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Crítica

O Último Elvis | Crítica

Estreia na direção do roteirista de Biutiful trata Buenos Aires como museu e mausoléu

28.03.2013, às 18H35.
Atualizada em 18.11.2016, ÀS 00H06

Demoram para aparecer os primeiros indícios de que O Último Elvis (El Último Elvis) se passa nos dias de hoje. Carros e celulares entregam a época, mas Armando Bo - roteirista de Biutiful e diretor estreante - parece escolher a dedo as locações de Buenos Aires mais perdidas no passado.

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Asilo, clube de bairro, prédio de sindicato, apartamento velho, fábrica com cemitério de geladeiras... A cidade que Bo registra não é exatamente nostálgica como a Buenos Aires dos filmes de Juan José Campanella, é mais um lugar que parou no tempo sem perceber - o que talvez a torne mais melancólica. Aqui, a mãe do protagonista sofreu um derrame e não fala; nada a ver com o charme de Norma Aleandro em O Filho da Noiva.

Estamos em uma Buenos Aires órfã do menemismo, que ainda aguarda a volta daquela grandeza "internacional" do dólar 1-pra-1 dos anos 1990, e ela encontra no seu protagonista uma síntese bastante interessante. Carlos Gutierrez, o Elvis do título, também vê em si mesmo um estrelato sem fronteiras. Diz que recebeu um dom, a voz de Elvis, e só precisou aceitá-la. O fato de o personagem ser interpretado por um sósia real de Elvis Presley - John McInerny, estreante no cinema e vocalista da banda Elvis Vive - só aproxima ainda mais a ficção da realidade bonaerense.

Carlos tem planos. Anda comendo sem medida, como Elvis no fim da vida, e trata seus momentos com a ex-mulher e a filha como se fossem despedidas. No começo do filme, enquanto acompanhamos Carlos em shows de covers, não entendemos seus planos de fato. E de repente um acidente de trânsito, um imprevisto na rotina cronometrada do sósia, modifica um pouco o rumo das coisas.

O Último Elvis tem tudo para ser, desde o começo, um filme de redenção em que o protagonista, abalado nas suas ilusões de grandeza, se vê forçado a reconectar-se com a realidade que o cerca. A exposição é óbvia (a filha que não dá bola para o pai é o choque de gerações literal) e as viradas são esperadas, principalmente quando Carlos trava ao microfone, durante um show. "É agora que ele vai acordar", pensa o espectador.

Mas o fato é que Bo nega a Carlos o final que esperamos. Talvez porque, no recorte de Buenos Aires que o diretor faz, não haja uma "realidade" para a qual Carlos despertaria - a cidade do filme está tão engessada no tempo quanto o próprio protagonista. Aliás, a fachada do prédio de Carlos se confunde com a fachada de Graceland (paralelo que pode confundir o espectador) para sugerir que Buenos Aires tem, assim como a mansão em Memphis, uma vocação para museu ou mausoléu.

Embora o filme esteja cheio de momentos de leveza (como a participação especial de Charly Garcia), Armando Bo acaba se revelando um pessimista - os planos em que a câmera fica circulando Carlos, só o rosto em foco, são como um cordão de isolamento, uma embalsamação. Mais do que melancólico, O Último Elvis é um filme insuportavelmente triste, e é por causa desse isolamento, em boa medida, que nunca fica bem claro se o diretor está fazendo a elegia ou o elogio de viver e morrer no passado.

O Último Elvis | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Regular
O Último Elvis
El Último Elvis
O Último Elvis
El Último Elvis

Ano: 2012

País: Espanha

Classificação: 10 anos

Duração: 91 min

Direção: Armando Bo

Elenco: John McInerny, Griselda Siciliani, Margarita Lopez

Onde assistir:
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