Quando um diretor se desculpa pelo filme é porque o projeto tem sérios problemas. Essa é a realidade confusa que acompanha Boneco de Neve, filme de Tomas Alfredson que foi muito criticado após sua estreia no mercado internacional. De fato, o material apresentado nos cinemas é confuso, apressado e faz você imaginar por qual motivo algumas decisões foram tomadas.
Em outubro, Alfredson afirmou que teve um tempo de filmagem muito curto e só percebeu que faltavam partes importantes da trama já na edição. Embora admitir o erro seja admirável, isso não ameniza os problemas causados por ele.
O longa tem como base o elogiado livro de mesmo nome, lançado em 2007 por Jo Nesbo. A trama acompanha o detetive Harry Hole (Michael Fassbender), que começa a investigar as ações de um serial killer que deixa um boneco de neve sempre que faz uma nova vítima. A história também nos apresenta Katrine (Rebecca Ferguson), a policial que trabalha em parceria com Hole, entre outros personagens.
Partindo daí, o filme acerta ao estimular a dúvida sobre a identidade do assassino. Com cenas claramente pensadas para isso, a trama dá pistas falsas sobre vários personagens e causa no público uma sensação gostosa e comum aos suspenses, quando você imagina que descobriu o mistério, mas acaba surpreendido. Infelizmente, não há muita coisa além disso para elogiar.
Na ânsia de aumentar seu suspense mais do que o necessário, Boneco de Neve entrega uma trama confusa, com várias cenas que ficam soltas no meio da narrativa. Instigar o espectador a prestar atenção e procurar pistas é bom, mas isso exige também uma resolução satisfatória dentro da trama. Do contrário, a experiência fica pela metade. Aqui, a sensação é de que você foi enganado, já que investiu tempo em uma história que não entrega nada de volta.
Também por conta dessa falta de conexão entre os fatos, não é muito fácil simpatizar ou criar uma ligação com os personagens mostrados em tela. Michael Fassbender constrói um protagonista que começa interessante, principalmente ao lidar com frustrações do passado e pressões no trabalho. Mas nada sobre ele é muito aprofundado e não é possível entender quem é aquele homem. Rebecca Ferguson faz uma protagonista feminina igualmente importante e tem mais tempo dentro da trama para justificar suas motivações. Apesar disso, a atriz não entrega uma atuação consistente: às vezes é ingênua demais, outras é esperta, em alguns momentos tem medo e em outras situações mostra mais coragem do que muita gente. Infelizmente, e como em várias situações desse filme, não existem motivos para essas mudanças. Apenas acontece e o público precisa aceitar.
Para completar a lista de coisas estranhas da produção, é impossível não citar a participação de Val Kilmer, que aparece também como um investigador. Além de sua caracterização física quase irreconhecível, o ator aparece em momentos espalhados com uma performance afetada e sem nexo. Do elenco de nomes conhecidos, apenas J.K. Simmons entrega um resultado mais coeso, mas isso só acontece porque ele está mais afastado da trama principal.
O que fica claro é que Boneco de Neve foi um longa feito às pressas pelo diretor Tomas Alfredson, que não conseguiu acertar roteiro, atuações e edição. Problemas de bastidores são comuns em Hollywood, mas a maioria dos filmes chega aos cinemas sem grandes danos colaterais. Isso não acontece aqui. O pior de tudo é que a premissa sobre o serial killer é interessante, o detetive Harry Hole parece ter uma história intrigante, mas o filme não entrega nada disso. Para quem assiste, resta ficar frustrado e se contentar em ver belas cenas de neve filmadas na Noruega.
Ano: 2017
País: Reino Unido
Classificação: 16 anos
Duração: 112 min
Direção: Tomas Alfredson
Roteiro: Hossein Amini, Matthew Michael Carnahan
Elenco: Michael Fassbender, Rebecca Ferguson, Val Kilmer, J.K. Simmons