|
||||
Que eu me lembre agora, o filme que me agrada - e muito - da carreira do cineasta John Boorman, é Esperança e Glória (Hope and Glory, 1987). Em discussões com amigos que não gostam de seu trabalho, nem esse filme escapa. Mas o recente Em minha Terra (Country of My Skull, 2004) me pareceu mais um gol contra do diretor. Conta o momento que sucedeu o fim do apartheid na África do Sul, com um enorme julgamento. Nele foi dada a possibilidade de anistia aos que se declarassem culpados das atrocidades cometidas durante o longo período de segregação racial. Porém, a ressalva: tais atos deveriam ter sido cometidos em decorrência de ordens superiores. A trama acompanha Langston Whitfield (Samuel L. Jackson), um jornalista do Washington Post enviado ao país para cobrir os julgamentos. Mas o cético Langston não acredita que esse processo resulte em bons frutos. Por outro lado, Anna Malan (Juliette Binoche), uma poetisa sul-africana que cobre as sessões para uma rádio, é uma entusiasta do processo com grandes esperanças em relação a seu país. Os dois se encontram e compartilham a experiência de ouvir os dolorosos testemunhos, algo o que os aproxima cada vez mais. O filme derrapa na insistência que a maioria dos diretores têm ao retratar a África, seus comportamentos e particularidades, de maneira pitoresca. Derrapa na atuação fraquíssima de Juliette Binoche, gente boa, linda, porém acertando cada vez menos na escolha de papéis. Derrapa, também, nos momentos que seriam os de emoção certa, tal a dramaticidade do assunto abordado, mas que acabam comprometidos por reações exageradas e fora do tom - nitidamente uma opção do diretor. Há uma surpresa no final, grande e importante, mas é somente uma em um filme obviamente careta.
Cid Nader é editor do cinequanon.art.br
Ano: 2004
País: África do Sul / Irlanda / Reino Unido
Classificação: LIVRE
Duração: 105 min
Direção: John Boorman
Elenco: Juliette Binoche, Samuel L. Jackson, Brendan Gleeson