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Tarefa difícil esta de criticar Eu, você e todos nós (Me and You and Everyone We Know, 2005), a estréia da artista plástica Miranda July no cinema.
Como transmitir as sensações, as urgências que o filme tão competentemente desperta ao final de sua projeção? Como explicar a sensibilidade artística de uma nova e empolgante cineasta, dona de uma visão extremamente particular e verdadeira sobre a vida? Como sequer falar do longa sem arruinar com palavras as cuidadosas e maravilhosas surpresas que o filme esconde?
Tarefa difícil, sem dúvida. Mas nem um pouco ingrata.
A vídeo-artista Miranda July, conhecida também por suas instalações e apresentações performáticas, já deixou sua marca em museus de arte moderna pelos Estados Unidos. Agora chega à sétima arte com um filme independente arrebatador. Criadora escolada, ela sabe como sugerir situações sem efetivamente explicá-las. Cabe ao espectador extrair suas próprias idéias a respeito do que viu. Dessa forma, os 90 minutos da duração da fita se transformam em dias, com a história e suas situações ecoando na digestão contemplativa e solitária que July exige do público.
Para o tema de sua delicada estréia cinematográfica a artista escolheu as relações humanas numa época solitária em que o digital e o artificial interferem em nome da praticidade.
A história acompanha Richard (John Hawkes, excelente), um homem em processo de divórcio tentando minimizar o impacto da separação para seus filhos e ele próprio. Ele ainda ama sua ex-mulher, com quem divide a custódia de seus dois filhos, o adolescente Peter (Miles Thompson) e o menino de seis anos Robby (Brandon Ratcliff, um achado). A outra protagonista é Christine (a própria Miranda July), uma artista plástica tentando ser notada na profissão enquanto tenta encontrar um amor. Miranda e Richard se encontram e há química entre eles, mas ambos não estão na mesma sintonia em termos de momento de vida. Barreiras surgem e devem ser derrubadas.
Mas o filme não se limita à dupla principal. Todo o excepcional elenco é importantíssimo para as pequenas - porém significativas e poéticas - cenas que registram momentos às vezes até banais, mas que fazem enorme sentido quando enfileirados. Elas representam diversas matizes do relacionamento humano de forma bastante otimista e descontraída, deixando um agridoce sabor residual ao final.
Todavia, para desfrutar plenamente de tal obra, vale a mensagem extraída do próprio filme. Em determinado momento, Richard diz "eu estou pronto para que algo extraordinário me aconteça". Pois esteja pronto para que Eu, você e todos nós te aconteça.
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Ano: 2005
País: EUA, Inglaterra
Classificação: 16 anos
Duração: 90 min