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O Rastro | Crítica

Apesar de enredo subdesenvolvido e sustos fracos, filme é bom indicativo para o terror brasileiro

18.05.2017, às 13H28.
Atualizada em 18.05.2017, ÀS 14H04

Por mais que longas como Atividade Paranormal e Invocação do Mal tenham bilheterias estrondosas no Brasil, o público do país não tem lá muita afinidade com as produções nacionais de terror, seja por preconceito ou pela escassez desse tipo de produção que de fato chega às telas. É justamente por isso que O Rastro conquista a atenção de quem curte horror.

A trama acompanha João (Rafael Cardoso), ex-médico que supervisiona o conturbado fechamento de um antigo hospital no Rio de Janeiro. Em meio às várias transferências de pacientes ele dá de cara com Julia (Natália Maciel Guedes), uma estranha garota abandonada que pede ajuda ao doutor mas logo em seguida desaparece sem deixar rastros. João então começa uma investigação para encontrá-la, cada vez mais duvidando de sua própria sanidade ao ser assombrado pela figura da menina.

O plot intriga mas seu desenvolvimento é vacilante. Com isso há algumas incógnitas: Leila, esposa grávida de João vivida por Leandra Leal, mal tem relevância ao roteiro apesar de ser responsável por algumas das cenas mais marcantes, graças à ótima atuação. A personagem parece apenas existir para servir o famigerado "núcleo familiar" que é tão comum nos filmes brasileiros. Por mais que eventualmente sua importância seja elevada na trama, sobra pouco tempo para dar a devida atenção ao seu crescimento.

Julia também é preocupante, e a motivação da assombração é dúbia. Isso se dá pela narrativa tentar esconder seus segredos durante todo o decorrer do longa, apenas para mais tarde introduzir uma nova subtrama, sem responder as perguntas da primeira ou sequer dar andamento à segunda. Triste ainda que ambas tocam em temas característicos ao cenário atual do país, como corrupção e o precário sistema de saúde público, mas a impressão que fica é de que nada foi realmente explorado.

Felizmente, O Rastro compensa com excelente direção artística. Em diversas entrevistas o elenco e o diretor J.C. Feyer foram rápidos em citar obras como O Iluminado, de Stanley Kubrick, e o recente O Babadook como inspirações visuais. Não é brincadeira, e é possível ver o nível de detalhe e atenção que foram colocados na fotografia para criar algo realmente marcante.

A ótima qualidade artística pesa também na construção de clima, que consegue despertar uma sensação incômoda ao contrastar cores frias do macabro hospital com o calor infernal do Rio de Janeiro, mostrando seu devastador efeito em claustrofóbico detalhe. Ou também gerar certa tensão ao colocar as possíveis ameças e eventos traumáticos descentralizados, vistos apenas através de espelhos ou sombras - ténica inteiramente responsável pelo medo do recente A Corrente do Mal. É um marco para o cinema de gênero nacional, sem dúvidas.

Nenhum produto de audiovisual deve ser perdoado do criticismo apenas por ser brasileiro, afinal é isso que ajuda o cenário a crescer e se fortalecer. Portanto há sim defeitos em O Rastro: o enredo é subdesenvolvido, os sustos são fracos e há potencial desperdiçado.

Ainda assim é difícil não encarar o longa como um bom indicativo para o terror brasileiro ao apresentar uma qualidade visual invejável, ótimas atuações de um elenco de peso e design de som de arrepiar. É bem possível que vejamos mais filmes brasileiros horrorizando a mente das massas do país e ao redor do mundo em alguns anos mas para isso é preciso começar de algum lugar. Agora, parece que o primeiro passo já foi dado.

Nota do Crítico
Bom
O Rastro
O Rastro

Ano: 2016

País: Brasil

Direção: Jonathan Feyer

Roteiro: André Pereira

Elenco: Leandra Leal, Rafael Cardoso, Felipe Camargo, Cláudia Abreu, Jonas Bloch

Onde assistir:
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