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Cleópatra

Júlio Bressane dá sua visão particular à famosa rainha egípcia

22.05.2008, às 11H00.
Atualizada em 07.11.2016, ÀS 19H07

O mito de Cleópatra não é novidade nenhuma no cinema. Não é preciso muito esforço para rememorar Elizabeth Taylor, no monstruoso épico de 1963, esbanjando dinheiro e figurino em Hollywood. Mas o que acontece quando a rainha egípcia cai nas mãos de um cineasta pouco convencional como Júlio Bressane (Filme de Amor)? A coisa aí fica bem mais instigante e fora do normal.

Se Liz Taylor tinha a elegância natural para viver uma rainha, lhe faltava o acento do mulherão que enlouqueceu uma coleção de romanos. Faltava a força e o humor da Pombajira de Alessandra Negrini, que na Cleópatra de Bressane invade a tela com seus trejeitos e afetações.

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O diretor se confessou aficcionado pelo tema durante as entrevistas sobre o filme, revelando sua vontade de retratar a personagem desde o final dos anos 80. Foram anos de pesquisa para moldar a obra, com sua mão cheia de particularidades. Bressane não quis em nenhum instante cozinhar mais um épico histórico, didaticamente ensinando o beabá da lenda. Ele prefere traçar o mito via as reações íntimas de seus personagens, abrindo o peito de Cleópatra e romanos para a audiência.

Mas Bressane é debochado, lá do seu modo, e sabe provocar sua platéia. Preparou então uma Cleópatra kitsch e barata, quase chanchada cult. A estranheza de encontrar Miguel Falabella, com sua entonação de ator humorístico, declamando seriamente as pensatas de Júlio César, aparece já na primeira cena.

E daí o diretor destila sua visão específica da história, focando principalmente no choque de civilizações, entre as idas e vindas do império romano sob a saia da rainha egípcia.

Os textos são bem talhados, já que ele parte do princípio de que "a língua constrói a imagem" e a narrativa ganha pontos, por seus diálogos mais calcados em poesia. No mesmo caminho vai a direção de arte, mesmo se virando sem orçamento milionário: todas as seqüências têm como modelo quadros e imagens clássicas sobre o período. É certo que, vez ou outra, nossa Cléo carioca parece deitada em um quarto temático de motel cafona. Mas isso não estraga - pelo contrário, ajuda a alimentar o clima meio satírico do filme.

A escolha do elenco, com ótimos atores canastrões, dá o contraponto de singularidade ao longa. Os diálogos afiados brigam com os romanos, todos com um certo ar pateta. E isso dá combustível para Bressane exercitar sua direção, criando imagens como a câmera afundada no peito de Júlio César, significando mais que aquilo que o personagem brada.

Do lado egípcio vem uma trupe de mulheres satíricas, lideradas por Negrini. É ela que brilha, como deveria ser, com sua rainha jocosa e cheia de particularidades - do sotaque carregado à erotização hardcore (que não deveria chocar ninguém, mas este é um mundo carola).

É como diz Dalva de Oliveira, cantando Lupicínio Rodrigues enqüanto Cleópatra agoniza pelos cantos: "o que fazem comigo, vejam que não é normal". Não é mesmo. Justamente por isso.

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