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O Futuro da Humanidade Segundo a Ficção Científica - Parte 2: Distopia

Oito tipos de sociedades que não deram muito certo...

19.09.2012, às 18H12.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H46

Como o cinema de ficção científica imagina o nosso futuro? Na primeira parte do artigo especial, tratamos das possibilidades otimistas, as sociedades utópicas, harmônicas e ideais. Nesta segunda, apresentamos o oposto: a distopia.

Nos futuros distópicos, frequentemente pós-apocalípticos, onde impera a paranoia, mesmo as sociedades sob um véu de ordem e disciplina estão em desarranjo. Geralmente os filmes partem de dois grandes princípios: revelar a corruptividade do sistema ou apresentar os conflitos do protagonista em meio a uma sociedade decadente. Finais esperançosos, em que o individual vence a opressão coletiva, nem sempre são a regra. Aqui, a questão é o poder, e quem o exerce.

Distopias são a inspiração para um sem-fim de filmes de ficção científica. Na lista abaixo, então, você confere alguns representantes de vários gêneros das realidades distópicas, ao lado de outros filmes que se encaixam no mesmo perfil. Muitos dos escolhidos também podem ser classificados em mais de uma categoria, já que os filmes distópicos tendem a abordar mais de um aspecto do mundo em ruínas.

1984

Tipo de distopia: totalitarista

1984, em suas duas principais versões cinematográficas, de 1956 e 1984, e no romance homônimo de George Orwell, sintetiza o totalitarismo e a sociedade de controle. O cidadão abdica de suas liberdades pessoais em troca de uma política de segurança nacional e da promessa de um mundo sem crimes. O Estado passa a padronizar as classes sociais e o estilo de vida, tudo em prol de uma comunidade supostamente homogênea.

Imagine que uma câmera grava todos os seus movimentos, a cada instante, todos os dias. Dentro desse ambiente controlado, onde o Grande Irmão representa o panóptico perfeito, as regras se impregnam na rotina das pessoas de tal forma que, em dado momento, o controle total prescinde da câmera para continuar funcionando. Em 1984, ademais, a repressão do Estado não se dá somente por meio de coação e censura, mas por uma mudança de enfoque: propaganda manipulativa.

Este é o gênero de distopia mais utilizado no cinema de ficção científica, e já rendeu ótimos títulos - muitos deles, como 1984, também derivados da literatura, a exemplo de Fahrenheit 451, A Scanner Darkly – O Homem Duplo e Aeon Flux. Uma subdivisão da distopia totalitarista é a do Estado burocrático, em que os cidadãos, presos numa situação kafkiana, não conseguem driblar as regras do sistema simplesmente por elas existirem em excesso. Os filmes, nesse caso, tendem ao absurdo e à sátira, como Brazil e Idiocracy.

Blade Runner - O Caçador de Androides

Tipo de distopia: tecnológica

Outro subgênero abundante no cinema de ficção científica. Blade Runner, o filme de Ridley Scott de 1982 que adapta o romance Do Androids Dream of Electric Sheep?, de Philip K. Dick, é um dos principais exemplares do mundo "high tech, low life", isto é, quanto maior o conhecimento científico, pior a qualidade de vida da população. No caso das distopias, a aceleração da tecnologia pode causar um colapso iminente, seja pelo seu mau uso, pela falta de organização na superurbanização ou pela sociedade que apela para o crime como forma de sobrevivência.

Aqui não há um véu de utopia. O universo de Blade Runner apresenta um mundo totalmente caótico, que passa por problemas de superpopulação e poluição. Robôs orgânicos conhecidos como replicantes são criados para trabalhar em colônias fora da Terra, com um curto tempo de vida, e aqueles que tentam viver em meio aos humanos no planeta devem ser exterminados. Mas, nessa realidade esgarçada, o conceito de "humanidade" se perde - daí o conflito principal de Blade Runner, com seus replicantes revoltosos em busca de aceitação.

Já filmes como Matrix demonstram a mesma problemática das máquinas, mas em um mundo onde os humanos já foram totalmente subjugados. Outros exemplos de distopias tecnológicas incluem eXistenZ, Videodrome, Johnny Mnemonic – O Cyborg do Futuro, Metrópolis, O Exterminador do Futuro, THX-1138 e AI – Inteligência Artificial. Este subgênero também pode ser encontrado em inúmeras animações orientais, entre elas Akira, Ghost in the Shell - O Fantasma do Futuro e Appleseed.

O Livro de Eli

Tipo de distopia: pós-apocalíptica

O Livro de Eli, de 2010, é colocado como representante deste gênero por trazer uma versão clássica do apocalipse, com seus desdobramentos religiosos: o mundo passa por uma guerra nuclear que transforma o planeta em uma terra árida de ninguém, e, assim como em A Estrada, o refúgio possível, contra vilões que exploram a desesperança dos demais, talvez seja apenas o espiritual.

O protagonista segue seus próprios valores morais enquanto parte em uma missão que pode alterar a situação e, no caso, trazer um pouco de esperança. Eli perambula por mais de 30 anos até encontrar uma cidadezinha cujo dono afirma conhecer um livro que poderá dar-lhe o poder de dominar as pessoas. O poder é uma das questões fundamentais de sociedades distópicas porque, mesmo que as histórias tenham focos diferentes, uma sociedade imperfeita é gerida por um governante imperfeito.

A escassez de gasolina, a poluição e a predileção por futuros desérticos e sem vida são a norma em filmes como Mad Max, Filhos da Esperança, Os 12 Macacos e Wall-E, mas a natureza vez ou outra se impõe no vácuo deixado pela humanidade, em filmes como Planeta dos Macacos, Waterworld - O Segredo das Águas e Eu Sou a Lenda, Embora a leitura religiosa não esteja sempre presente, não é difícil ver em dilúvios ou em mártires uma chance de interpretar essa variedade de filmes pelo viés bíblico.

Laranja Mecânica / Batalha Real

Tipo de distopia: criminosa

O filme britânico Laranja Mecânica, de 1971, e o japonês Batalha Real, de 2000, têm duas coisas em comum: ambos são baseados em romances homônimos, e trazem a violência como respostas a uma sociedade distópica. Em Laranja Mecânica, o crime organizado comanda as ruas, rivalizando com o papel do Estado, que está a ponto de perder a guerra. O crime, aqui, funciona em resposta ao totalitarismo, mas acaba criando, inevitavelmente, outro tipo de pressão.

Já em Batalha Real, o crescimento da população mundial foi tamanho que esgotou os recursos naturais do planeta. Para controlar as massas e manter a população acuada, o governo cria um jogo: jovens de 15 e 16 anos são atirados em uma ilha para exterminar uns aos outros, até que sobre somente um. Assim, o crime é utilizado como mecanismo de repressão.

Batalha Real tem com Jogos Vorazes, obviamente, um parestesco próximo, mas outros filmes de distopias em que a violência é institucionalizada incluem também No mundo de 2020, Delicatessen, Death Race 2000 e Fuga de Nova York, entre muitos outros.

Admirável Mundo Novo

Tipo de distopia: prazerosa

Você será totalmente controlado por um governo ou uma instituição, mas não se preocupe: você vai gostar. Em Admirável Mundo Novo (filme criado para TV em 1980, inspirado pelo romance de Aldous Huxley), a sociedade poderia ser uma utopia, tudo funciona de maneira perfeita, as pessoas vivem de forma harmônica, sempre serenas ou felizes. A vida sexual é encorajada, já que serve apenas como fonte de prazer - a reprodução é sempre in vitro e controlada. Porém...

Para manter-se feliz, o cidadão deve usar Soma, uma droga projetada para desativar sentimentos impróprios. Aqueles que não querem viver em sociedade, podem optar por morar nas suas margens. Na trama do filme, a sociedade passa a ser questionada por alguns poucos, quando um dos Selvagens é reinserido na cidade. O livro ainda ganhou outra adaptação para a TV, em 1998.

Outros bons exemplos desta distopia são Fuga do Século 23 (o filme de 1976 mostra a sociedade perfeita, mas que assassina seus cidadãos quando eles atingem 30 anos de idade) e Equilibrium (de 2002, em que o uso de drogas mantém a sociedade serena, já que ter emoções é considerado um crime).

Vampiros de Almas

Tipo de distopia: alienígena

E se a distopia estivesse lá fora? Aqui, uma raça alienígena é que passa a controlar a sociedade. Porém, o funcionamento dessa nova comunidade é bem parecido com a distopia totalitarista: os cidadãos se tornam homogêneos, não há violência, mas também não há individualidade ou sexualidade.

Vampiros de Almas - que ganhou três remakes: Os Invasores de Corpos (1978), Os Invasores de Corpos - A Invasão Continua (1993) e Invasores (2007) - foi produzido em 1956, numa época da Guerra Fria em que o cinema B de Hollywood trabalhava com o medo comunista constantemente como metáfora em suas ficções científicas. Como os alienígenas parasitas dominam humanos mas não os deformam, tudo na aparência permanece normal, e a paranoia se estabelece mais uma vez como norma da distopia.

Claro, o mundo se torna um local absolutamente utópico, mas para os invasores. Outra sugestão é Cidade das Sombras, de 1998, cuja versão do diretor saiu no Brasil em Blu-ray em junho deste ano.

A Decadência de uma Espécie

Tipo de distopia: feminista

Assim como filmes retratam o feminino de forma utópica, em que a questão do gênero fica mais equacionada, também há o seu oposto: na distopia feminista, a sociedade reprime as mulheres. No caso do filme A Decadência de uma Espécie, de Volker Schlöndorff, de 1990, o futuro é demonstrado na República de Gileade, em que o governo totalitarista controla a reprodução e a maioria das mulheres é estéril. Aquelas que podem gerar filhos são escravizadas e forçadas a procriar. No tipo ainda cabem questões como a redução do papel feminino a atividades forçadas domésticas.

RoboCop - O Policial do Futuro

Tipo de distopia: corporativa

O controle aqui é realizado não pelo governo, mas por uma ou mais corporações, que podem tanto determinar o estilo de vida dos cidadãos (frequentemente mascarado como oferta de bens de consumo) como serem, elas mesmas, os agentes de destruição. No caso de RoboCop - O Policial do Futuro, de Paul Verhoeven, as comunidades vivem à mercê da violência, até que a empresa OCP toma para si o papel da segurança pública e cria um ciborgue que pode eliminar a criminalidade.

O que a corporação não imaginava, porém, é que seu rato de laboratório, um policial chacinado que sobrevive graças à tecnologia, pudesse lutar tanto para manter a sua humanidade. Na obra, assim como em outras distopias deste tipo, as empresas que conduzem o mundo são uma visão exacerbada do capitalismo selvagem. A publicidade, inclusive, passa a ser a maior ferramenta de gestão do controle.

Outros exemplos: O Quinto Elemento, Rollerball – Os Gladiadores do Futuro, A Ilha, Resident Evil, O Vingador do Futuro, Paranoia 1.0.

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