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Curvas da Vida | Crítica

Clint Eastwood volta ao seu papel de bronco monossilábico em drama "republicano"

22.11.2012, às 18H32.
Atualizada em 01.11.2016, ÀS 18H04

Desde que fez Na Linha de Fogo em 1993, Clint Eastwood não estrelava um filme dirigido por outra pessoa. Ele usa suas boas relações com a Warner Bros. para conseguir que Robert Lorenz - ex-assistente de direção e parceiro de Eastwood na produtora Malpaso - estreie como diretor em Curvas da Vida(Trouble with the Curve), e ainda faz a cortesia de protagonizar o filme do amigo.

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Ainda assim, é difícil não ver em Curvas da Vida a assinatura de autor de Eastwood. O drama de beisebol sobre um velho olheiro que está ficando cego, escrito por Randy Brown, está em sintonia com a visão de mundo do ícone republicano (e piadista de convenções) Eastwood. Com seu elogio das coisas analógicas, um misto de nostalgia e convicção que passeia por ambientes de bares com charutos e carros musculares, Curvas da Vida é basicamente um anti-Moneyball.

Na trama, o olheiro Gus vivido por Eastwood não só está ficando cego como tem na nova geração, representada por Phillip Sanderson (Matthew Lillard), com suas planilhas e seus cálculos de risco, uma ameaça ao seu emprego no Atlanta Braves. A temporada está em curso e Gus viaja à Carolina do Norte para ter certeza de que o promissor rebatedor Bo Gentry (Joe Massingill) vale mesmo ser contratado. Como o chefe de Gus sente que algo está errado, ele pede que a filha do olheiro, a advogada workaholic Mickey (Amy Adams), acompanhe o pai.

A relação estremecida de pai e filha é o fio de um drama cujo desenrolar fica todo óbvio em diálogos e na mise-en-scène excessivamente expositivos. Do namoro fadado a terminar ("Somos amigos, advogados, no papel somos perfeitos um para o outro", diz o futuro ex-namorado de Mickey) à reviravolta final (que fica evidente desde o momento em que a câmera faz um plano-detalhe específico no hotel), tudo em Curvas da Vida obedece à previsibilidade das histórias edificantes. Até o título de duplo sentido do filme, "problema com a curva", Eastwood - que sempre esteve à vontade no viés cômico do seu papel de bronco monossilábico - explica textualmente.

Ironicamente, há diálogos banais entre os olheiros coadjuvantes que dizem mais sobre a lição que Eastwood está aplicando aqui do que as falas funcionais dos outros personagens. Há nesse grupo, também veteranos como Gus, um negro e dois outros brancos, e eles ficam discutindo cinema; o negro provoca os demais dizendo que Sammy Davis Jr. teria sido um Sundance Kid tão bom quanto Robert Redford, e que Ice Cube é melhor do que Robert De Niro porque sabe fazer rap. Por trás dessa provocação há um discurso de igualdade (social, racial) que está no centro da mensagem do filme.

O beisebol facilita essa mensagem porque é o esporte popular que melhor se encaixa na imagem dos EUA como uma terra da oportunidade, um lugar onde cubanos e japoneses, por exemplo, inimigos em tempos de guerra, prosperam por méritos individuais. Se Eastwood critica publicamente a tendência de Barack Obama ao assistencialismo - que é como os republicanos veem as políticas sociais do presidente - é porque o cineasta ainda acredita num Estados Unidos mítico, hollywoodiano, onde todo talento será notado e prestigiado, desde que o sistema não interfira.

Para quem conseguir relevar todo o didatismo, então, gostar ou não de Curvas da Vida vai depender muito da disposição de aderir ou não a essa visão de mundo, que, em tempos pós-crise de Wall Street, parece mais romântica do que nunca.

Curvas da Vida | Trailer

Curvas da Vida | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Regular
Curvas da Vida
Trouble With the Curve
Curvas da Vida
Trouble With the Curve

Ano: 2012

País: EUA

Classificação: 14 anos

Duração: 111 min

Direção: Robert Lorenz

Elenco: Clint Eastwood, Amy Adams, Justin Timberlake, John Goodman, Matthew Lillard, Joe Massingill, Robert Patrick, Ed Lauter, Chelcie Ross, Peter Hermann, Matt Bush, Scott Eastwood, Jay Galloway, Bob Gunton, Jack Gilpin, George Wyner, James Patrick Freetly, Norma Alvarez, Rus Blackwell, Raymond Anthony Thomas, Josh Warren, Seth Meriwether, Bart Hansard, Patricia French, Tom Nowicki, Julia Walters, Tyler Silva, Darren Le Gallo, Clayton Landey, Matthew Brady, Jackie Prucha, Ricky Muse, Tom Dreesen

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