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Crítica

Mary | Crítica

Mary - 30a. Mostra Internacional de Cinema

24.10.2006, às 00H00.
Atualizada em 13.11.2016, ÀS 18H03
Mary
EUA/Itália, 2005
Drama - 89 min.

Direção e roteiro: Abel Ferrara.

Elenco: Juliette Binoche, Forest Whitaker, Matthew Modine, Heather Graham, Marion Cotillard, Stefania Rocca, Gisella Marengo, Francine Berting, Massimo Cortesi, Jean-yves Leloup, Gretchen Mol.

Cineasta de carreira controversa e de altos e baixos, o nova-iorquino Abel Ferrara retorna às telas - e ao seu melhor cinema -, depois de quatro anos de ausência. No longa-metragem Mary (2005), ele retoma seu tema favorito, a fé, propondo um inquietante contraste entre a crença e o ego.

Educado severamente dentro do catolicismo, Ferrara reflete em sua cinematografia uma curiosa e ambígua relação com a crença, quase uma obsessão. Em tempos em que a fé católica impulsiona produtos pop mundo afora, ele não poderia abster-se e oferece aqui sua visão a respeito do tema.

Nitidamente incomodado, ele abre Mary com o encerramento das filmagens de um longa sobre Maria Madalena. Rodado por um cineasta megalomaníaco (Mathew Modine), o filme "Este é o meu sangue" mostra a personagem bíblica sobre uma nova luz - não a de prostituta da Igreja, não à de esposa/amante da recente ficção medíocre, mas a de importante apóstolo de Cristo, idéia extraída de textos apócrifos. O tal diretor, porém, está muito mais preocupado com sua imagem e em criar polêmica, algo que vai ajudá-lo a vender o filme, numa claríssima referência a Mel Gibson (A Paixão de Cristo). Parte dessa estratégia foi o tratamento de seu elenco, exigindo tanto de seus atores que a protagonista do filme, Marie (a brilhante Juliette Binoche), torna-se incapaz de abandonar sua personagem, partindo numa jornada espiritual. Passa-se um ano até que o longa fique pronto e a trama acompanha então um cético jornalista televisivo (Forrest Withaker, fulminante), dono de um programa diário sobre fé, que tem como objetivo principal uma entrevista com o egocêntrico cineasta.

Ferrara brinca com a fé de forma desconcertante e irônica. Uma desgraça pessoal, por exemplo, faz com que um dos personagens volte-se a Deus em busca de auxílio. Mas não seria o mesmo Deus que lhe trouxe a desgraça? Outros, devotados e iluminados, sofrem na mesma proporção. Escancara-se então o moto -contínuo religioso a respeito do qual o diretor é tão interessado.

Surpreende também a maneira com que Ferrara registra tudo isso. As sombras marcadas, os tons quentes, os movimentos de câmera e a música pungente parecem os mesmos habitualmente empregados em filmes de terror. A maneira como o diretor focaliza uma estátua de Cristo na cruz é aterrorizante. Não fosse Mary um drama, haveria a certeza de que a imagem se moveria.

Um filme com potencial para incitar debates, portanto. Discussões relevantes, que mereciam espaço muito maior em nossa cultura que as iniciadas por "Códigos" e "Paixões" diversos.

Nota do Crítico
Excelente!
Maria
Mary
Maria
Mary

Ano: 2005

País: Itália, França, EUA

Classificação: 14 anos

Duração: 83 min

Direção: Calin Peter Netzer

Roteiro: Gordan Mimic, Calin Peter Netzer

Elenco: Diana Dumbrava, Horatiu Malaele, Serban Ionescu, Luminita Gheorghiu, Rona Hartner, Florin Calinescu, Florin Zamfirescu, Ana Ularu

Onde assistir:
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