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Elis | Crítica

Filme sobre uma das principais vozes da música brasileira se perde ao tentar retratar todos os dramas da personagem

23.11.2016, às 16H29.
Atualizada em 15.02.2017, ÀS 18H08

Contar a história da música brasileira por meio do cinema está em voga há algum tempo. Depois de Cazuza - O Tempo Não Para, Tim Maia, Gonzaga: de Pai para Filho, e também a chegada dos musicais aos teatros do país, o diálogo - dentro dessa seara - entre o público do cinema e do teatro tem se tornado mais constante.

Logo, levar para os cinemas a versão de uma história que foi sucesso de público nos palcos, não parece um tiro no escuro. No entanto, o longa Elis, que chega nessa semana aos cinemas brasileiros sofre de um problema que assola grande parte da produção nacional: a vontade de não causar intriga.

Com uma linguagem visual de fácil assimilação, o longa nasce com as características que criaram alguns dos sucessos de bilheteria nacional: cara de TV, sem que haja a necessidade de apertar as feridas do personagem retratado. O longa apresenta nomes conhecidos da televisão, (Andréia Horta, como Elis Regina, Caco Ciocler, como César Camargo Mariano, Lúcio Mauro Filho, como Miéle, e Gustavo Machado, como Ronaldo Bôscoli) com atuações na medida. O ponto fora da curva fica por conta de Ícaro Silva, que em poucos minutos na tela, se confunde com seu personagem, Jair Rodrigues.

Hugo Prata, diretor da obra, destaca que foi opção dele mostrar os "dramas da personagem", "os demônios internos e externos", mas a falta de foco em quais são os principais dramas do período retratado - a chegada da jovem cantora ao Rio de Janeiro até a sua morte - deixa o formato da história fraco, sem nenhum momento capaz de exigir comprometimento máximo do público com o que está acontecendo.

A história de Elis, que não chegou a viver um período como artista livre, distante da ditadura, é regada de momentos dramáticos que, durante o longa, são pincelados, mas nunca com a profundidade que uma personagem desse porte precisa ou merece. Seus relacionamentos estão quase sempre em destaque, mas nunca atingimos o cerne da questão. Temos algumas perguntas, mas se a resposta for espinhosa, ela não está na tela.

Prata chegou a comentar que não teria graça mostrar só os sucessos da cantora na tela, "seria chover no molhado", mas falta chegar mais a fundo no retrato de alguém tão multifacetada como Elis. Até mesmo, se a ideia fosse apostar no poder musical da intérprete, o resultado poderia ser um filme mais potente.

A música que aparece em alguns momentos, gera impacto na audiência - afinal ouvir arranjos tão únicos na sala de cinema é sempre algo marcante - e para por ai. A estrutura do longa se perde no emaranhado de histórias e na tentativa de mostrar o drama dessa personagem cheia de dramas, mas sem ser capaz de gerar uma reflexão sobre isso. E claro, a escolha estética, com a cara de algo que tenta emular cinema em uma mistura perfeita para a TV, tira a assinatura de uma história que poderia ser poderosa em todos os seus pontos.

Por fim, na forma como o filme é apresentado, ele pode servir como porta de entrada para quem está em busca de conhecer um pouco mais de Elis e assim estimular a necessidade de que novas histórias - mais fortes e diretas, e até mesmo mais corajosas - possam ser apresentadas para uma audiência que busca de ser abraçada pelas nuances mais profundas e marcantes da música brasileira contemporânea.

Nota do Crítico
Bom
Elis (2015)
Elis (2015)

Ano: 2015

País: Brasil

Classificação: 14 anos

Duração: 110 min

Elenco: Andréia Horta

Onde assistir:
Oferecido por

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