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Por um Triz | Crítica

<i>Por um triz</i>

04.03.2004, às 00H00.
Atualizada em 14.11.2016, ÀS 01H07

Por um triz
Out of time

EUA, 2003 - 114 min.
Policial

Direção: Carl Franklin
Roteiro: David Collard

Elenco: Denzel Washington, Eva Mendes, Sanaa Lathan, Dean Cain, John Billingsley, Robert Baker e Nora Dunn.

Depois de Don Johnson e David Caruso, chega a vez de Denzel Washington envergar a camisa florida. Por um triz (Out of time, 2003) não tem os flamingos ou as vinhetas oitentistas de Miami Vice, nem os detalhes sórdidos de C.S.I Miami, mas honra a tradição dos cálidos mistérios policiais que fazem a fama da Flórida.

E levantar comparações pode ser um caminho seguro para explicar o filme. Isso porque não há nada ali verdadeiramente original, e sim uma colagem eficiente de elementos de sucesso. O roteirista estreante David Collard e o diretor Carl Franklin pegam emprestado um naco das tramóias de O Fugitivo (The fugitive, de Andrew Davis, 1993), misturam com o triângulo amoroso de Sem saída (No way out, de Roger Donaldson, 1987), adicionam as obrigatórias reviravoltas e servem, sem grandes tropeços, um bom passatempo.

Isso se deve, também, à boa disposição de Denzel. Ele vive Matt Whitlock, delegado da pequena Banyan Key, que se envolve com a esposa (Sanaa Lathan) do cafajeste Chris Harrison (o Superman da TV, Dean Cain). Vítima terminal de um câncer, ela tem pouco tempo de vida - e passa os benefícios do seu seguro para Matt. Acontece que um incêndio supostamente mata marido e mulher. As suspeitas, claro, caem sobre o amante. O delegado, assim, passa boa parte do filme atrapalhando as investigações oficiais - capitaneadas pela detetive Alex (Eva Mendes), sua ex-mulher -, enquanto ele próprio procura sair daquela cilada.

Longe dos pesados dramas moralistas que marcam a sua carreira desde o Oscar de 2002, Denzel deixa-se impregnar pela maresia e oferece uma atuação sem afetações, com certo desprendimento, conduzida em agradável banho-maria. Não é coisa pouca. Graças ao seu carisma, Denzel constrói uma relação na qual o espectador se solidariza com o personagem - ponto primordial para o sucesso de um roteiro de herói-perseguido-tentando-provar-inocência.

Contraponto exuberante para a hegemonia do astro, Eva Mendes não se intimida diante do ator que ganhou o Oscar por Dia de Treinamento. Pelo contrário, se sobressai num cenário naturalmente sexy. Mas não bastam as belas imagens e os bons personagens. É preciso clima. Entra aqui uma valorosa lição tomada de Sem saída: aproveitar ao máximo o ambiente claustrofóbico onde transcorre a investigação - no filme de 1987, o Pentágono; aqui, a pequena delegacia de Matt - para criar uma atmosfera insustentável de pequenos desastres que explodem ao redor do suspeito.

O suspense de Por um triz perde força quando se afasta desse epicentro, e também quando se aproxima do seu óbvio desfecho. Mas nada que prejudique o conjunto. Para ficar perfeito, mesmo, só faltaram as perseguições de hovercraft pelos pântanos e os crocodilos abocanhando o vilão.

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