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Crítica

Crítica: Eros

Eros

06.10.2005, às 00H00.
Atualizada em 09.11.2016, ÀS 10H00

Projeto que tem como tema o erotismo, o amor e o desejo, Eros (2004) é irregular, como todo longa-metragem dividido em curtas independentes. Mas isso não é problema. Aliás, ainda que fosse uma bomba, todo cinéfilo que se preza já tem anotado na agenda o horário da esperada sessão. Não é todo dia, afinal, que um único ingresso paga a chance de ver Wong Kar Wai, Steven Soderbergh e, principalmente, Michelangelo Antonioni.

Respeito

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Aos 93 anos de idade, completos no último dia 29, o diretor de A noite (1961) e Blow-up (1966) é o maior cineasta italiano vivo. Normal que a expectativa seja enorme - principalmente porque seu curta é o motivo da existência de todo o projeto (a música das vinhetas entre-curtas, cantada por Caetano Veloso, leva o nome do italiano) e porque Antonioni, depois do derrame que sofreu em 1995, não roda ficção há dez anos. E é normal também que o respeito se imponha diante de Il filo pericoloso delle cose (O perigoso encadeamento das coisas), o episódio que abre a trinca de Eros.

A trama foi extraída do livro de Antonioni That bowling alley on the Tiber: Tales of a director, reunião de contos de onde saíram também as historietas de Além das nuvens (1995). O estadunidense Christopher (Christopher Buchholz) discute com sua mulher, a italiana Cloe (Regina Nemni), enquanto eles passeiam pela natureza à beira-mar da Toscana. Cloe defende que o amor dos dois terminou. Christopher, sozinho, depois encontra no mesmo local uma garota diferente (Luisa Ranieri), com quem transa sem compromisso.

A tentativa de condensação acima junta peças que Antonioni não tenta explicar, nem concluir. Linearidade de tempo ou de espaço fazem falta se alguém espera uma narrativa tradicional. Na verdade, o curta não faz o menor sentido - mas é fácil reconhecer em algumas situações o toque do mestre, como na cena no restaurante em que Cloe, poética, rola uma taça no chão e a câmera se vira para uma mesa barulhenta ao lado. É o tema clássico de Antonioni: a incomunicabilidade entre homens e mulheres em meio a um mundo que não sabe mais ouvir o silêncio.

Descompromisso

No caso de Soderbergh, diretor que nos últimos cinco anos vive mais de sucessos comerciais (Doze homens e outro segredo, 2004) do que de esforços artísticos (Solaris, 2002), a baixa expectativa pode ajudar. Equilibrium é um curta que não apenas nega fórmulas como também foge um pouco da proposta do projeto. O desejo, aqui, se confunde com os sonhos, qualquer sonho.

Na Nova York de 1955, o publicitário Nick Penrose (Robert Downey Jr.) tenta reconstituir para seu psicanalista, Dr. Pearl (Alan Arkin), um sonho recorrente: Nick, uma cama, uma mulher que se levanta, se lava, se veste, vai embora, um jazz de batida meio latina, Nick abandonado num quarto desconhecido sem entender nada. O que será que isso significa?

O humor é a peça fundamental de Equilibrium. Com ele, o cineasta recusa toda a solenidade que estaria implícita na delimitação do tema. Nada de paixão eterna e sacrifício, como se verá em Kar Wai. Soderbergh aposta mais nos solavancos do inconsciente, nos anseios que aparecem e somem de repente, muitos deles banais - como a vontade de arrancar a peruca de um careca sem senso de ridículo. O descompromisso torna este o melhor dos três curtas.

Fetiche

De erotismo Kar Wai conhece. No caso, um erotismo localizado: o fetichismo das roupas, dos costumes e dos ambientes dos anos 50 e 60 em Hong Kong. Quem viu Amor à flor da pele (2000), o filme mais famoso do cineasta chinês, em que Maggie Cheung desfilava vestidos deslumbrantes, sabe bem o que é isso. Aqui, no curta chamado The hand, os figurinos são o próprio centro da trama.

O alfaiate Zhang (Chang Chen) está em início de carreira. Certa tarde quente, ele é chamado à casa da Srta. Hua (Gong Li), uma das cliente mais exigentes de seu patrão. A moça convocou-o para dizer que Zhang agora será o novo encarregado de confeccionar seus vestidos. "Quero que você cuide das roupas com a mesma paixão que sentirá agora", diz ela antes de meter a mão do título nas calças do cara.

Aí começa um acerto sem falhas. Srta. Hua, "acompanhante de luxo", a cada novo encontro precisa de roupas mais e mais chiques, compatíveis com o nível de seus fregueses. Zhang, apaixonado, vira um mestre do corte-e-costura. Essa relação platônica é clássica. E é fácil imaginar onde ela desembocará - talvez por isso The hand pareça o curta mais longo e arrastado.

Kar Wai tem a seu lado maquiagens de estilo que não são desprezíveis: deslize suave de câmera e preocupação total com detalhes cênicos, principalmente. O seu curta pode ser o melhor "apresentável", mas ele não filma o desejo masculino - o corpo da mulher - com a mesma honestidade de Antonioni. Este, aos 93 anos, continua sendo um apaixonado por atrizes. Kar Wai e sua coisificação de Gong Li envelhecem rápido.

Nota do Crítico
Bom
Eros
Eros
Eros
Eros

Ano: 2004

País: EUA/Itália/França/Hong Kong/ China/Inglaterra/Luxemburgo

Classificação: 16 anos

Duração: 104 min

Direção: Michelangelo Antonioni, Steven Soderbergh, Kar Wai Wong

Elenco: Robert Downey Jr., Alan Arkin

Onde assistir:
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