Filmes

Entrevista

"A memória musical do Mestre João Silva carrega a história e a vida dos nordestinos", diz diretora de documentário

Deby Brennand comanda filme que fala sobre um dos maiores compositores do país

27.06.2017, às 12H08.
Atualizada em 27.06.2017, ÀS 13H04

Poeta responsável por fenômenos populares do baião, sobretudo os com a grife Luiz Gonzaga, e por uma série de outros hits da canção nordestina, Mestre João Silva (1935-2003), um dos maiores compositores do país, teve seus últimos momentos em trânsito, por Pernambuco, registrado num documentário temperado de bom humor e emoção que chega esta quinta (29) a circuito: Danado de Bom. Primeiro longa-metragem da diretora Deby Brennand, a produção saiu do Cine PE, um dos mais tradicionais festivais de Recife, em 2016, com quatro troféus: Melhor Filme, Fotografia, Montagem e Edição de Som. Confira abaixo uma cena exclusiva do Omelete:

Omelete: O que João Silva simboliza pra memória musical do Nordeste?

Deby Brennand: A música de João é carregada de tradições nordestinas, tanto nos seus arranjos quanto nas suas composições. Ele usava e abusava de uma forma datada dos sertanejos de se comunicarem, o Babeco. São palavras cortadas e gírias antigas do povo do sertão. E ele fazia questão de colocar isso em suas letras. Um exemplo é a música Jerimum de gogó... Esse linguajar carregado de tradição está acabando. E as suas letras ficaram aí pra lembrar, como ele mesmo diz, “Que isso existiu”. Pra mim o maior peso da memória musical de João é que ela carrega a história e a vida dos nordestinos de uma maneira alegre, sem necessariamente “cantar a seca”.

Omelete: De que maneira o roteiro do filme foi estruturado a fim de buscar a identidade de João Silva?

Deby Brennand: Através das suas composições musicais. Os fatos vão sendo narrados de acordo com as suas letras. Não existia um divórcio entre João e suas músicas. Mesmo nas que eram encomendadas ele dava um jeito de se colocar dentro da música. E foi assim também que fui conhecendo e descobrindo João. Ele era uma pessoa alegre, mas vestia uma couraça que só desapareceu com o nosso tempo de convívio. Acredito que isso passa no filme também.

Omelete: O que o filme te revelou sobre a indústria musical do Brasil?

Deby Brennand: A evolução da indústria se mistura com evolução das mídias. Quando João começou só existiam programas de rádio ou gravadoras. Essas eram as plataformas de divulgação dos artistas. Depois vieram os programas de auditório nas rádios e na televisão, as grandes gravadoras. Era bem mais complicado pro artista propagar sua música. À medida que os meios de comunicação foram evoluindo, com a internet ficou mais fácil pro artista se expor, mas não necessariamente fazer sucesso. Dentro do Brasil existe uma gama de estilos diversos, de região pra região, e esses estilos foram se misturando, o que é bem interessante. A diversidade musical brasileira hoje é acessível para todos graças a essa evolução.

Omelete: De que maneira o documentário dando de bom conversa com a tradição do documentário musical brasileiro? Que influencias teu documentário carrega de outros filmes do formato?

Deby Brennand: Acredito que através das imagens de arquivo, que é bem tradicional nos documentários musicais brasileiros. Sobre as influencias, fui buscá-las em outra fontes para o filme, como por exemplo em livros biográficos. Já havia lido muito sobre Antonio Maria, tenho um roteiro pronto sobre ele. Isso me influenciou bastante. Há nuances nas histórias dos dois que são muito parecidas, apesar do universo diferente deles. Mas as músicas de João foram a maior fonte de inspiração para a narrativa do filme.

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