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Acquaria | Crítica

<i>Acquaria</i>

11.12.2003, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H15

Acquaria
Brasil
, 2003
Ficção - 103 min.

Direção: Flavia Moraes
Roteiro: Flavia Moraes, Claudio Galperin

Elenco: Sandy, Junior, Emílio Orciollo Netto, Igor Rudolf, Milton Gonçalves, Júlia Lemmertz, Alexandre Borges, Serafim Gonzalez, Daniel Ribeiro

Acredite em Sandy e Júnior. Quando eles defendem que a sua estréia no cinema não é um filme qualquer, bote fé. Quando dizem que tentam fugir do estigma musical e experimentar papéis diferentes daqueles da vida real (e da série de TV), eles estão sendo sinceros. Na coletiva de imprensa, a diretora Flávia Moraes classificou Acquaria (2003) como "corajoso". Acredite, pois o bom gosto da dupla fala alto. Ainda mais alto falam os R$ 10 milhões gastos com um visual impecável e uma equipe igualmente competente.

Claro, o cortejo histérico que segue a dupla, envolta numa redoma de seguranças, incomoda bastante aqueles que foram à sessão prévia apenas para conhecer o filme. Mas, surpresa, a indisposição some com alguns minutos de projeção. Surge o deserto apocalíptico onde transcorre a ação, num futuro não tão distante, Waterworld às avessas. Se um lagarto mal digitalizado (que não deixa rastros na areia) sinaliza um perigoso deslumbramento com efeitos especiais, as belas imagens do deserto do Atacama, no Chile, local das tomadas aéreas, remediam o olhar. Detalhe: o diretor de fotografia é Lauro Escorel, lenda do cinema brasileiro dos últimos trinta anos.

Um cão persegue o tal lagarto numa cidade marrom, para depois entrar numa casa em festa, marido e mulher felizes com algumas gotas de água. Bárbaros invadem a moradia, a incendeiam, roubam o líquido e matam o casal. Não é difícil o espectador perceber que "corajoso", realmente, é um termo bem empregado. Até aqui, dez minutos de apresentação, a narrativa se firmou na imagem, na sugestão de idéias, sem usar a muleta de diálogos redundantes. Essa opção estilística pode soar como uma obviedade, o "feijão-com-arroz", mas se considerarmos o cinema de influência televisiva, feito hoje por Xuxa e semelhantes, trata-se de um feito digno de aplausos.

E essa cadência interessante, de introduzir elementos sem menosprezar a inteligência do público, felizmente pontua toda a história.

Babadas na poltrona

Quinze anos depois, o cão está de volta. Vive com o determinado Gaspar (Emílio Orciollo Netto), o alegre Kim (Júnior) e o pequeno Guili (Igor Rudolf) no meio do nada. O trio tenta finalizar um invento capaz de produzir água, enquanto sonha com o mito de uma civilização antiga, cidade transbordante conhecida como Acquaria. Um dia, Kim encontra à beira da morte uma jovem, Sarah (Sandy). Misteriosa, nervosinha, caçadora habilidosa, ela passa a dividir o teto com o grupo, a contragosto de Gaspar. Aos poucos Sarah se comove com a união dos três, mas a aproximação de um grande perigo é apenas questão de tempo.

É possível perceber que muitas das idéias iniciais de Sandy e Júnior se realizam com harmonia. Aliás, Sandy Leáh e D.L. Júnior - seus nomes completos, como fazem questão de grafar no pôster do filme. A tentativa de desvincular imagem e caricatura funciona melhor para ela, muito bem no papel da bad-girl. Já com Durval de Lima Jr., a boa atuação não impede que infelizes inserções, como a citação de uma suposta namorada , lembrem-nos a cada momento da vida particular do rapaz.

Fica difícil prever se essas inovações desagradarão os seguidores cativos da dupla. Coisa mais possível de acontecer: as crianças se confundirem com a fantasia. Acquaria aposta em elementos "avançados" de ficção científica, como corpos que se desintegram mas mantêm sua essência em cristais. Algumas dessas invenções, como o ritual que marca o eclipse da lua, são felicíssimas, bem sacadas. Outras são absolutamente mal explicadas, como a questão do campo de força e da casa quadrada. Beiram, inclusive, a maior presunção.

Questão pequena, perto de um problema maior. Aliás, um problema comum a muitos filmes nacionais, sejam alternativos, campeões de renda ou popularescos: o roteiro. Tudo bem, a impressão é ótima na primeira metade de Acquaria. Acontece que a introdução se estende demais. O conflito final pela água, previsto desde o início, demora a acontecer. Se não fosse a participação inspirada de Igor Rudolf, ótima revelação infantil, os bocejos e as babadas na poltrona seriam bem mais freqüentes, dada a mesmice sonífera que marca o miolo do filme. E quando o clímax acontece, termina com explicações ligeiras, desfecho apressado.

Desconte as falhas no script e sobrarão alguns bons momentos, números musicais salpicados em quantidade aceitável, sem excessos. Claro, falta senso do ridículo em trechos como o batuque de Júnior em meio à piscina de Acquaria, um número à maneira de Bollywood, a indústria indiana em que musicais hilários dão o tom. Mas nada que contamine o resto. Enfim, taí um excelente resultado vindo de onde não se esperava grande coisa, acredite.

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