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Crítica

Crítica: Traga-me Alecrim

História nova-iorquina à la John Cassavetes acompanha um pai com medo de crescer

01.11.2009, às 00H00.
Atualizada em 09.12.2016, ÀS 02H07

Parece nome daqueles filmes iranianos que, na hora, não mostram alecrim nenhum. Mas Traga-me Alecrim é produto indie dos EUA. O mais indicado teria sido manter o título original, Go Get Some Rosemary, porque "alecrim", em inglês, também é um nome de mulher. E o que o nosso herói mais precisa no filme é de uma figura materna, uma Rosemary para socorrê-lo.

Lenny (vivido pelo cineasta Ronald Bronstein, ator estreante) é um pai divorciado de dois filhos que tem duas semanas para ficar com os garotos - e no filme parece que se passa um mês inteiro. Ele aproveita ao máximo: leva-os para jogar squash, comer na rua, passear fora de Nova York... Por trás dessa urgência, descobrimos depois, lenny esconde um medo terrível de ficar só - e de se ver diante da sua vida de adulto.

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Porque Lenny não só faz o papel de amigo dos filhos como é, ele próprio, uma eterna criança, carente de atenção em níveis que chegam a ser inverossímeis (como na cena do barco) e caricato a ponto de parecer estereótipo (coleciona quadrinhos...). O filme abre com uma cena ótima em que Lenny derruba o hot dog que tinha acabado de comprar - e ri da situação. A forma (alguém diria irresponsável) como o pai aceita o caos como modo de vida provocará, ao longo de Traga-me Alecrim, algumas situações dramáticas, e todas elas nervosas.

A escolha dos irmãos diretores Ben e Joshua Safdie pela câmera na mão - tremida de um jeito que pode enjoar muita gente - tem a ver com essa construção do personagem. Lenny está a todo instante na luta definitiva para conquistar seus filhos, e os Safdie marcam essa presença algo sufocante colocando Lenny em quase todos os planos do filme. Os amigos adultos dele surgem em cena, mas não se fixam.

Quando o pai não é o foco - como na cena em que os filhos estão na sala de cinema e a câmera estaciona nos dois sem tremer - percebe-se ali um desvio biográfico, uma memória afetiva. Lenny é inspirado no pai de Ben e Joshua, a propósito. Não por acaso, a trama se passa nos dias atuais (dá pra perceber, entre outras coisas, pela lâmina de barba que o pai usa) mas parece viajar aos anos 70 em que os Safdie cresceram. Lenny grava fitas K7, escuta vitrola, domina o "velho" projetor de cinema, faz mágicas...

A estética granulada, meio desbotada, ajuda a dar uma cara old school a Traga-me Alecrim - e quem vê no filme um herdeiro dos temas e dos procedimentos de John Cassavetes tem aí mais um elemento, o visual emulando os anos 70, pra argumentar a seu favor.

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Nota do Crítico
Ótimo
Traga-me Alecrim
Go Get Some Rosemary
Traga-me Alecrim
Go Get Some Rosemary

Ano: 2009

País: EUA/França

Classificação: 16 anos

Direção: Ben Safdie, Joshua Safdie

Roteiro: Ben Safdie, Joshua Safdie

Elenco: Ronald Bronstein

Onde assistir:
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