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Superman Lives: O roteiro de Kevin Smith

Superman Lives: O roteiro de Kevin Smith

23.08.2002, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H13

Kevin Smith

Em Superman lives, roteiro escrito por Kevin Smith em 1997 e recusado por Tim Burton (leia matéria sobre isso, aqui), encontramos elementos das sagas A Morte do Super-Homem e O Retorno do Super-Homem - dois momentos importantes dos quadrinhos do herói - com um diferente e complexo pano de fundo para a presença de Apocalypse e o motivo de seu confronto com o Super-Homem.

BRAINIAC E A EXPLOSÃO DE KRYPTON

Na trama preparada por Smith, o sistema de inteligência artificial Brainiac foi introduzido em Krypton, vindo de Colu, com o aparente propósito de policiar o planeta. No entanto, Jor -El descobriu seu verdadeiro intento com a ajuda do Erradicador, um computador vivo que ele sua mulher, Lara, haviam criado. Deu-se conta, então, que Krypton estava mesmo condenado, não por motivos naturais, mas porque Brainiac absorvia toda sua energia a fim de criar um corpo para si.

Agora, sorvendo também os recursos do Erradicador, o vilão teria uma fonte inesgotável de força. Seu plano, todavia, foi frustrado quando as erupções começarem antes do previsto. A interrupção do processo resultou num Brainiac sem o poder do computador de Jor-El e sem o corpo inteiramente formado.

O cientista e sua companheira conseguiram salvar o filho Kal-El, transformando o Erradicador num foguete que o levou para a Terra quando Krypton explodiu. Em nosso planeta, o pequeno sobrevivente foi adotado pelos Kents, desenvolveu poderes muito superiores aos dos humanos e tornou-se seu maior protetor, o Super-Homem.

A ALIANÇA DOS SUPERVILÕES

Assessorado pelo robô L-Ron - que os leitores conhecem da Liga da Justiça Internacional, de Keith Giffen - Brainiac tornou-se um parasita espacial, sugando a energia de pequenas naves para manter sua miserável forma antropomórfica, enquanto rastreava sinais do Erradicador. Sua sorte mudou quando seus receptores captaram uma mensagem da Terra, enviada por Lex Luthor. Nela, o inescrupuloso milionário dono da LexCorp mencionava um certo kryptoniano.

Em Metrópolis, o magnata empenhava-se na aprovação do Wertham Act, projeto de lei para restringir a atuação de vigilantes uniformizados, mais especificamente do Super-Homem. Com este detalhe de roteiro, Kevin Smith pretendia homenagear o famigerado psiquiatra Fredric Wertham, que, nos anos cinqüenta, fez campanha contra os quadrinhos nos Estados Unidos.

Como a governadora Bree era contrária à lei, Luthor contratou para que a matasse o Pistoleiro, velho inimigo de Batman e personagem cultuada por quem acompanhou o Esquadrão Suicida, de John Ostrander.

O resgate de Bree marcou a primeira aparição do Homem de Aço no roteiro numa situação que mostra bem como Kevin Smith contornava as limitações impostas por Jon Peters. O produtor não queria, de forma alguma, que o herói voasse. Então, no texto, as cenas de vôo são descritas como um estrondo sônico seguido por um borrão azul e vermelho, imagem a que os leitores de quadrinhos estão habituados.

A MORTE DO SUPER-HOMEM

Quando Luthor e Brainiac finalmente se encontraram, um plano foi arquitetado. A estação espacial da Lexcorp, que deveria servir como condutor de energia solar a ser comercializada pela empresa, teve alterada sua função. Modificada pelo vilão espacial, a estrutura passou a bloquear a luz do Sol. Desta maneira, ao enfrentar o bestial Apocalypse, cria de Brainiac, Super-Homem esteve desconectado da sua fonte de poderes. A morte do herói enfrentando a criatura irracional, portanto, é bem mais convincente no roteiro de Smith do que nos quadrinhos.

Durante o funeral, temos uma pequena participação de Batman, transmitindo, diretamente da batcaverna, uma mensagem de alento para a população de Metrópolis.

O RETORNO

Em seguida, veio a fraude orquestrada pelos vilões. Luthor apresentou ao povo Brainiac, dizendo ser ele o mestre do falecido Super-Homem e a única esperança da Terra contra a invasão de uma suposta frota alienígena. Na verdade, naves invasoras falsas haviam sido projetadas nos céus pelo equipamento da LexCorp e todos foram levados a crer que apenas a escuridão decorrente do bloqueio dos raios solares livrava o planeta de um ataque.

Com o plano em andamento, Luthor tornou-se o único fornecedor de energia do mundo e Brainiac, transformado em herói, não se deparava mais obstáculos para atingir seu verdadeiro intento, apossar-se da energia infinita do Erradicador.

Neste ínterim, o Erradicador despertou. Programado por Jor-El para que protegesse seu filho, o computador vivo foi ativado pela morte do Super-Homem. Imediatamente, detectou a presença de Brainiac na Terra. Conseguiu, então, teleportar o corpo do herói para a Fortaleza da Solidão e trazê-lo de volta à vida. Paralelamente, Lois Lane e Jimmy Olsen, do Planeta Diário, investigaram a fraude de Luthor e Brainiac, dispostos a expor ao mundo a verdade sobre seus pretensos salvadores.

CHEWBACCA É FOFO

A elaboração intricada do roteiro mostra como Kevin Smith aprimorou a saga da Morte e do Retorno do Super-Homem, mesmo tendo de enfrentar a interferência de Jon Peters.

Algumas vezes, tive de sucumbir à estupidez, fazendo, por exemplo, Brainiac lutar contra ursos polares perto Fortaleza da Solidão. Era constrangedor, esclareceu o roteirista.Ele (Peters) vivia dizendo que Brainiac devia dar um cachorro espacial para Luthor. Eu dizia: ‘Esse elemento não acrescenta nada à história. Por que você quer isso?’ E ele: ‘Porque quero um Chewie’. Era época do relançamento de Star Wars, e Peters dizia ‘Chewie é fofo, cara. Podemos fazer um brinquedo’.

Smith prossegue contando que, após assistir a Procura-se Amy, Peters comentou: aquele negro no seu filme fez um excelente trabalho. É o que precisamos em Superman. Precisamos desse tipo de atitude, dessa voz. Que tal L-Ron? Ele não pode ter uma voz assim? O robô não pode ser gay? Eu quero uma versão gay do R2D2.

A despeito das intervenções de Peters, Kevin Smith conseguiu concluir o roteiro e elaborar uma história emocionante e fiel ao espírito da personagem. Mesmo de uniforme negro, sem poderes ou trajando o Erradicador na forma de vestimenta especial, seu Super-Homem é, do início ao fim, o verdadeiro Homem de Aço. Talvez aí, no esforço deste autor, apaixonado pelas HQs, esteja a prova de que um filme definitivo do herói ainda pode ser realizado e que os únicos obstáculos são os interesses de certos produtores de Hollywood.

Para o alto e avante.

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