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Mãe! | Não entendeu? Explicamos os significados por trás do longa

Bíblia, opressão feminina e Deus egocêntrico são alguns dos temas tocados por Darren Aronofsky

27.09.2017, às 19H09.
Atualizada em 09.06.2021, ÀS 09H20

Mãe! é um filme que está causando polêmica, pois muitas pessoas estão saindo do cinema sem entender o que acabaram de assistir. Por isso, iremos explicar possíveis interpretações sobre o que o diretor Darren Aronofsky tentou passar com o seu longa. Porém, para falar sobre essa história, precisamos dividi-la em partes. Primeiramente, vamos entender os aspectos bíblicos que o diretor apresenta ao público – sua visão do nascimento e eventual fim da humanidade.

As “dicas” do diretor sobre quem são os personagens estão nos créditos, onde Javier Bardem é creditado como Ele (o relativo a Deus), Jennifer Lawrence é mãe (A Mãe Natureza), Ed Harris é Homem (Adão), Michele Pfeiffer é a Mulher (Eva), Domhnall Gleeson é O filho mais velho (Caim) e Brian Glesson é O irmão mais novo (Abel). Nenhum dos personagens tem um nome próprio e fazem alusão direta à Bíblia – com a casa sendo o nosso mundo.

A história, então, começa com Deus e a Mãe Natureza vivendo em harmonia na Terra, um local que ela o ajudou a construir, preparando tudo da maneira que ele mais gosta. Tudo ia bem até a chegada de Adão, que começa a mexer com o equilíbrio do local.

Apesar dos protestos quase silenciosos de sua companheira, Deus convida o homem para ficar, uma vez que o visitante é fã de seu trabalho. Com isso, ele mostra toda a sua casa e, inclusive, revela para Adão seu “sagrado” escritório – exibindo para o novo "amigo" uma joia que seria o relativo ao fruto proibido.

Adão, porém, é um homem doente e em uma das cenas aparece vomitando com um corte exposto em sua costela (na Bíblia, Adão dá uma de suas costelas para ganhar uma companheira). Pouco depois, Eva, sua esposa, bate na porta e invade a casa, mexendo em tudo e provocando a mãe natureza. Não demora para ela destruir, sem querer, o “fruto proibido”, gerando a ira de Deus que os bane de seu escritório (seu paraíso) para sempre.

Na continuação da história bíblica, Adão e Eva tem dois filhos: Caim e Abel. No longa, os dois filhos invadem a casa e começam a brigar – sendo que o mais velho acaba matando o mais novo para desespero de Adão.

Deus oferece sua casa para o funeral e ela é imediatamente invadida por pessoas desconhecidas que começam a mexer no “mundo”. Então, a Mãe Natureza pede para que eles sejam expulsos – o que seria o primeiro “fim do mundo” com a inundação da Arca de Noé.

Sozinho com a Mãe natureza, ele a engravida. Deus sente-se inspirado com a chegada de seu primeiro filho e escreve um novo poema (novas escrituras) que, assim que lançado, é aclamado pelo povo - que mais uma vez invade sua casa para o desespero da mãe natureza. No meio do caos, ela dá a luz a criança (Jesus), que após um momento de descuido da mãe, é levada por Deus para o povo. Seu único filho é morto pela humanidade (eles acabam bebendo seu sangue e comendo seu corpo) e, mesmo assim, recebem o perdão.

Eventualmente, o caos é tão grande e o homem destroi tanto a casa (mundo) que só resta a mãe natureza a aniquilação de tudo – o apocalipse.

Essa é a primeira camada do filme. Entendendo isso, abre-se espaço para ainda mais interpretações do trabalho de Aronofsky, que vão desde a relação da sociedade com a mulher até sua visão de Deus.

Mãe! também fala sobre como a mulher é oprimida. Jennifer Lawrence interpreta uma pessoa quieta, reprimida, que mal consegue se expressar e é totalmente dependente do marido.

A vida dela é como de muitas mulheres no passado: vive para servir o marido e para realizar todos os seus caprichos. Ela nunca deixa a casa, ela nunca consegue fazer nada para si e vive para servir. Quando Eva fala com ela, o único assunto que falam envolve o relacionamento com marido, sua vida sexual e a necessidade de ser mãe o mais rápido possível.

Deus, por sua vez, é misericordioso com a humanidade, mas não por amor a ela e, sim, por ser uma pessoa completamente egocêntrica. Ele precisa ser amado, precisa ser adorado e, por isso, perdoa a humanidade por destruir sua casa, por acabar com a mãe natureza e até de ter assassinado seu filho. Esse não é um Deus de piedade e, sim, um garoto mimado.

Mãe! é um filme sufocante que abre espaço para diversas interpretações. Essa é apenas uma das várias que ele abre e fica o convite ao leitor para também encontrar a sua. 

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