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Crítica

Holy Motors | Crítica

A indústria do cinema enquanto arte do contorcionismo

04.10.2012, às 12H37.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

O diretor francês Leos Carax, que tem as mesmas iniciais de Lewis Carroll e não rodava um longa-metragem desde Pola X (1999), tira o atraso com vigor em Holy Motors.

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O filme começa com o próprio Carax em cena, saindo da cama e caminhando até um dos lados do quarto, onde um papel de parede com a ilustração de uma floresta pega o enquadramento inteiro. De pijama, Carax enfia o dedo médio num buraco. Vemos que o dedo - com um extensor metálico que o deixa mais fálico e mais robótico - serve de chave, e a porta que se abre dá em um cinema.

Como a Alice de Carroll em Através do Espelho, a primeira imagem que temos do filme dentro do filme é a de uma menina duplicada pelo vidro de uma janela. Ela se despede de seu pai (vivido por Denis Lavant, contorcionista e gênio), que entra em uma limusine branca em direção a Paris. Digamos apenas que ele passará o filme inteiro cumprindo compromissos - e que, assim como em Cosmópolis, os homens e as suas limusines brancas mantêm um acordo surreal de transfiguração.

Ao contrário de Cosmópolis, porém, que foi rodado em Toronto e cria uma Nova York deslocada no tempo e no espaço, Holy Motors é um filme que, ao longo de um dia, cobre Paris dos subterrâneos ao alto dos edifícios. Um duende transita pelos esgotos (o mesmo que estrelava o curta de Carax na antologia Tokyo!) e um casal se reencontra no alto da velha loja de departamentos La Samaritaine, com o par de torres da Notre Dame ao fundo, na paisagem. Daria pra dizer que Holy Motors é um filme apaixonado por Paris, enfim, se antes disso não fosse apaixonado pelo próprio ato de filmar.

Essas duas coisas sempre se confundiram, de qualquer forma (Paris é tão Cidade dos Sonhos quanto Los Angeles), e outra paixão do cinema francês que o diretor revisita é pela produção de gênero. Há em Holy Motors musical, ficção científica (lápides no cemitério dizendo "visite meu site" são distopia pura), ação com captura de movimento e tramas de assassinato. Embora a "máquina santa" de fazer cinema de massa seja sempre a mesma, cada um desses gêneros tem seus mistérios, e é nisso que Carax está interessado.

Entrar em mais detalhes só tiraria um pouco a graça de descobrir o filme. A certa altura, o protagonista resume: só a "beleza do gesto" importa. A frase dispensa mais explicações e aí Holy Motors revela-se por inteiro, um exercício coreográfico que exige entrega mas é absolutamente descomplicado na sua criação de um país das maravilhas onde pode-se viver muitas vidas, dia após dia, filme após filme.

Holy Motors | Trailer

Nota do Crítico
Ótimo
Holy Motors
Holy Motors
Holy Motors
Holy Motors

Ano: 2012

País: França, Alemanha

Classificação: 14 anos

Duração: 115 min

Direção: Leos Carax

Roteiro: Leos Carax

Elenco: Eva Mendes, Kylie Minogue, Michel Piccoli, Édith Scob, Denis Lavant, Jean-François Balmer, François Rimbau, Karl Hoffmeister, Big John, Elise Lhomeau, Jeanne Disson, Leos Carax, Nastya Golubeva Carax, Reda Oumouzoune, Zlata, Geoffrey Carey, Annabelle Dexter-Jones, Elise Caron, Corinne Yam

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