Filmes

Entrevista

8 1/2 Festa do Cinema Italiano | Super-herói romano é a sensação da Mostra

Meu Nome É Jeeg Robot é inspirado em animes dos anos 1980 e foi sucesso de público na Itália

23.08.2016, às 18H06.

Superforte, capaz de se regenerar de qualquer ferida, apto a dar saltos quilométricos de fazer inveja aos do Hulk e apaixonado por uma Lois Lane piradinha, Jeeg Robot tem todas as credenciais para pleitear uma vaga em qualquer superequipe Marvel ou DC. Mas, sendo romano de berço, teve de se contentar em ser estrela nas salas de cinema da Itália, à frente de um longa-metragem atípico para os padrões da terra de Fellini. Visto por 800 mil espectadores em seu país, Meu Nome É Jeeg Robot, primeiro filme do ator Gabriele Mainetti como realizador, é o maior destaque da 8 ½ Festa do Cinema Italiano, evento que promete mobilizar a cinefilia brasileira de 25 a 31 de agosto. A mostra ocupará telas em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Brasília, Belo Horizonte, Curitiba e Florianópolis, em salas como as do Espaço Itaú

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Serão exibidos sete longas inéditos, a começar por Loucas de Alegria (La Pazza Gioia), de Paolo Virzì, um dos maiores sucessos da Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes deste ano. E o pacote de atrações reúne pérolas zero km por aqui como o thriller político As Confissões (Le confessioni), de Roberto Andò, e o filme de máfia As Consequências do Amorfinalizado em 2004 pelo oscarizado Paolo Sorrentino (A Grande Beleza) e nunca lançado em solo brasileiro. Mas, de todos os títulos, nenhum supera o de Mainetti em exotismo, ao mostrar o embate de Jeeg Robot contra uma gangue de estilizados mafiosos nas ruas de Roma.

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Eu cansei de ouvir as pessoas se lamentarem de que não havia condições financeiras de se fazer um filme de super-herói na Itália, pois esse filão só seria viável nos EUA, e fui produzir eu mesmo, ao custo de € 1,7 milhão”, explica Mainetti ao Omelete por telefone, comemorando o êxito comercial de seu filme, que estreou quando Deadpoolestava em cartaz na Itália. “Tivemos uma bilheteria aqui que só comédias de um perfil mais comercial alcançam. E isso investindo num gênero que nosso país não faz, ainda que o consuma, e muito, como todos os outros países. O cinema de super-herói é uma tendência pop que não pode ser rechaçada. Ela precisa ser entendida”.

Alfabetizado com o melhor do quadrinho italiano em sua mocidade, sobretudo Dylan Dog, o cineasta de 39 anos criou seu vigilante superpoderoso inspirado numa série de animes e mangás chamada Kôtetsu Jîgu (ou Jeeg Robot d’Acciaio na Itália) exibida na TV romana em 1975. Das aventuras do mecha japonês, o cineasta extraiu a saga de Enzo Ceccotti (Claudio Santamaria), um ladrãozinho de beira de esquina que adquire super-habilidades ao ser contaminado com poluentes radioativos. Ele é batizado como Jeeg Robot por uma vizinha autista, Alessia (Ilene Pastorelli), e acaba virando alvo do criminoso Cigano (Luca Marinelli), que cobiça os poderes do Super-Homem de Roma. 

A Itália forma parte de um time seleto de países, entre eles o Japão, a França, o Brasil e, sobretudo, os EUA, nos quais o quadrinho tem uma tradição gigante, mobilizando uma indústria de formação de leitores”, diz Mainetti, referindo-se, no caso brasileiro, ao peso da Turma da Mônica. “Eu cresci lendo heróis dos fumetti como Alan Ford e Dylan Dog, mas construí este filme mais com a referência dos desenhos animados que a minha geração viu no fim dos anos 1970 e início dos 1980 toda tarde na TV. Além disso, eu venho de uma época em que o ideal de heroísmo do cinema era a figura de Sylvester Stallone. Gosto de filmes de ação, respeito essa tradição e vi tantos destes produtos que me sentia apto a reproduzir seu formato num filme de heróis com as características do cinema italiano”.   

Levantar recursos para o filme, segundo Mainetti, foi uma tarefa digna de um Clark Kent, pelo preconceito contra o lado pop que explorou.

O cinema é um encontro de culturas. Uma obra cruel e urgente como a do coreano Kim Ki-Duk só existe porque, antes dele, veio o italiano Roberto Rossellini, fazendo seu neorrealismo. Mas, da mesma forma, um outro mestre asiático como o diretor japonês Takashi Miike só pode fazer os filmes que faz porque, antes, vieram mestres italianos do terror e também mestres americanos. É esse contato de culturas o que forma os diretores, portanto, o cinema, como indústria, precisa saber receber e acolher o que é diferente de si, inclusive o que vem dos Estados Unidos, uma nação que, em termos cinematográficos, contribuiu para a formação de todos nós”, diz o cineasta. “Eu gosto do cinema vietnamita, mas não posso fazer dele uma referência porque ele quase não chega às telas da Itália. Mas o cinema americano chega e ele nos deu coisas muito boas, que podem ser usadas como parâmetro. É preciso saber abraçar novas culturas, inclusive a cultura do pop”.  

Até seu encerramento, a 8 ½ Festa do Cinema Italiano exibirá ainda as produções Paro Quando Quero (Smetto Quando Voglio), de Sydney SibiliaNão Seja Mau (Non essere cattivo) de Claudio CaligariAmor Eterno (La Corrispondenza) de Giuseppe Tornatore, cineasta cultuado nos anos 1990.

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