Para parte do público, dizer que um filme é brasileiro é praticamente um sinônimo de falta de qualidade, seja uma produção de ação, comédia ou drama. Porém, esse conceito tem potencial para mudar um pouco com Lino - Uma Aventura de Sete Vidas, animação produzida totalmente em território nacional, que entrega uma história divertida para as crianças, sem deixar de lado uma mensagem bonita para os adultos.
A trama é sobre Lino (Selton Mello), um jovem que se considera muito azarado e trabalha como animador de festas infantis vestido de gato. Um dia, ele procura a ajuda do “mago” Don Leon para resolver os problemas e, ao fazer um encantamento errado, se transforma na fantasia que tanto odeia e começa a ser perseguido pela cidade.
É uma premissa simples, sem dúvidas, mas o charme do filme está no carisma de seus personagens, resultado da parceria entre uma boa animação e a competência de seus dubladores. Encabeçando essa lista está Selton Mello, que consegue passar ao público as inseguranças de Lino, junto com suas mudanças ao longo da trama e o personagem que ele se torna ao final da jornada. São detalhes sutis na voz, mas que fazem muito pela personalidade do protagonista.
Outro bom exemplo de dublagem é Luiz Carlos de Moraes, conhecido pela voz de Peter Griffin em Uma Família da Pesada, que interpreta Don Leon. Interessado em ajudar Lino depois de ver que uma de suas magias “funcionou”, Leon é o personagem que faz a história andar, acrescenta novos elementos, como uma escola de magia, e serve como um bom alívio cômico.
O roteiro, escrito pelo também diretor Rafael Ribas, conta com várias referências à cultura pop, como Harry Potter, He-Man e a música do Aqua, "Barbie Girl". Apesar de parecerem óbvios em um primeiro momento, esses elementos dão um ar moderno que cai bem na produção. A animação também acerta na introdução dos coadjuvantes, como a criança Pestinha, que se mostra importante no amadurecimento de Lino; a policial Janine e o vilão Vitor. Todos têm uma função clara na trama e conseguimos entender suas motivações com poucas cenas. Em sua jornada, o protagonista passa por vários locais da cidade, conhece personagens e situações diferentes e isso cria um dinamismo que deixa o filme gostoso de assistir.
No último ato, a resolução se torna mais do que Lino apenas voltar ao seu estado humano e discute a visão de vida pessimista que o personagem tinha mesmo antes de tudo isso acontecer. Ao dar esse passo além, o filme surpreende com uma mensagem que é bonita, verdadeira e não tão óbvia.
Apesar de tudo, a produção peca bastante em dois pontos: a trilha sonora genérica, que poderia ter mais personalidade e um tema recorrente para os personagens; e a introdução de mais piadas. O longa faz o espectador rir várias vezes, mas poderia ter apostado um pouco mais nisso para ficar na medida certa.
Lino não é um filme que reinventa as animações, ou cria vários elementos inéditos, mas sua trama se desenvolve de forma interessante, com personagens cativantes, e o resultado é uma produção com potencial para agradar o público de várias faixas etárias.
Ano: 2016
País: Brasil
Classificação: LIVRE
Duração: 93 min
Direção: Rafael Ribas
Roteiro: Rafael Ribas
Elenco: Selton Mello, Paolla Oliveira, Dira Paes
