Filmes

Entrevista

A Criada | "Não queria estereótipos, queria pessoas", diz diretor de filme sul-coreano

Longa chega aos cinemas nacionais esta semana

02.01.2017, às 17H36.
Atualizada em 02.01.2017, ÀS 18H00

Abordado num corredor do Palais des Festivals, em Cannes, pelo Omelete, logo após ter declarado em público seu entusiasmo pela literatura latino-americana, o diretor Park Chank-Wook (OldBoy, 2004) – afirmou não ser familiar à obra de Nelson Rodrigues. Mas poucas filmografias são mais rodriguianas (carregadas de amores incestuosos, interditos do desejos e paixões proibidas) do que a deste realizador nascido em Seoul há 53 anos, a julgar por seu filme mais recente: o premiadíssimo A Criada, premiado na Croisette com o Vulcan Prix de Contribuição Artística pela suntuosa direção de arte de Ryu Seong-hie. Com estreia no Brasil nesta quinta (5), o longa-metragem traz algumas das cenas de sexo mais quentes do cinema contemporâneo, graças ao romance lésbico entre uma serviçal coreana, Sookee (Kim Tae-ri), e uma aristocrata japonesa, Hideko (Kim Min-Hee), nos anos 1930.

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Este filme é um jogo de espelhos, em que entendemos os fatos sob diferentes pontos de vista, compreendendo que o amor não tem nacionalidade, à mercê apenas das diferenças de classes sociais”, disse Chan-wook em Cannes, onde concorreu à Palma de Ouro com esta produção de US$ 8,8 milhões baseada no romance Na Ponta dos Dedos, da galesa Sarah Waters. “Vou sempre beber na literatura porque os livros abrem as portas da mesquinharia que rege a sociedade. E este filme é baseado em ritos sociais”.

Ganhador de 37 prêmios internacionais, entre eles o de melhor filme de ficção pela 40ª Mostra de São PauloA Criada mistura melodrama e suspense (este sobretudo), sob especiarias eróticas picantes, para recriar o período da ocupação japonesa sobre a Coreia. Na década de 1930, dominado pelo Japão, o país luta para poder preservar sua identidade (inclusive sua língua), encontra nobre endinheirados se embrenham pelas esferas do poder. É quando Sookee é cooptada por um vigarista, o Conde Fujiwara (Ha Jung-Woo), para ajudá-lo a seduzir a rica Hideko. Ele deseja se casar com ela para, mais tarde, alegar que ela enlouqueceu, tomando sua riqueza. Mas entre elas brota um desejo irrefreável.

Tentei incrementar a força dos personagens masculinos na adaptação do romance de Sarah, trazendo os fatos para a Coreia dos anos 1930, pois precisava ter contrapontos para essas duas mulheres, de perfis diferentes que se aproximam”, explicou o diretor de sucessos como Lady Vingança (2005) e Sede de Sangue (2009). “O livro me deu duas personagens sólidas e muitas viradas. Mas o filme se desenha a partir das contradições delas e da possibilidade que aquela história me traz de explorar uma outra Coreia, uma Coreia estrangulada pelo jugo estrangeiro”.

Para dar conta das cenas mais tórridas, o diretor se inspirou nos enquadramentos do cinema clássico. “Filmei em câmera digital, mas com um tratamento de cor típico do que se usava nos clássicos em película. Não se trata tanto de sexo aqui, mas sim de amor”, disse o diretor. “O desafio maior aqui era não ser caricato nem com as protagonistas, nem com o lesbianismo, nem com o retrato dos japoneses. Não queria estereótipos, queria pessoas”.   

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