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Deserto | Crítica

Longa usa clichês de terror para criar um ótimo drama de sobrevivência sobre imigração ilegal

01.11.2017, às 15H57.
Atualizada em 01.11.2017, ÀS 16H09

Imagine um filme de terror clássico, daqueles onde um grupo improvável de amigos é perseguido por um assassino lento porém mortal no melhor estilo Jason ou Michael Myers de Halloween. Agora, jogue um clima político em cima dele e o disfarce de drama que você terá o ótimo Deserto, primeiro longa dirigido por Jonás Cuarón, filho do vencedor do Oscar Alfonso Cuarón (Gravidade).

A produção acompanha Moisés (Gael García Bernal) e um grupo de pessoas que tentam atravessar a fronteira entre o México e os Estados Unidos. No caminho, porém, encontram um homem solitário (Jeffrey Dean Morgan) decidido a matar todos os imigrantes para proteger sua “casa”.

Todas as grandes características do terror estão presentes, mas são adaptados para um contexto maior e que reflete diretamente nas visões do diretor mexicano. Por conta do discurso polêmico do atual governo de Donald Trump contra imigrantes ilegais, as discussões sobre o assunto nunca estiveram tão acaloradas nos EUA. Por conta disso, grupos extremistas tem ganhado força, entre eles os Minutemen Project, um grupo fundado para “proteger” a fronteira com o México e que serviu de inspiração para o personagem de Dean Morgan – que é o grande destaque do filme.

O roteiro de Cuarón é inteligente e permite com que o ator use os clichês a seu favor. Seu personagem é lento, mas não precisa correr pois carrega consigo uma sniper e conta com seu cachorro de caça, Rastreador, para encontrar (e atacar) os imigrantes. Por isso, por mais que corram, parece que ele sempre está mais perto do que parece.

Esses clichês de terror são os grandes trunfos do filme – vale destacar também o excesso de sangue e o grupo de sobreviventes que é assassinado um a um -, mas quando a produção se permite expandi-los ele fica ainda maior, especialmente com Dean Morgan. O ator cria as camadas necessárias para entendermos as motivações que o levaram a se tornar um monstro, alguém que mata sem perdão aqueles que estão tentando cruzar a fronteira. Ele demonstra isso logo após atirar contra uma parte do grupo de mexicanos. Em uma reação completamente humana (que foge do assassino à sangue frio), ele é tomado pela adrenalina, se emociona e comemora os assassinatos dando pequenas pistas sobre o seu passado e os motivos que o levaram a fazer tudo isso. Sendo assim, conseguimos enxergar ali um homem quebrado que vai além do caçador. Nada do que ele faz é justificável, mas ele revela uma humanidade que normalmente é ignorada por outros filmes. 

Seu principal rival na história é Moisés, interpretado por Gael García Bernal. Seu personagem é construído como um herói clássico (ele ajuda a última pessoa do grupo, ele carrega feridos e rapidamente assume o posto de liderança dos sobreviventes) e funciona muito por conta do carisma do ator. Ele é guiado pela oportunidade de encontrar com seu filho, que vive nos EUA, e Bernal tenta equilibrar o desespero com o heroísmo do imigrante e cria um ótimo protagonista para o longa.

A fotografia mistura planos mais abertos que revelam a solidão dos sobreviventes no deserto americano e, ao mesmo tempo, explora cenas mais fechadas que exploram o desespero das pessoas em serem perseguidas por um assassino invisível. 

O único momento em que o filme perde força é justamente no duelo final entre Moisés e o atirador. Depois de uma voraz caçada, o duelo entre eles acontece em uma perseguição em volta de uma rocha no estilo Pernalonga vs Hortelino Troca-Letras. Os dois ficam andando em círculos até finalmente o mexicano conseguir dar o último grande golpe no atirador. O fim ficou apressado e o longa perdeu um pouco de sua força nesse momento.

Apesar disso, Deserto prova que os clichês, quando bem utilizados, ainda funcionam e torna-se um filme que agrada tanto fãs de terror, quanto fãs de drama. 

Nota do Crítico
Ótimo
Deserto
Desierto
Deserto
Desierto

Ano: 2015

País: México, França

Duração: 88 min

Direção: Jonás Cuarón

Roteiro: Jonás Cuarón

Elenco: Gael García Bernal, Jeffrey Dean Morgan, Diego Cataño, Marco Pérez

Onde assistir:
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