Uma das boas piadas do curta que Michel Gondry dirigiu para o projeto Tokyo! envolve um aspirante a cineasta que carrega uma máquina de fumaça de um lado para o outro, sempre nublando a sala de cinema - para aumentar o clima e a interação do espectador com o seu filme.
O diretor de O Clone Volta para Casa (Kuron wa kokyo wo mezasu), Kanji Nakajima, também deve andar com uma dessas debaixo do braço. Vai gostar assim de fumaça lá no Japão. O efeito é uma das formas que o terceiro longa-metragem de Nakajima saca para tentar criar uma atmosfera de fantasmagoria.
o clone volta para casa
o clone volta para casa
Na trama, o astronauta Kohei (Mitsuhiro Oikawa, de Casshern) é escalado por seus empregadores para participar de uma experiência de clonagem, já que eles não querem sofrer mais baixas na equipe, depois de um episódio fatídico. O problema é que o clone, quando desperto, reativa todas as memórias que herdou do corpo-matriz - inclusive as más, as dolorosas, que haviam sido inconscientemente "esquecidas" por Kohei.
Por trás dessa ficção científica há, portanto, uma premissa comum a mais de um gênero: o acerto de contas com o passado. Falar mais da história seria não só estraga-surpresas, como improdutivo: nessa busca de viver (ou morrer) em paz consigo mesmo, Kohei e o seu clone (ou seus clones) trocam de lugar sem explicação. Não há lógica que explique o que se passa no filme, ainda que, até certo ponto, a trama tenha se fundamentado em uma ficção de fato científica.
Seja em sua porção lógica ou em seus flertes com o sobrenatural, o filme conserva os mesmos tiques de estilo: futuro kubrickianamente asséptico, interpretações minimalistas, planos longos de fumaça e paisagem bucólica. É uma constante nos filmes de astronauta encontrar protagonistas que escolhem o isolamento no espaço por sua incapacidade de lidar com a complexidade das relações humanas aqui em baixo - Solaris é o modelo imediato - e Nakajima não foge dessa tradição e a mistura ao típico filme de assombração japonês.
O problema é encontrar substância em meio a tantos maneirismos. Não se trata nem de pedir que o diretor opte logo por um dos gêneros, mas de entender se ele está criando algo ou só replicando uma fórmula de cinema metafísico. Na hora em que a fumaça de Kanji Nakajima baixa, o que sobra?
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Ano: 2008
País: Japão
Classificação: 14 anos
Duração: 110 min