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Se a imagem que você tem da cultura pop italiana dos dias de hoje é a de um cantor grisalho se fazendo de jovem num terno Armani, cantando clichês de amor com uma rosa na mão num programa de auditório cheio de luzes de néon, bem, então você já sabe o que esperar de Manual do amor (Manuale damore, 2005).
A comédia romântica do diretor toscano Giovanni Veronesi, menos engraçada do que melosa, não tem Eros Ramazzotti nem Alessandro Safina (aquele da novela O Clone, lembra?...) na trilha sonora, mas isso não muda muita coisa. O espírito é o mesmo - um jeito de tratar as coisas do amor com perfumarias, suspiros, muita narração em off, muita música invasiva e doses bovinas de cafonice.
Quatro são as histórias do filme, representando fases de um relacionamento - a paixão, a crise, a traição e o abandono. Na primeira delas, o parvo Tommaso (Silvio Muccino) se enamora, à primeira vista, de uma moça que mal conhece. Giulia (Jasmine Trinca) já não sabe o que fazer para que ele pare de persegui-la. O constrangimento chega a tal ponto que ela acaba aceitando sair com Tommaso. Capítulo em que o dispensável fluxo de consciência em voz alta dos personagens mais torna a narrativa redudante, o primeiro trecho dá a Manual do amor um começo não muito notável.
No segundo, o casamento de Marco (Sergio Rubini) e Barbara (Margherita Buy) passa por dificuldades. Ele não dá atenção aos pedidos dela; quando ouve, diz que não serão bobagens como um curso de dança que salvarão a vida dos dois. A situação fica insustentável - até que, numa visita a um casal que acabou de ter um filho, Barbara sugere a Marco que tenham um também. Menção especial: a dança do acasalamento na ilha paradisíaca. Fica difícil saber se Veronesi recorre ao brega de propósito ou se ele acredita mesmo naquele balé vexatório como símbolo de atração e cumplicidade.
A parte da traição mostra como Gabriele (Dino Abbrescia), marido devotado e inofensivo da policial Ornella (Luciana Littizzetto), se revela um adúltero deslavado. A mulher não apenas o abandona como descarrega nos motoristas de trânsito - especialmente os homens - toda a sua ira de esposa traída. Acontece que Ornella tinha seus desejos escondidos também. Tirando o desfecho sexista, é até possível rir com o histrionismo de Luciana Littizzetto, especialmente a esta altura do filme, em que a os decibéis já não incomodam tanto os ouvidos anestesiados.
Por fim, o abandono (no saldo geral, Veronesi não tem uma visão muito otimista da coisa...). O esforçado Carlo Verdone interpreta Goffredo, pediatra que não consegue superar a separação de sua ex-esposa. Ele acaba aprendendo que dava atenção demais aos seus pacientes mirins enquanto, em casa, não era capaz de gerir uma família - mas até esta conclusão o sofrimento de Goffredo se estende. Em meio a mais um pouco de pastelão e de humor em alto volume, o último episódio se mostra o mais sereno. Chega tarde.
Com um pouco de boa vontade é possível versar sobre a obsessão que o diretor tem por cães, telefones celulares e pontos turísticos de Roma. Fora isso, Manual do amor não passa de cartilha descartável, overdose de pieguice. Só faltou a Laura Pausini.
Ano: 2005
País: Itália
Classificação: LIVRE
Duração: 110 min
Direção: Giovanni Veronesi
Roteiro: Vincenzo Cerami
Elenco: Carlo Verdone, Luciana Littizzetto, Silvio Muccino, Sergio Rubini, Margherita Buy, Jasmine Trinca, Rodolfo Corsato, Dino Abbrescia, Dario Bandiera, Sabrina Impacciatore