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Crítica

Mãe Só Há Uma | Crítica

Depois de Que Horas Ela Volta?, Anna Muylaert faz variação do tema da questão de classes

21.07.2016, às 13H04.

Embora diga em entrevistas que não se deve esperar de Mãe Só Há Uma (2016) uma repetição do filme que a tornou conhecida no circuito internacional, Que Horas Ela Volta? (2015), a roteirista e diretora Anna Muylaert refaz no seu novo longa-metragem a mesma aposta no atrito de classes, a título de provocação, que gerou tanta comoção com o público no ano passado. É um atrito, ademais, que hoje permeia todo tipo de discussão na sociedade brasileira e nas polarizações que têm se espalhado pelo mundo ocidental em tempos de Brexit e Donald Trump.

A trama se inspira livremente no Caso Pedrinho, ocorrido em 1986, quando um bebê roubado da maternidade foi criado por outra família até sua adolescência. No filme, Pierre (Naomi Nero) é um jovem belo de perfil andrógino que gosta de meninos e de meninas. Em casa, ele se veste de mulher escondido no banheiro, mas quando está entre outros adolescentes não se intimida a demonstrar suas preferências. Quando sua mãe vai presa por tê-lo sequestrado, Pierre então se muda para a casa de classe média alta de sua família biológica, e a inadequação passa a se tornar um problema.

Muylaert, diretora que nas suas comédias de costumes sempre teve uma tendência a caricaturizar tipos urbanos e de classe média, tem a sensibilidade de não vilanizar um dos lados em Mãe Só Há Uma. Se os pais biológicos de Pierre parecem intransigentes nas escolhas que fazem para o filho - a cineasta diz que a nossa classe alta tende a ser mais conservadora, uma afirmação que não é tão simples de fazer mas que está inscrita no filme dessa forma - é porque, instintivamente, precisam "tirá-lo" da mãe anterior e então tornar Pierre "seu". A questão da sexualidade do menino traz consigo essas outras cargas, de uma vida passada, e o filme consegue trabalhar com elas de forma concisa sem ser literal demais ou superficial.

Ainda assim, o motor do filme é o atrito de classes. A questão sexual fica condicionada a ela a partir da metade do filme. Os momentos mais fortes de Mãe Só Há Uma se parecem com os pontos fortes também de Que Horas Ela Volta?: o mal estar de dividir um espaço privado cheio de privilégios, de onde surge um jogo de poder que já está entranhado em nós, e que só enxergamos quando espelhado na tela. É a cena do portão do condomínio ou a do recreio do "novo" irmão de Pierre, por exemplo, imagens mais fortes de um filme que está em busca de uma liberdade no convívio que desfaça esses nós que nos engasgam.

Nota do Crítico
Bom
Mãe Só Há Uma
Mãe Só Há Uma

Ano: 2016

Duração: 82 min

Direção: Anna Muylaert

Roteiro: Anna Muylaert

Elenco: Matheus Nachtergaele

Onde assistir:
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