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Beijo na boca, não!

Comédia musical de 2003 de Alain Resnais enfim estréia no Brasil

15.01.2009, às 16H00.
Atualizada em 02.11.2016, ÀS 05H01

O cineasta francês Alain Resnais (Medos Privados em Lugares Públicos) não filmava há seis anos, quando lançou Pas sur la Bouche em 2003. Apesar do hiato, há uma relação direta com seu filme anterior, Amores Parisienses (1997), que por sua vez se liga a La Vie est un Roman, de 1983. São as comédias musicais de Resnais, em que os personagens dialogam com o espectador e, via metalinguagem, o cineasta presta homenagem ao gênero.

Pas sur la Bouche finalmente estréia no Brasil, com o título Beijo na boca, não!. A história se inspira em uma opereta de 1925 escrita por André Barde e Maurice Yvain, e a metalinguagem fica evidente já no começo, quando o empregado da mansão parisiense dos Valandray, Faradel (Daniel Prévost), consegue se livrar de três belas jovens, biconas que estavam comendo todo o chá da tarde - depois da primeira canção do filme, em que as convence a pegar uma liquidação nas Galerias Lafayette, ele vira para a câmera e solta: "Pronto, conseguimos nos livrar do coro".

E começa a trama, com ecos das comédias de costume shakespeareanas e das screwball comedies de Hollywood. O casal Gilberte (Sabine Azéma) e Georges Valandray (Pierre Arditi) está para receber um rico empresário estadunidense, mas Georges mal suspeita que o gringo, Eric Thomson (Lambert Wilson), foi o primeiro marido de sua esposa. Enquanto Gilberte se desespera com a iminência do encontro, outros casais se desencontram no vaivém da mansão, entre flertes e números musicais.

Não se trata de um musical clássico, com coreografias produzidíssimas. Tirando uma música coletiva que envolve um bailado de espelhos e colunas, o filme de Resnais é mais uma cantoria encenada com atenção a gestuais, movimentos de câmera e cortes sofisticados. O grande chamariz, porém, são as cores. Desde os filtros de lente até a decoracão kitsch, passando pelo brilho de jóias e porcelanas, tudo remete aos grandes musicais em cores dos anos 40 da MGM - e na cena em que os personagens entram na vila é impossível não atentar para os tons no cenário típicos do Technicolor.

A certa altura, o personagem metido a artista de vanguarda mostra aos convidados da mansão seu número de "arte total" - exposição misturada com música. Resnais tira sarro dessas megalomanias sensoriais. Diretor de clássicos inovadores da linguagem como Hiroshima, Meu Amor e Ano Passado em Marienbad, o francês hoje se permite fazer filmes despretensiosos com seus atores mais próximos, como Pierre Arditi e Sabine Azéma. Ícone de uma geração cinefílica e crítica que soube valorizar os filmes hollywoodianos mais comerciais dos anos 40 e 50, hoje celebra os filmes daquela época à sua moda - e particularmente dá a Lambert Wilson um personagem de sotaque inglês impagável.

O mais importante é que Resnais não descuida da encenação: ângulos e planos são escolhidos com rigor, mas sem exibicionismo. Beijo na boca, não! prescinde do supérfluo e agrada justamente porque sabe muito bem onde quer chegar.

audrey tautou

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