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Crítica

Mate-Me Por Favor | Crítica

Filme de Anita Rocha da Silveira tem estilo, mas apenas estilo

04.10.2015, às 11H18.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Perdido em seu exibicionismo formal, Mate-Me Por Favor, projetado na noite de sábado na seleção competitiva da Première Brasil, dá um mergulho em fórmulas de terror anos 1980, mas se afoga nas profundezas do pop, pela ausência de um projeto estético capaz de nortear sua investigação. Vindo da mostra Horizontes do Festival de Veneza com um prêmio coletivo para suas atrizes, o longa-metragem de Anita Rocha da Silveira chegou à sua primeira exibição no Brasil bem referendado pelo gosto europeu - que pode ser explicado pelo frescor (e empenho) de seu elenco feminino de feições adolescentes. Porém, a esterilidade logo se espalha pela tela e reduz a tentativa da cineasta de ir além das cartilhas de gênero - e radiografar a fauna classe média da Barra da Tijuca - a algo que parece uma mistura de Meninas Malvadas com Mulholland Dr., como se David Lynch refilmasse o clássico teen com Lindsay Lohan.

Há uma exuberância plástica indiscutível em sua direção de arte, de uma organicidade plena com o universo rastreado pela cineasta. Em igual medida, a engenharia de som do filme salta aos ouvidos (e aos demais sentidos) pela maneira como realça o clima de mistério. Mas aí reside a fraqueza central de Mate-me Por Favor: só há clima. Clima sem clímax, sem um recheio à altura do glacê, reduzindo a produção carioca a um excesso de maneirismos e a um desfile de clássicos do funk, que buscam ancorar o longa a uma tradição carioca de um passado recente, sem significar algo mais.  

O estopim da trama é a aparição de um corpo num terreno baldio da Barra. O local fica nas cercanias de uma cidadela de condomínios e a uma escola onde os jovens rezam para uma pastora evangélica funkeira - evidência de uma estranheza à moda Lynch que não leva o filme a nenhuma descoberta. Esse corpo (de Lorena Comparato) morre após uma perseguição que abre Mate-me Por Favor de maneira promissora, nas raias do medo e da adrenalina. Mas a tensão para por aí. Em sua sequência, a diretora entra no mundo (e na cabeça) de Bia (Valentina Herszage), estudante de 15 anos que, como outras jovens da região, passa a se alarmar com o crime. E este ganha continuações: outros corpos de moças (e o de um garoto) serão vitimados de igual violência.

Deste momento em diante, Anita vai descortinar os rituais que compõem a rotina de Bia, das coreografias funkeiras de seus amigos aos esportes onde gasta energia, sem deixar de lado seus amassos com um namoradinho refém da palavra de Deus. E tudo isso sem incluir adulto algum, fora um irmão DJ mais velho, João, vivido por Bernardo Marinho, ator de múltiplos recursos e talentos que consegue fazer o filme transcender suas limitações sempre que está em cena. E a limitação maior é a caricatura.

É inteligente (e arriscada) a opção de a diretora excluir quem não represente juventude para mostrar a solidão e o desamparo afetivo desta faixa de vida, o que se traduz no fascínio crescente de Bia pela morte. No tom, o longa se aproxima do cult obrigatório Corrente do Mal (2014), de David Robert Mitchell, por este dispositivo. Porém, a representação do universo da Zona Oeste carioca, com seus extremos sociais e sua aridez geopolítica, faz com que a narrativa tropece em si mesma. Com isso, personagens que prometiam solidez se reduzem a clichês e perde-se a chance de compreender a adolescência contemporânea (sob o prisma feminino) de uma maneira como o cinema brasileiro nunca fez. Sobra estilo. Só. O resto é silêncio. 

Nota do Crítico
Ruim
Mate-me Por Favor
Mate-me Por Favor
Mate-me Por Favor
Mate-me Por Favor

Ano: 2015

País: Brasil, Argentina

Classificação: 14 anos

Duração: 101 min

Onde assistir:
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