Filmes

Crítica

Amor, Drogas e Nova York | Crítica

Ben e Josh Safdie continuam buscando ordem no caos - agora em um amor de perdição

14.10.2015, às 16H14.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

De todos os cineastas alternativos dos EUA influenciados pelo cinema de John Cassavetes, poucos conseguem reproduzir tão bem o sentido de ordem no caos urbano quanto Ben e Josh Safdie.

só deus sabe

None

Assim como os outros dois longas dos irmãos, The Pleasure of Being Robbed (2008) e Traga-me Alecrim (2009), Amor, Drogas e Nova York (Heaven Knows What, 2014) também acompanha novaiorquinos com uma rotina determinada pelo acaso. Harley (Arielle Holmes) e Ilya (Caleb Landry Jones) estão, porém, ainda mais à margem social do que os protagonistas anteriores dos Safdies: são dois sem-teto junkies que vivem de pequenos favores, entre outros viciados em heroína, um dia após o outro, em Manhattan.

É como um boy-meets-girl ao contrário que começamos a ver Heaven Knows What - algo como "só Deus sabe" (título com o qual o filme exibido no Brasil no Festival do Rio em 2014), o que sugere que certas coisas, como o amor ou o ódio, não têm explicação. Harley e Ilya se odeiam, carregam uma relação doentia que já parece durar anos, entre ameaças de suicídio e outros parceiros eventuais, mas como todos os personagens do filme, que se cruzam a cada esquina como coincidências de divina providência, não conseguem nunca se distanciar um do outro.

Ben e Joshua filmam esse amor de perdição com seu já habitual talento para o naturalismo, com câmera na mão, sempre pronta para registrar o que não fora ensaiado, e herdando também de Cassavetes as lições de como misturar elenco profissional e não-profissional numa produção de espírito improvisado, amador, de modo a que tudo pareça o mais próximo possível da realidade em si.

Nesse sentido, Amor, Drogas e Nova York não se diferencia muito dos dois filmes anteriores dos irmãos. É na trilha sonora, porém, e não só na escolha de personagens ainda mais marginais, que os Safdies parecem dispostos a testar limites. A música pontua os momentos mais sanguíneos e angustiantes do que Harley sente em relação a Ilya, e ajuda a criar empatia por esses personagens que parecem virar o rosto sempre que a câmera tenta se aproximar.

Numa época em que o termo "estética documental" perdeu um pouco o significado - justamente por significar tantas coisas diferentes - os Safdies tentam resgatar um senso de organização do caos por meio do cinema. Seus filmes beiram o melodrama, não têm nada de distantes ou isentos, mas são concebidos e encenados como um registro filmado da realidade.

Então não faz muita diferença, para o espectador, saber ou não que Amor, Drogas e Nova York se inspira nas experiências de Arielle Holmes - que foi incentivada pelos diretores a escrever um livro de memórias, o ainda inédito Mad Love in New York City. O poder que o longa tem de cativar vem da mise-en-scène, da capacidade de organizar o mundo em imagens, e se Arielle Holmes demonstra ser uma ótima atriz, reencenando sua própria história, em boa medida é porque encontrou em Ben e Josh Safdie um interesse, um olhar.

Nota do Crítico
Excelente!
Amor, Drogas e Nova York
Heaven Knows What
Amor, Drogas e Nova York
Heaven Knows What

Ano: 2014

País: Estados Unidos

Classificação: 14 anos

Duração: 94 minutos min

Direção: Ben Safdie, Joshua Safdie

Elenco: Arielle Holmes, Caleb Landry Jones, Eleonore Hendricks, Yuri Pleskun, Buddy Duress, Necro

Onde assistir:
Oferecido por

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.