Impossível falar de Full frontal sem falar de Steven Soderbergh, seu peculiar diretor.
Full Frontal
Full Frontal
Descoberto no finalzinho dos anos 80, com o relevante Sexo, mentiras e videotape (Sex, Lies, and Videotape, 1989), Soderbergh passou os anos 90 fazendo filmes alternativos, sendo que o mais próximo que chegou de um sucesso foi com o bobo Irresistível paixão (Out of sight, 1998).
Repentinamente, quase como se tivesse tomado de um só gole um suco concentrado de Hollywood, o homem tornou-se uma das maiores garantias de sucesso na Meca do cinema. Em 2000 fez Erin Brockovich e Traffic e foi indicado duas vezes ao Oscar de melhor diretor, prêmio que acabou levando com o segundo. Um ano depois, provou com Onze homens e um segredo (Oceans eleven) que não é só um ótimo diretor, mas também consegue fazer sucessos comerciais estrondosos.
No início deste ano, decidiu dar um tempinho nas superproduções e voltar a experimentar. Coisa pra quem pode, afinal, Solaris - seu próximo candidato a sucesso -, estréia nos Estados Unidos na semana que vem. Trata-se de uma ficção científica sobre viagens a planetas bizarros, uma fórmula que atualmente não tem funcionado na mão de ninguém. Será que na dele vai?
A impressão que tive do filme foi que Soderbergh está confiante o bastante que sua excentricidade não afetará em nada sua carreira já estabelecida, e que ninguém se importará realmente se o resultado final for ruim.
De fato, a experiência mais parece um passatempo. Aposto que o diretor divertiu-se testando câmeras digitais, fingindo que estava de volta à faculdade etc. Gastou pouquíssimo dinheiro (2 milhões de dólares), quase nada de tempo (só 18 dias), os atores principais trabalharam de graça e toparam abrir mão de recursos básicos como maquiagem, cabeleireiro, motorista, trocaram almoços caros por sanduíches de atum etc. Enfim, uma reunião de gente bem-sucedida a fim de fazer um filminho e tirar um sarro de Hollywood - e deles mesmos. E olha que estamos falando de gente como Julia Roberts, Brad Pitt e David Duchovny (que protagoniza a melhor cena do filme!)...
A produção segue uma narrativa não linear e tem histórias paralelas e filmes dentro do filme. Tudo isso fica meio confuso às vezes, mas não vale a pena esquentar a cabeça tentando entender. Basta curtir as histórias e ter em mente que a trama é simples mesmo, meramente humana e divertida.
Agora vem a parte estranha... apesar da crítica positiva, eu não recomendo o filme. A quantidade de pessoas que gostaram de Full frontal é tão pequena que é quase certo que você me escreva dizendo que estou te devendo uma entrada de cinema por ter desperdiçado grana na bilheteria. Mas, se você achou essa história toda interessante, deixe o Harry Potter pra semana que vem e vá assistir a Full frontal, mesmo que seja pra falar mal com embasamento depois.
Ano: 2001
País: EUA
Classificação: 18 anos
Duração: 140 min
Direção: Steven Soderbergh
Elenco: Michael Douglas, Benicio del Toro, Jacob Vargas, Tomás Milián, Russell G. Jones, Michael O'Neill, Catherine Zeta-Jones, Dennis Quaid, Erika Christensen, Don Cheadle, Stacey Travis, Benjamin Bratt, Miguel Ferrer