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O cineasta italiano Roberto Faenza (Jornada da alma) apresenta em Dias de abandono (I Giorni Dell’Abandono, 2005), seu mais recente filme, um melodrama sobre um assunto comum: um lar desfeito depois que o marido provedor troca sua esposa por outra mais jovem.
A mulher traída é Olga (Margherita Buy). Aos quarenta e poucos, ela segue sua vida feliz com esposo e filhos quando recebe a bombástica notícia: insatisfeito, o marido engenheiro tem um relacionamento com uma jovem e está deixando a casa para morar com a amante.
O filme acompanha a jornada de Olga nestes "dias de abandono", primeiro em busca da reforma da vida conjugal - ela quer perdoá-lo -, depois, pela superação do amor perdido e, por fim, na busca pela força de seguir com sua vida.
Acontece que Olga tem uma personalidade que cede à autopiedade e, com isso, coloca o sofrimento em primeiro plano, deixando para trás seus filhos, a casa e o trabalho. Dessa forma, torna-se uma personagem pela qual há pouco - ou nenhum - apreço, necessidade fundamental num drama como esse, em que se espera que o público torça com ela e se emocione em seu difícil caminho de volta à estabilidade emocional. Mas passa-se um ano na história, duas horas fora dela, e nada da mulher reagir. Fica a certeza que o italiano Faenza tem uma mentalidade um tanto retrógrada no que diz respeito à mulher moderna do grandes centros.
Alguma reação foi esboçada na sala de projeção apenas quando Olga resolve dar uns bofetes no ex e sua jovem esposa... mas nem isso soa correto, já que demora a acontecer e soa meio gratuito no momento em que acontece. Igualmente irritantes são as metáforas forçadas goela abaixo pelo diretor, como a historinha da "Poverela" que a mãe conta à filha e uma mendiga que acompanha o desenrolar da história, cuja importância não fica clara. Diabos, a mulher não reage nem quando o exótico vizinho cigano (Goran Bregovic, que também escreveu a boa trilha sonora do filme) entra na história.
Salva-se apenas a cena em que um lagarto entra em casa, emblemática da necessidade de um homem no lar, pois cadê o macho pra tirar o bicho? "O papai mataria ele", garantem os filhos. A mãe limita-se a espantá-lo com a vassoura. Eu disse "salva-se"? Pensando melhor, não se salva, não. Eu não chegaria nem perto de um lagarto daqueles. Aqui em casa as regras são claras: se o invasor tem coluna vertebral quem cuida é a mulher. Se não tem, mato eu. Dias de abandono devia se chamar Dias abandonados...
Ano: 2005
País: Itália
Classificação: 14 anos
Duração: 96 min