineasta com crédito entre os cinéfilos, por filmes como Abaixo o Amor, Reed ficou correndo de um lado para o outro e não falou com a imprensa no dia do meu set visit, mas a oportunidade de assisti-lo trabalhar dá uma boa ideia do ambiente de work-in-progress em que Homem-Formiga - um dos projetos mais antigos do Marvel Studios - enfim se tornou realidade.

Primeiro, o contexto: os cenários construídos em Pinewood incluíam o chamado Future's Vault (o cenário com hexágonos luminosos na parede), um cofre de segurança máxima dentro da Pym Tech (que, especula-se, deve guardar o objeto que Scott Lang precisa roubar de Darren Cross a pedido de Hank Pym). Pude ver à distância, por um monitor, Rudd, Michael Douglas e Evangeline Lilly participarem de cenas dentro do cofre que estarão no terceiro ato, no começo do clímax de Homem-Formiga, quando Hank está fora de combate e Hope ordena que Scott persiga o Jaqueta para recuperar um objeto - e finalmente se torne o herói que se espera dele.

Nessa hora, as dinâmicas entre os personagens são bastante interessantes, principalmente pela margem de manobra: Rudd refaz o close-up de vários jeitos, mais heroico, mais cômico, reticente ou decidido. É como se o tom do filme, modulado entre extremos de drama e pastelão, deixasse para ser decidido depois, na montagem. Ali, no set, Paul Rudd vai do canastrão ao pateta em duas tomadas de interpretações absolutamente distintas. Do monitor, é possível ouvir Peyton Reed pedindo: "vamos tentar a versão velha" ou "agora vamos tentar a versão principal".

Perguntei a Evangeline Lilly se a tal "versão velha" que o diretor mencionou seria uma referência ao roteiro da época de Edgar Wright. "O roteiro de Edgar já não é tocado há muito tempo", diz a atriz. Já Michael Douglas credita essas variações a improvisos de Rudd: "O meu Hank Pym é um cara reprimido, e Scott fica aqui no meu ombro falando comigo. Paul sempre acha um jeito diferente de acabar uma cena". Por sua vez, Paul Rudd diz aos jornalistas que Peyton Reed também colaborou com diálogos no set. Meses depois, em entrevistas, Reed diria apenas que a versão de Wright era mais irreverente e o roteiro foi reescrito, entre outras coisas, para dar mais emoção à história.

No fim, o que se sabe é que o Marvel Studios tradicionalmente coloca roteiristas do seu grupo de criação para eventualmente reescrever diálogos direto nos sets de seus filmes. Esses escritores "de aluguel" não recebem crédito, e não fui capaz identificá-los no set visit. No caso de Homem-Formiga, oficialmente o roteiro foi escrito por Edgar Wright, Joe Cornish (dupla da primeira encarnação do projeto), Adam McKay e Paul Rudd. Ao lado de Peyton Reed, eles serão os nomes responsáveis pelo sucesso ou pelo fracasso do esperado filme - mas durante o dia em que passei no set de filmagem as coisas pareciam bem mais abertas, também, a lances de sorte.

Homem-Formiga estreia em 16 de julho.

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