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Sobre Meninos e Lobos | Crítica

<i>Sobre meninos e lobos</i> - Resenha 2

04.12.2003, às 00H00.
Atualizada em 04.11.2016, ÀS 09H01

Sobre meninos e lobos
Mystic river

EUA, 2003
Drama - 137 min.

Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Dennis Lehane (livro), Brian Helgeland

Elenco: Sean Penn, Tim Robbins, Kevin Bacon, Laurence Fishburne, Marcia Gay Harden, Laura Linney, Kevin Chapman, Tom Guiry, Spencer Treat Clark

Com os cinemas cada vez mais abarrotados de magos, demônios, superseres e outros caprichos dos efeitos especiais é de se esperar que o público já esteja amortecido com formas maniqueístas de se ver o mundo. Há o time do "bem" e o pessoal "do mal" em constante conflito. Cabe ao público torcer pelos seus heróis. Entretanto, em Sobre meninos e lobos (Mystic river), adaptação de Clint Eastwood do romance homônimo, não há nenhuma linha divisória, nem espectros diferentes da mesma moeda. Seu mundo é duro, seco e repleto de sentimentos.

Desconfiança, impotência, egoísmo, dor, ódio e, principalmente amor, são os catalisadores da vida dos personagens que somos levados a conhecer.

Quando crianças Jimmy Markum (Sean Penn), Dave Boyle (Tim Robbins) e Sean Devine (Kevin Bacon) eram garotos normais aprontando na vizinhança. Um dia, flagrados por um policial, Dave foi forçado a entrar num carro, num acontecimento que mudaria sua vida e, indiretamente, a de seus amigos.

Mas isso é passado. Hoje adultos, os três seguem suas vidas de formas distintas até que um novo evento trágico faz com que seus caminhos se cruzem de maneira inesperada, demonstrando o quanto assuntos mal resolvidos podem reverberar, não importando o tempo.

Mas a película de Eastwood não é veículo para lições de moral simplistas. Quanto mais conhecemos sobre os personagens, mais nuances descobrimos sobre eles, menos claros e unidimensionais eles se tornam. Cada camada revelada leva o espectador a novas possibilidades, identificações ou mesmo repulsa com relação ao trio. Tudo muito verdadeiro, cru e forte. Em especial a presença da morte e suas conseqüência diante daqueles que amam alguém que se foi recentemente. Inclusive a fé, em um plano mais sutil, porém onipresente em atitudes, cenários e até mesmo no corpo de um dos personagens, permeia de significado as atitudes de todos.

Atitudes que demonstram o quão apavorante pode ser, não a vida real, mas nós mesmos. Que por trás de camadas e camadas de regras e aparências sociais, escondemos nossos demônios. Saem-se melhor aqueles que sabem lidar com isso, perdem aqueles que preservam sua inocência.

Claro, nem tudo é perfeito na condução do filme. Há momentos nos quais tudo parece tender a degringolar pelo óbvio. Sim, não é impossível desvendar o desfecho da trama. Mas nem isso anula (embora abale um pouco) o impacto do que fora construído na primeira metade do filme. Se há previsibilidade em certos desenrolares, ela acaba servindo para, de certa maneira, reforçar a impotência diante da inevitabilidade.

Se você quer diversão descererebrada, passe longe. Mas se quiser sair incomodado, descubra o que há Sobre meninos e lobos. Afinal, cinema não é meramente entretenimento.

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