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Em ano de Copa do Mundo, o que não falta é produto relacionado a futebol. De álbum de figurinhas a carro, passando por brinde de cereal e até tinta para pintar a casa, todo mundo se aproveita da paixão nacional. O cinema, claro, não ia ficar para trás. Neste clima de celebração estréia Boleiros 2 - Vencedores e vencidos (2006), seqüência para o ótimo Boleiros - Era uma vez o futebol, de 1998.
Neste período que engloba duas Copas do Mundo (França-1998 e Japão/Coréia-2002) muita coisa mudou dentro e fora de campo. Mas para os ex-boleiros que vão ao bar do Aurélio (Silvio Luiz ), a única diferença está no cenário. Ainda sentados no mezanino do boteco, os antigos jogadores continuam se reunindo para botar a conversa em dia, tirar sarro dos ex-companheiros e, claro, beber uma cervejinha - com participação especial do Dr. Sócrates. Porém, o local tem um novo sócio, Marquinhos (José Trassi), herói fictício do pentacampeonato e ídolo do Roma, que deu um ar mais moderno para o outrora romântico bar.
Em rápida visita ao Brasil, Marquinhos, passa por lá para fazer uma social e posar para a imprensa. Na sua marcação cerrada estão o meio-irmão preso que ameça "abrir o bico" se ele não depositar alguns milhares de euros em sua conta, a mãe de um filho seu, alguns puxa-sacos e muitas "maria-chuteiras". Fazendo a cobertura está o ex-boleiro e agora empresário Lauro (Paulo Miklos), que cuida da defesa e ainda dribla os problemas para deixar sua estrela sempre na cara do gol.
Este esquema tático resume bem a forma como o diretor e roteirista Ugo Giorgetti armou seu time. A forma de jogar é a mesma, com as histórias começando ali nas mesas e mostrando pequenas facetas do futebol ao espectador. Mas há uma enorme diferença no objetivo desta partida. Na fita de 98, mostravam-se alguns aspectos até mesmo folclóricos do mundo da bola, como o árbitro que vendia resultados, os torcedores fanáticos, o artilheiro que não perdoava um rabo-de-saia, etc. Sem pensar na possibilidade de jogar pelo resultado, Giorgetti, muda seu ataque e passa a investir no lado mais social, deixando para escanteio a parte cômica.
Não chega a ser um gol contra, mas o resultado pode não agradar ao público que foi aos estádios, digo, cinemas, assistir ao filme anterior e gostou. A única história realmente engraçada é protagonizada por Lima Duarte, um técnico retranqueiro, e seu assistente técnico Barbosa (Duda Mamberti), um amante do futebol-arte. Os demais contos preferem falar sobre seqüelas sociais que o esporte bretão pode causar, como a decadência de um ex-jogador que não soube cuidar de suas finanças, o empresário oportunista que tenta vender seu atleta como se fosse um cavalo, o saudoso ex-jogador que fica "cego" ao lembrar dos tempos em que atuou pelo Boca Juniors, a advogada que adora demonstrar poder e a diferença social e econômica que existe entre o craque que deu certo e o que preferiu seguir o caminho mais fácil do crime.
A mudança de foco não é o problema. O futebol, por ser tão popular e gerar tanto dinheiro e sentimentos, realmente cria toda esta gama de casos. O que atrapalha em Boleiros 2 é a perda do ritmo de jogo. As novas histórias contadas não têm o mesmo compasso das vistas no primeiro filme, o drama procurado pelo diretor não alcança o mesmo nível de interpretação e cumplicidade que ele conseguiu anteriormente. Giorgetti deveria ter seguido a máxima do futebol de que "em time que está ganhando não se mexe".
Ano: 2006
País: Brasil
Classificação: LIVRE
Duração: 86 min