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Kenobi | Crítica

Romance reúne arquétipos do faroeste para contar o exílio de Obi-Wan em Tatooine

17.03.2015, às 12H36.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H46

Autor desde 2005 de várias obras do universo expandido de Star Wars, entre romances, contos e quadrinhos, John Jackson Miller leva ao pé da letra uma das inspirações da saga, o gênero do faroeste, e faz de Kenobi - livro de 2013 que a editora Aleph está lançando agora no Brasil - praticamente um remake de Os Brutos Também Amam (1953) com uma pegada de western revisionista.

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A trama se passa durante o exílio de Obi-Wan, entre episódios III e IV, quando ele cuidou à distância da proteção do bebê Luke em Tatooine. A própria ambientação no planeta desértico não dava muitas opções a Miller; George Lucas concebeu Tatooine como um cenário de faroeste, com seu saloon em Mos Eisley, suas famílias de fazendeiros e o clima de oportunidades sem lei típico das cidades fronteiriças do Velho Oeste.

Desde a primeira cena, em que Obi-Wan encerra uma briga de saloon entre caipiras bêbados e criminosos com a elegância da Força e do seu sabre, fica evidente que estamos diante da clássica premissa que o filme de 1953 legou a tantos outros faroestes que vieram depois: o pistoleiro recém-chegado à cidade, de passado misterioso e provavelmente traumático, consciente da responsabilidade de seu poder de fogo, coloca ordem entre os selvagens que desconhecem a lei. Até mesmo o amor folhetinesco mais açucarado, que o jedi celibatário passa o livro inteiro tentando evitar, não fica de fora da receita de Os Brutos Também Amam que Miller revisita.

Como estamos no século 21 e não em 1953, porém, é inevitável que Kenobi tome o viés da correção política e dê voz, literalmente, às minorias dizimadas na Conquista do Oeste, transformando os tuskens (os "índios" de Star Wars) em coprotagonistas da história. No cinema, a tradição do faroeste revisionista vem desde meados dos anos 1950, já é tão longeva quanto o próprio gênero, e não é difícil ver em Kenobi traços de exemplares do revisionismo, de Rastros de Ódio (1956) a Dança com Lobos (1990).

A boa notícia, aqui, portanto, é que John Jackson Miller vai nas melhores fontes para buscar as ideias para Kenobi. Da viúva que assumiu os negócios da familia colona ao fazendeiro oportunista que termina cego pelo poder, os personagens que acompanhamos aqui ecoam os arquétipos mais consagrados do gênero, por mais que pareçam previsíveis por vezes. No mais, a premissa do poder que corrompe está no centro de Star Wars, e nesse sentido Kenobi não deixa de ser uma história inconfundivelmente da saga.

E há, como nas boas histórias do universo expandido da franquia, uma mitologia a se desdobrar. É possível ler Kenobi sem saber quem é Sharad Hett, Cliegg Lars ou como os atos de Anakin em O Ataque dos Clones afetaram toda a narrativa contada neste romance, mas a amarração feita por Miller com outros eventos da cronologia, tanto a oficial quanto a não-oficial, vai além do mero fan service e dá a Tatooine e seus habitantes uma dimensão de fato maior e mais complexa do que o horizonte desértico do planeta levaria a crer.

Nota do Crítico
Bom

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