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Crítica

Demonlover | Crítica

Mostra de cinema de SP: <i>Demonlover</i>

20.10.2003, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H15

Demonlover
França, 2002 - 130 min.
Suspense/Ficção científica

Direção: Olivier Assayas
Roteiro: Olivier Assayas

Elenco: Connie Nielsen, Charles Berling, Chloë Sevigny,Gina Gershon, Jean-Baptiste Malartre

Demonlover transcorre não em uma cidade, um lugar ou um país. O filme se passa nos chamados espaços de fluxo do nosso mundo globalizado: hotéis, aeroportos, megacorporações e bares das capitais que fazem a economia planetária girar. Ambientes neutros e assépticos que garantem a mesmice, o conhecido, esteja você onde estiver. É nesses espaços que acontece a história sobre poder, sexo e moral.

Demonlover é o nome de uma das empresas, junto à Mangatronics, que quer se beneficiar da fusão entre a multinacional francesa Volf e o grupo japonês TokyoAnime. Todo mundo tem interesse na TokyoAnime, pois ela está produzindo o que vai gerar rios de dinheiro no mercado mundial: animes pornográficos com animação tridimensional. Enquanto as empresas trabalham na fusão, Demonlover e Mangatronics já discutem com a Volf os direitos para utilização do material na Internet. E cada uma tem seu espião dentro da corporação francesa a fim de fazer as coisas darem certo de qualquer jeito.

Diane (Connie Nielsen) é a espiã da Mangatronics, que impiedosamente sube até o desejado posto de assistente de um dos principais executivos da Volf, Hervé (Charles Berling). Ela não demora a descobrir que não é a única impiedosa no meio, e vai encontrar gente ainda mais amoral pela frente, disposta a literalmente matar ou morrer (ou fazer coisas ainda piores) em favor deste lucrativo negócio.

É um bom filme sobre a espionagem corporativa no mundo contemporâneo, mas é também uma declaração do roteirista e diretor Olivier Assayas a respeito da globalização. Ele tenta retratar a amoralidade num mundo que parece ter perdido as fronteiras somente para libertar o que há de pior no ser humano.

O primeiro choque que o diretor impõe é o da quebra das fronteiras. As personagens estão em constante movimento pelo planeta - em meio a inúmeras reuniões de negócios, você de repente percebe que não estão mais em Paris, mas em Tóquio. Ou no México. Ou de volta a Paris. O movimento é tão freqüente, os cenários são tão neutros e as falas alternam-se tão rápido entre o francês, o inglês e o japonês que pouco importa a geografia. O elenco internacional colabora para dar essa impressão.

O segundo impacto está na passividade diante de imagens chocantes. Assayas joga com isto durante todo o filme, fazendo as personagens assistirem a cenas de estupro em desenhos animados, jogar videogames sanguinolentos, zapear por canais de sexo explícito ou ver sites de tortura na Internet sempre de forma passiva, sem surpresas. Tudo já foi visto e nada mais nos choca.

O último ponto é o da amoralidade. Na luta por subir degraus dentro da Volf e realizar seu trabalho de espionagem, Diane não hesita em dopar uma colega, roubar arquivos e assassinar seus concorrentes - não que estes sejam melhores, pois fariam o mesmo com ela. Seu destino final, tornar-se uma imagem vista passivamente por todos, acaba fechando o ciclo destes três pontos.

Bonito e complexo como um bom Oliver Stone (em Wall Street ou Um Domingo Qualquer), DemonlIover é bem organizado para Assayas fazer sua declaração de forma inteligente... exceto por um detalhe: o filme perde-se por cenas repetitivas que acabam deixando-o longo demais, e a trilha do Sonic Youth não ajuda a passar tempo. Fica aquela estranheza de filmes do David Cronenberg. Isso pode render alguns bocejos. Não há, porém, como negar que o roteiro é inteligente, coisa rara no cinema atual.

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