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Filhos da Esperança | Crítica

Filhos da esperança

07.12.2006, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H21

Filhos da esperança
Children of Men
EUA/Inglaterra, 2006
Ficção/Drama - 109 min

Direção: Alfonso Cuarón
Roteiro
: Alfonso Cuarón e Timothy J. Sexton, baseado em livro de P.D. James

Elenco: Clive Owen, Julianne Moore, Michael Caine, Chiwetel Ejiofor, Charlie Hunnam, Claire-Hope Ashitey, Pam Ferris, Danny Huston, Peter Mullan, Oana Pellea, Paul Sharma, Jacek Koman

Que me perdoem os clipeiros, eisensteinianos, pós-modernos e adeptos da montagem em geral, mas há poucas coisas no cinema tão fascinantes - e eficientes - quanto um bom plano-sequência.

Filhos da Esperança (Children of Men, 2006) é o filme mais ambicioso do cineasta mexicano Alfonso Cuarón não apenas por sua temática futurista-globalizada, mas também por suas escolhas técnicas. Rodar grandes cenas de guerra com armamento pesado, explosões e correria já é difícil com várias câmeras. Imagine então com um único ponto-de-vista registrado em um só take longo e sem cortes. Há pelo menos dois planos-sequência no filme, em plena ação, a tocaia na estrada e a quase-execução depois de Bexhill, que pagam o ingresso.

A história se passa na Inglaterra, 2027. Já faz 18 anos que a humanidade se tornou infértil. A incapacidade reprodutiva provoca mais caos social, já agudo com o problema dos imigrantes, da fome e das doenças. Tudo piora quando a pessoa mais jovem da Terra falece. O ex-ativista e hoje burocrata Theo (Clive Owen) não consegue chorar a perda. Pelo contrário, consegue dispensa do trabalho alegando falsamente o peso do luto. Theo parece resignado - algo lhe falta, como na alma de todo herói. Quando uma menina negra se descobre grávida, e vira a pessoa mais perseguida do mundo, ele se vê impelido a protegê-la.

O esforço maior de Cuarón é tornar a cenografia de 2027 ao mesmo tempo apocalíptica e próxima de nós. Daí a escolha pelos planos longos, maneira de captar o espaço, mensurá-lo melhor, sem deixar escapar um detalhe, que seja uma placa de rua vista de relance. É o olhar absorto de Theo, virando-se de um lado ao outro muitas vezes sem acreditar no que vê, que nós acompanhamos, ainda que muitas vezes em terceira-pessoa. E a visão do mundo que o mexicano nos oferece através do personagem é angustiante - especialmente porque há muito nela que já acontece hoje em dia.

Mães árabes chorando a perda dos filhos, famílias do Leste da Europa mendigando comida em Londres, fotos e flores para os ídolos mortos, vacas queimadas para barrar epidemias, gente mais afeita a cães e gatos de estimação do que a contato humano de verdade. No fundo, o que há de novidade nessa ficção científica é a inexplicada premissa biológica - de resto, o futuro já chegou.

Há sempre a esperança, claro, como a própria tradução do título diz, e no filme essa luz tem muito de subtexto religioso (Theo fica sabendo da gravidez numa espécie de manjedoura) e muito de utopia cafona (a nau da salvação se chamar Amanhã é de um simbolismo dos mais piegas). A procura por respostas pontuais a dilemas tão vastos tende a ser problemática. Como em E sua Mãe também, Cuarón é bom em diagnósticos, não em soluções. E o que de melhor ele oferece em Filhos da Esperança é a sua percepção do mundo atual. Mais do que com estilo, ele nos filma com atenção.

Nota do Crítico
Ótimo
Filhos da Esperança
Children of Men
Filhos da Esperança
Children of Men

Ano: 2006

País: Inglaterra, Canadá, EUA

Classificação: 14 anos

Duração: 109 min

Direção: Alfonso Cuarón

Elenco: Clive Owen, Michael Caine, Julianne Moore, Charlie Hunnam, Chiwetel Ejiofor, Clare-Hope Ashitey, Danny Huston, Peter Mullan, Juan Gabriel Yacuzzi, Mishal Husain, Rob Curling, Maria McErlane, Michael Haughey, Paul Sharma, Tehmina Sunny, Michael Klesic, Ilario Bisi-Pedro, Caroline Lena Olsson, Dhaffer L'Abidine

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