X-Men | Como os filmes originais se tornaram uma metáfora para a homossexualidade

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X-Men | Como os filmes originais se tornaram uma metáfora para a homossexualidade

Preconceito e luta por aceitação foram alguns dos temas que convenceram Bryan Singer, homossexual assumido, a fazer o primeiro longa da franquia

16.06.2017, às 10H00.
Atualizada em 21.06.2019, ÀS 18H12

Desde o nascimento de X-Men nos quadrinhos, as narrativas sempre focaram na opressão que uma minoria sofre em relação a sociedade. Temas como preconceito sempre ficaram claros ao revelar como a humanidade enxergava os mutantes e eles quebraram o estereótipo clássico dos heróis admirados pelo público. O assunto sempre repercutiu nas histórias e para versão cinematográfica não seria diferente. Por isso, assim que foi confirmado na direção do primeiro filme no início dos anos 2000, Bryan Singer tentou criar uma metáfora para homossexualidade.

Homossexual assumido, o cineasta ganhou fama com filmes como Os Suspeitos e no início dos anos 2000 ele foi convidado para levar o grupo aos cinemas. Na época, adaptações de quadrinhos não eram bem vistas, mas Singer decidiu aceitar o desafio pois se identificava com as histórias criadas pela Marvel. “A temática era muito interessante para mim. Eu via Xavier e Magneto como Martin Luther King e Malcolm X. Eu sou gay ou bissexual, tanto faz, então isso ressoou mais forte em mim pois as mutações são descobertas na época da puberdade, quando você se sente diferente de todo o seu bairro e sua família, além de se sentir muito isolado”, afirmou ao Collider.

Singer entendeu que a luta dos mutantes era muito parecida com as enfrentadas pelos movimentos sociais LGBT: mutantes sendo criminalizados apenas por existirem, enfrentando preconceito por tentarem ser eles mesmos e com políticos criando leis que os combatiam. Assim como os heróis dos quadrinhos, a homossexualidade já foi considerada um pecado e houve um período onde ela era vista como uma doença, com “estudiosos” procurando curas e maneiras de deixar essas pessoas “normais”.

Para Singer o paralelo era muito claro, mas ele não queria causar nenhum desconforto com Stan Lee, criador das histórias. Por isso, quando começou a trabalhar no longa, conversou com o lendário roteirista se ele havia previsto algo parecido. “Eu somente perguntei: ‘quando você começou a criar tudo isso, chegou a passar pela sua cabeça esse paralelo?’ E ele disse, ‘Sim, com certeza’”, afirmou ao site Out.

Sendo assim, ele começou a ler cada vez mais os quadrinhos para criar uma história capaz de agradar ao público geral e que, ao mesmo tempo, mostrasse o preconceito sofrido pelos mutantes. Ao construir um roteiro sólido, ele precisava de um grande nome para chamar atenção do público e da crítica e, com isso, procurou imediatamente o Sir Ian McKellen.

Experiente ator, McKellen é especializado em obras de Shakespeare e na época contava com uma recente indicação ao Oscar por Deuses e Monstros. Acima de tudo, desde 1988 ele é abertamente gay e desde então tem participado de movimentos sociais pelos direitos dos homossexuais. McKellen não estava interessado em fazer o filme, mas o cineasta sentou com o ator e explicou que sua produção seria uma metáfora sobre as lutas que ele mesmo participava. “Eu comprei a ideia quando Bryan disse: ‘Mutantes são como gays. Eles são excluídos pela sociedade sem nenhuma razão aparente”, afirmou ao Buzzfeed.

O ator imediatamente topou a ideia e ajudou a construir a primeira versão de Magneto nas telonas, sendo que para isso usou suas próprias experiências para compor o personagem. “Como todos os movimentos sociais, as pessoas precisam decidir: vão tomar o lado de Xavier – que de alguma maneira envolve entender quem você é, se defender e ter orgulho de si mesmo, mas precisando lidar com todos ao redor – ou você vai tomar uma visão alternativa – que envolve, se necessário, usar a violência para defender seus direitos. E isso é verdade. Eu cheguei nessa encruzilhada com os movimentos pelos direitos LGBT”, afirmou.

A performance do ator em oposição direta com o Professor X de Patrick Stewart foi um dos pontos altos do longa, que custou US$ 75 milhões e arrecadou mais de US$ 296 milhões. Isso fez com que a Fox encomendasse imediatamente uma sequência e, em 2003, X-Men 2 foi lançado. Na continuação, o diretor decidiu deixar o paralelo ainda mais claro e utilizou uma cena em especial com Bob Drake, o Homem-Gelo (Shawn Ashmore).

Quando a mansão Xavier é tomada pelos homens de Stryker, o herói volta para sua casa e finalmente se revela para os seus pais como mutante. Espantada, sua mãe afirma: ‘Mas você já tentou não ser um mutante?”. “Isso sempre foi algo muito específico dos X-Men que se relaciona diretamente com a comunidade LGBT. Você nasce em uma família ou em um bairro em que você não se identifica. Uma pessoa com uma determinada religião ou raça nasce em uma comunidade de fé semelhante ou atributos físicos iguais. Mas uma pessoa LGBT nasce em um mundo – para usar o exemplo dos X-Men – como um mutante. E, claro, que os pais não são mutantes, seus irmãos e irmãs podem não ser mutantes. E eles sentem um tipo único de solidão”, disse à EW.

Os dois primeiros filmes de Singer tornaram-se grandes marcos do gênero e até hoje X-Men é uma das franquias mais importantes da Fox. Contudo, os longas originais convidam a uma reflexão muito mais relevante ao espectador: até onde vai o ódio por um ser humano diferente de você?  

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