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Crítica

Noiva e Preconceito | Crítica

<i>Noiva e preconceito</i> - Mostra de SP

26.09.2005, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H18

Noiva e preconceito
Bride and Prejudice
EUA/Inglaterra, 2004
Musical - 107 min

Direção: Joe Wright
Roteiro:
Paul Mayeda Berges

Elenco: Martin Henderson, Aishwarya Rai, Naveen Andrews, Nitin Ganatra, Anupam Kher, Nadira Babbar, Alexis Bledel, Ashanti

Transportar um clássico da literatura inglesa, como Orgulho e Preconceito (Pride and Prejudice), da escritora Jane Austen, para o cinema indiano parece uma tarefa que tem tudo para dar errado. Principalmente se a produção for feita no estilo de Bollywood, o famoso mercado de filmes feitos na Índia que se inspira nos musicais dos anos dourados de Hollywood. Vale ressaltar ainda que a escola indiana de cinema, não só nesse estilo em particular, é a que mais faz filmes por ano.

Bem, feitas as devidas as apresentações, Noiva e preconceito (Bride & prejudice, 2004) transporta o livro de Austen para cidade de Amritsar, na Índia. A Sra. Bakshi luta para encontrar bons partidos para suas quatro lindas filhas, mas tudo vai por água abaixo quando Lalita, a segunda mais velha, decide ela mesma escolher seu noivo. Do encontro com o magnata norte-americano Will Darcy, surge uma relação de amor e ódio. Lalita fica furiosa com o preconceito e a falta de respeito que Will demonstra em relação à Índia, enquanto ele fica exasperado com as reclamações da moça, que o considera um norte-americano mimado. Em meio a tantos atritos, nasce uma atração irresistível.

Com uma sinopse dessas, os não apreciadores de dramas de época, podem querer fugir de uma adaptação musical, principalmente uma feita no estilo Bollywood. Até porque a clássica história já foi adaptada com competência inúmeras vezes e novos projetos anunciados também beberão da mesma fonte. Mas a diretora Gurinder Chadha faz diferente. Ela prefere o caminho da esculhambação e não deixa pedra sobre pedra. Todos os clichês possíveis são usados infamemente. A comédia é tão bizarra que arrancaria gargalhadas até dos pitboys fãs de fitas de ação.

A cada momento entra uma música em que todos em cena começam a dançar e cantar. Tudo extremamente colorido, parecendo um desfile de escola de samba. Chadha avacalha com os costumes de seu próprio país e também com as tradições do mundo ocidental. Indianos mal encarados, que seriam facilmente confundidos com terroristas muçulmanos, de repente se transformam em bailarinos rebolativos e sorridentes. Gordos, magrelos, esquisitos, bonitos... todos entram na dança. Alguns são travestidos de mulher, provocando histeria nos espectadores. Pode-se dizer que o longa-metragem de Chadha é uma espécie de Casamento Grego depois do ácido.

Imaginem Lalita e Darcy numa praia ensolarada nos EUA cantando durante um musical romântico. Eles caminham na areia e, de repente, aparece um grupo de negros fazendo os backing vocals. Junto deles uma porção de surfistas cantam e usam suas pranchas na coreografia. Acabou? Não! A loucura se completa quando clones de Carmen Electra e David Hasselhoff também surgem do nada com o figurino (inclusive a bóia vermelha) de Baywatch e também participam alegremente da cena.

O elenco é um show à parte. Os personagens são caricatos e parecem nunca terem freqüentado uma aula de interpretação. O brilhante Hrundi Bakshi, personagem indiano de Peter Sellers em Um Convidado bem Trapalhão, é muito mais inteligente que qualquer figura dramática do filme de Chadha. Lalita é uma versão indiana da nossa Juliana Paes, mais bonita, porém menos apetitosa. Pelo menos no quesito enfeite as duas são bastante semelhantes. A mãe de Lalita parece um clone do nosso saudoso Zacarias. Vale ressaltar que o trapalhão tinha mais talento. Darcy é o próprio Ken, o ex da Barbie, insosso e sem a menor noção do significado da palavra interpretação. O mais divertido é ver Naveen Andrews, o Sayid do seriado Lost, participando dessa excentricidade fílmica como Balraj, amigo de Darcy. Depois de 30 minutos, ele pega um avião e some. É impossível não vir à mente que deve ter sido o vôo 815 da Oceanic. É bem melhor estar perdido e enfrentando os perigos na Ilha do seriado do que encarando estes números musicais.

Tudo é tão horrivelmente mal feito que é impossível não entrar no clima do filme. O mais irônico é que a diretora Gurinder Chadha fez isso tudo de propósito. Durante os créditos finais podemos ver como membros e equipe técnica se divertiram fazendo o filme. Os atores foram escolhidos a dedo justamente por suas limitações, tirando alguns casos como a participação especial de Marsha Mason como a mãe de Darcy e do próprio Andrews. Para embarcar na "viagem" proposta por Chadha não se necessita de estimulantes, mas mente aberta e preconceito zero.

Nota do Crítico
Bom
Noiva e Preconceito
Bride & Prejudice
Noiva e Preconceito
Bride & Prejudice

Ano: 2004

País: Índia, EUA, Inglaterra

Classificação: 12 anos

Duração: 122 min

Elenco: Martin Henderson, Aishwarya Rai Bachchan, Anupam Kher, Naveen Andrews, Daniel Gillies, Indira Varma, Alexis Bledel, Marsha Mason

Onde assistir:
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