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Coisa de mulher (de Eliana Fonseca, 2005) começa com um alerta: SBT Filmes Apresenta. Cedo ou tarde isso ia acontecer. Quando transpôs a estética de suas comédias e melodramas para o cinema da "retomada", a Rede Globo inaugurou, já com resultados duvidosos, um modelo de produção rentável o suficiente para que certos desdobramentos perversos dessa tendência pudessem encontrar seu lugar na fila dos incentivos fiscais. Coisa de mulher é a personificação dessa ameaça e um mau sinal do que está por vir.
O primeiro indício do desastre é a própria sinopse. O filme conta a história de Murilo, um jornalista fracassado dono de uma coluna sentimental numa revista de moda. Murilo usa o pseudônimo de Cassandra, mas sua falta de intimidade com o chamado universo feminino faz com que a editora da revista dê a ele um ultimato. Ao mesmo tempo, Murilo se muda para o Edifício Atenas, onde vai se envolver com cinco moradoras, gravar suas conversas e transformar a coluna em um sucesso estrondoso. A premissa ruim é agravada pela absoluta falta de criatividade do roteiro, pelas atuações sofríveis e por uma previsibilidade que transforma o espectador praticamente num médium.
As mulheres são vividas pela turma do Grelo Falante, grupo que fez uma breve aparição televisiva na série Garotas do programa. A idéia, parece, é combinar o estilo consagrado por Sex and the city - mulheres maduras falando de sexo - com o besteirol de A praça é nossa e similares. O resultado é uma combinação do que há de pior nos dois modelos. E numa jogada de marketing sensacional, a quinta moradora do Atenas é vivida por Adriane Galisteu. Dizer que Galisteu é má atriz é uma ofensa à categoria. Pelo visto, ela passou por um curso rápido de atuação, possivelmente do Instituto Universal Brasileiro, e seu papel no filme é constrangedor.
Já a classificação de "comédia sobre o universo feminino" constitui uma dupla mentira. Coisa de mulher não é comédia porque não tem a menor graça. Quanto ao "universo feminino", este permanece insondável e misterioso. No lugar, foram colocados estereótipos ruins de mulheres neuróticas, ninfomaníacas e modernas. O filme é isso: piadas com adultério, lésbicas e orgasmos múltiplos que não chegam a lugar algum. Em determinado momento, a personagem que representa o estereótipo "interiorana ingênua que descobre a cidade grande" inventa um super-vibrador chamado Ricardo III. Vale lembrar que, assim como o filme, Ricardo III era manco, corcunda e deformado.
Para quem agüentar até o final sem pedir água, Hebe Camargo faz uma aparição relâmpago. SBT Filmes é isso aí. Leve um bom livro.
Ano: 2005
País: Brasil
Classificação: 14 anos
Duração: 97 min
Elenco: Evandro Mesquita, Adriane Galisteu