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Oscar 2017 | Academia presta homenagem aos 50 anos de Bonnie & Clyde: Uma Rajada de Balas

Astros do clássico de 1967 apresentam prêmio de melhor filme

Omelete
4 min de leitura
26.02.2017, às 12H02.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H43

Nos minutos finais da 89ª cerimônia de entrega do Oscar, em meio à expectativa pela vitória (ou não) de La La Land (ou de Estrelas Além do Tempo), a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood vai prestar um tributo ao longa-metragem que, há 50 anos, mudou os rumos do cinema americano, conduzindo-o à "maioridade": Bonnie & Clyde, de Arthur Penn, aqui lançado como Uma Rajada de Balas. Em homenagem a este cult que abriu espaço para uma nova representação da juventude e da violência nos Estados Unidos, a Academia convidou seus astros, Faye Dunaway e Warren Beatty para apresentarem a categoria mais esperada da noite.

Orçado em US$ 2,5 milhões, Bonnie & Clyde: Uma Rajada de Balas arrecadou cerca de US$ 70 milhões em seu lançamento ao retratar a história de amor e tiros entre dois criminosos que assolaram as páginas policiais americanas nos anos 1930. Bonnie Parker era uma garçonete que caiu de amores por um ex-presidiário, Clyde Barrow, que promove assaltos no interior daquele país. O filme de Penn tratava os dois de maneira romanceada, quase como anti-heróis libertários. A produção foi premiada com os Oscars de melhor fotografia e melhor atriz coadjuvante (Etelle Parsos). Foi ali que o ator Gene Hackman, aposentado desde 2004, despontou para a fama.

Embora Penn tivesse raízes na TV, tendo sido um colaborador essencial à criação da teledramaturgia dos EUA, foi na tela grande que ele se tornou um revolucionário. Seu Bonnie & Clyde é fruto de uma hemodiálise poética da imagem. Para entendê-la é necessário voltar no tempo. Houve uma vez um verão, o de 1967, no qual o cinema americano engajou-se numa bossa nova para seus padrões, diante de Uma Rajada de Balas, de Arthur Penn, e de A Primeira Noite de um Homem, de Mike Nichols. Em ambos, dois diretores com experiências em outras mídias (o primeiro da TV, o segundo do teatro) contextualizaram a juventude dos EUA sob uma ótica alarmista de percepção do cerceamento moral e da violência das instituições, seja pela caretice da Família seja no chumbo quente do Estado. Dali pra frente, a filmografia do Tim Sam tomou uma curva à esquerda, imbuindo-se do espírito cinemanovista - aquele que pariu François Truffaut, embalou Bernardo Bertolucci, ninou Roman Polanski, pôs Glauber Rocha para arrotar - para tirar cascas das feridas nas veias abertas da América profunda.

Naquele momento, uma trupe surgiu com uma proposta de engajamento social, político, comportamental e estético. Entre eles estavam Francis Ford Coppola (O Poderoso Chefão), Martin Scorsese (Taxi Driver), Peter Bogdanovich (A Última Sessão de Cinema), Bob Rafelson (Cada Um Vive Como Quer), Michael Cimino (O Franco-Atirador), Bob Fosse (Cabaret), Jerry Schatzberg (O Espantalho), Hal Ashby (Muito Além do Jardim), a esquecida Elaine May (O Rapaz Que Partia Corações), George Lucas (Star Wars - Episódio IV: Uma Nova Esperança) e um certo Steven Spielberg (o do Tubarão e de Contatos Imediatos do 3º Grau). E ponha ao lado deles um documentarista de peso como Peter Davis (Corações e Mentes) e ficionistas mais velhos, como Robert Altman (M.A.S.H.), John Cassavetes (Maridos), Monte Hellman (Briga de Galo), Sidney Lumet (Serpico) e Sydney Pollack (A Noite dos Desesperados). Embora muito esqueçam, foi aí que Woody Allen (Bananas) apareceu. E essa patota trouxe para o primeiro plano da tela as varizes éticas que impediam a oxigenação do sangue americano.

Eles eram os chamados Easy Riders, em referência ao filme homônimo de Dennis Hopper, lançado em 1969 e tido como a carta de intenções de uma nova poética fílmica desesperada pelas chagas de sua pátria. Essas chagas eram, em geral, políticas e sociais - com destaque para a exclusão dos pobres e o dos imigrantes e o massacre dos ragazzi fãs de Beatles e Rolling Stones mortos no Vietnã. Mas também havia as chagas da própria imagem, ou seja, a impotência que o próprio cinema teve de deflagrar uma revolução a partir de sua habilidade de (re)interpretar o mundo ao colocar sua memória em movimento.

É a essa fatia da História que a Academia vai dizer "Amém!" esta noite, quando fizer Bonnie rever Clyde.

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