Filho da Mãe não é o epitáfio, mas sim o bis de Paulo Gustavo

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Crítica

Filho da Mãe não é o epitáfio, mas sim o bis de Paulo Gustavo

Novo documentário do Prime Video é um registro sentimental de um dos maiores comediantes do Brasil - e que nos deixou muito cedo

Omelete
4 min de leitura
16.12.2022, às 06H00.
Atualizada em 16.12.2022, ÀS 11H22

Uma das maiores qualidades de um bom comediante, de um bom humorista, é o poder da observação. É com o olhar no corriqueiro que se encontram as melhores piadas: aquelas sacadas dos dia a dia, com as quais todos nós nos identificamos. Paulo Gustavo foi, sem dúvida alguma, alguém que levou essa característica ao seu extremo. Observando a própria mãe e ao seu redor, nos brindou com um verdadeiro fenômeno teatral e, depois, cinematográfico: Minha Mãe é uma Peça.

Infelizmente, o ator, humorista, produtor e roteirista morreu em maio de 2021. Ao mesmo tempo, nos deixou órfãos da dona Hermínia, uma personagem que, com o seu amor, havia adotado todos nós do jeitinho que somos: imperfeitos. Porém, há ainda um último ato desse espetáculo. Um bis. 

Estreia no Prime Video nesta sexta (16) o documentário Filho da Mãe. Originalmente concebido para ser um simples registro dos bastidores e o making of da peça homônima, a produção acabou se transformando em um relato único e em uma grande homenagem a Paulo Gustavo.

A maior parte do filme foi feita ainda em 2019, quando o comediante teve uma sacada genial: sair pelo Brasil ao lado da própria mãe, Déa Lúcia - alguém também incrivelmente cheia de talento e batalhadora, que cantou na noite para poder criar duas crianças. E com um humor afiado que passou para o filho junto com o seu DNA.

Assim o mundo teria a sorte de conhecer a pessoa que inspirou a dona Hermínia rindo em primeira mão com suas ótimas tiradas ao lado do filho.

Dessa forma, com uma perspectiva íntima e sem intermediários, vemos como Paulo Gustavo era no dia a dia. Com o seu olhar, transformava o cotidiano em humor ácido, com as principais piadas rapidamente incorporadas ao espetáculo. É um privilégio único: acompanhar o humor nascendo, de camarote. 

Porém, quis o destino que mais um making of de uma carreira brilhante se transformasse em algo a mais. Dessa forma, a diretora (e amiga de Paulo Gustavo) Susana Garcia incorpora aos poucos o seu toque ao documentário da Amazon, adicionando ao olhar nostálgico não só as entrevistas dos mais próximos, mas também a trajetória profissional do agora biografado.

A união é perfeita. Afinal, Gustavo é muito mais do que a dona Hermínia, mas foi a personagem que, inegavelmente, o alçou ao estrelato - e ver a sua ascensão se misturar a uma homenagem à verdadeira mãe do ator cria um curioso sentimento de ciclo que nunca se finda, mas que continua para sempre se alimentando. 

Susana Garcia também não cai no (até esperado) erro de endeusar o velho amigo. Vemos um Paulo Gustavo real, com seus medos, preocupações, inseguranças, dificuldades… A diferença, mesmo, é que ele de alguma forma usava o riso para ressignificar esses momentos. Não é como se o ator os escondesse, mas ele usava o humor para se escancarar ao ridículo, causando a risada junto da reflexão. 

A primeira mudança de tom em Filho da Mãe é quando Paulo Gustavo e o marido, Thales Bretas, revelam que vão ser pais. Uma explosão de alegria. O segundo, pouco depois, é a chegada da Covid-19. Espetáculos parados, isolamento, medo, tristeza. 

Aqui acabam as gravações do making of original, mas o filme traz outros registros - vídeos do acervo pessoal da família, posts em redes sociais e entrevistas - que dão uma outra dimensão para o biografado: alguém com coração enorme, que transformava esse sentimento em preocupação. Que vai atrás dos companheiros de palco vistos na primeira parte do filme, enviando ajuda e dinheiro.

A dona Hermínia era mais do que uma personagem, ou uma homenagem à mãe: era o sentimento materno de seu próprio intérprete. 

A trajetória de Paulo Gustavo entre nós acabou em 4 de maio de 2021, exatos 15 anos da estreia de Minha Mãe é uma Peça nos palcos. Por 15 anos, tivemos o privilégio de acompanhar esse espetáculo. Porém, como o final de Filho da Mãe deixa claro, a apresentação não acabou. Paulo Gustavo continua vivo na obra que deixou, neste documentário e naquilo que fez para os outros - seja diretamente ou por meio do amor de dona Hermínia.

Até porque não faltam histórias de pessoas, de famílias, tocadas pela peça ou pelos três filmes da franquia cinematográfica. Ou na Lei Paulo Gustavo, que pretende incentivar a produção cultural no nosso país.

E tudo isso começou com a observação e o olhar mais puro que alguém pode ter, aquele que é o primeiro de nossas vidas: o de um filho, ou filha, para a própria mãe.  

Nota do Crítico
Ótimo
Filho da Mãe
Filho da Mãe

Ano: 2022

País: Brasil

Direção: Susana Garcia

Onde assistir:
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