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Crítica

O Tempero da Vida | Crítica

<i>O tempero da vida</i>

17.03.2005, às 00H00.
Atualizada em 06.11.2016, ÀS 20H01

O tempero da vida
Politiki Kouzina
Grécia,
2003 - 108 min.
Drama/Comédia

Direção e roteiro: Tassos Boulmetis

Elenco: Georges Corraface, Ieroklis Michaelidis, Renia Louizidou, Stelios Mainas, Tamer Karadagli, Basak Köklükaya, Tassos Bandis, Markos Osse

A relação entre o cinema e a culinária existe praticamente desde o início da sétima arte e não foram poucos os cineastas que usaram a gastronomia para expressar pontos de vista sociais ou políticos. Assim, o turco Tasos Boulmetis não pode ser chamado de inovador com seu Tempero da vida (Politiki kouzina, 2003). Apesar disso, a opção por relacionar os alimentos com os problemas históricos entre a Grécia e a Turquia - potencializados pela disputa da ilha de Chipre na década de 1950 - soa inicialmente interessante, pois o próprio diretor, que também assina o roteiro, foi testemunha de tais conflitos, que culminaram na deportação de 30 mil famílias gregas que viviam na Turquia.

A idéia básica da película ganha ainda mais força quando o cineasta extrapola os paralelos e busca semelhanças entre os temperos - grandes causadores de conflitos e descobrimentos no passado da humanidade - e os corpos celestes, colocando o protagonista Fanis (Georges Corraface), criado em Istambul, como um professor de astronomia e entusiasta da culinária de seu povo ("gastrônomo" contém a palavra "astrônomo", explica o personagem).

A idéia é simples: os sabores dos temperos, apesar de distintos, podem ser combinados, gerando pratos e experiências gustativas ricas. O mesmo deveria acontecer com os povos e suas culturas, que dividem o mesmo planeta.

É interessante também a estrutura do filme, que segue a ordem das refeições mediterrâneas: Aperitivo, primeiro e segundo pratos e sobremesa. O "menu" conta a história de Fanis, um professor que vive em Atenas há 30 anos longe de seu avô, Vassilis (Tassos Bandis), com quem cresceu em Istambul. Quando o idoso morre, ele finalmente reúne coragem para voltar à cidade da qual ele e seus pais foram expulsos pelas autoridades turcas. Lá relembra as emoções da infância, quando o avô lhe explicava os mistérios da vida, da política, diplomacia e do amor, no sótão de sua venda de temperos num agitado mercado de rua.

O problema é que a missão de transportar todas essas boas idéias para a tela grande parece ter sido um pouco além da competência do diretor, que só tinha uma produção em seu currículo antes deste projeto. Ele insiste em martelar os mesmos conceitos cena após cena, repetindo situações e chavões. Quando parece ter encontrado alguma idéia realmente digna de exploração, a abandona rapidamente, voltando às frases e seqüências que já tinham servido à história.

Também erra ao dar atenção demais às técnicas "moderninhas", deslumbrando-se com as recriações em computação gráfica de Istambul e de Atenas dos anos 1950/60. As imagens surgem falsas, com travelings impossíveis, destoantes da história que deveria se apoiar muito mais na riqueza de seus personagens do que no visual gerado por zeros e uns. Corroborando a impressão, o cineasta fecha o longa como uma seqüência de um brega incrível, com cebolas voadoras, sombrinhas dançantes, oréganos galácticos e outros corpos celestes formados de itens de mercadinho. O que deveria ser uma emocionante poesia em movimento gera nada além de constrangimento.

Apesar dos defeitos, o filme tocou os gregos, que chegaram a indicá-lo, sem sucesso, para o Oscar de filme estrangeiro. Isso me leva a crer que as musakas devem ter deixado o estômago deles bastante forte. Para o meu, o filme trouxe apenas indigestão.

Nota do Crítico
Regular
O Tempero da Vida
Politiki kouzina
O Tempero da Vida
Politiki kouzina

Ano: 2003

País: Grécia, Turquia

Classificação: LIVRE

Duração: 108 min

Direção: Tassos Boulmetis

Roteiro: Tassos Boulmetis

Onde assistir:
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