Filmes

Entrevista

A Torre Negra mantém essência de Stephen King, garantem Matthew McConaughey e Idris Elba

Conversamos com a dupla em Nova York

25.08.2017, às 19H07.
Atualizada em 25.08.2017, ÀS 20H00

Fato: o mais interessante, nos exatos 95 minutos de A Torre Negra, é tentar encontrar as referências ao universo do escritor americano Stephen King usadas pelo diretor dinamarquês Nikolaj Arcel na primeira transposição para o cinema da série de oito livros reverenciada por kingmaníacos mundo afora (veja a lista de Easter Eggs). O filme, que demorou uma década para virar realidade, levou, quase sempre de forma merecida, cacetadas de praticamente todos os críticos americanos. Sem dó nem piedade, eles concordaram, oito ano depois, com a decisão de J.J.Abrams de abandonar os planos de levar personagens como o Homem de Preto (Matthew McConaughey) e o pistoleiro Roland (Idris Elba) para a tela grande. O motivo, segundo o reinventor de Star Trek e Star Wars, “ser simplesmente impossível uma adaptação da obra do Stephen sem alterar de forma sensível o livro”.

Pois neste primeiro capítulo da nova franquia - apesar do desastre de público, para os padrões americanos, há sim previsão de sequências - a história gira em torno da importância da Torre Negra para a preservação dos mundos pelos quais circulam os protagonistas. Um deles é a Terra. No planeta azul, o menino Jake Chambers (o inglês Tom Taylor, que anteriormente atuou em séries da BBC) acaba se tornando peça-chave na disputa entre o vilão Walter Padick, o Homem de Preto, e Roland Deschain, o último dos pistoleiros do Mundo Médio, decidido a impedir que seu arqui-inimigo destrua a torre e controle, assim, o destino de todas as dimensões do universo.

O Omelete conversou com exclusividade com a dupla Elba e McConaughey sobre o filme:

O próprio Stephen King considera os oito livros de “A Torre Negra” sua obra mais bem-acabada. Lá se vão 15 anos desde que se começou a falar de uma adaptação para o cinema. J.J. Abrams jogou a toalha em 2009 pois não descobriu uma maneira de transpor a história para a tela sem modificá-la de forma sensível. O filme que vocês protagonizam é muito diferente dos livros?
McConaughey: Pra começo de conversa, a gente só tem pouco mais de uma hora e meia, contra oito livros. Nós vamos de A para C e, obrigatoriamente, esquecemos B.
Elba: E, para isso, é preciso tomar certas liberdades.
McConaughey: São duas coisas completamente diferentes, o filme e os livros. Porém, o filme mantém, acredito, e isso foi crucial para nós, a essência, o espírito, do que Stephen King escreveu. Os fãs, espero, ficarão felizes com esta reapresentação de um universo que eles conhecem de cor e salteado. E, por outro lado, pessoas como eu, que não haviam lido sequer uma página do livro antes de saber do filme, vão descobrir personagens interessantes e, se quiserem mergulhar mais neste universo, terão as páginas do que já foi publicado pelo Stephen como guias.

E Stephen King se envolveu diretamente com a adaptação?
McConaughey: No meu caso, trocamos e-mails. Foi uma troca curta de mensagens, mas importante pra mim. Ele me deu alguma noção de como criou o Walter, bem vaga, mas foi uma espécie de plataforma de lançamento para mim (risos). Dali eu comecei a construir meu Homem de Preto.
Elba: Eu tive o prazer de passar um tempo com o homem em carne e osso (risos). Ele foi muito gentil, fez elogios ao nosso processo e me viu atuando no set. Foi bom.

As referências a obras anteriores de Stephen King no filme são muitas. Vocês voltaram ao universo King antes de começar a filmar?
Elba: Ainda não consigo pensar em um universo King como penso num Marvel, por exemplo, com os personagens todos se encontrando em situações inesperadas. Mas nosso filme, espero, pode representar justamente o começo disso. Fico encafifado, imagino, como boa parte dos fãs: como é que elementos de A Torre Negra se relacionam claramente com eventos, cenas, situações, das outras histórias imaginadas por Stephen King? Quem sabe, mas olha, é só uma suposição (risos), outros personagens de King não apareçam nos próximos filmes de nossa franquia, se ela seguir adiante? Seria sensacional.

Quais são suas adaptações para o cinema favoritas do universo King?
McConaughey: Louca Obsessão ainda me dá pesadelos até hoje.
Elba: Eu amo O Iluminado, é de meus filmes favoritos na vida. O jovem Jack Nicholson é um dos atores mais sensacionais de todos os tempos.

Stephen King disse que uma de suas inspirações para o Roland foi o pistoleiro “sem nome” de Clint Eastwood na Trilogia dos Dólares (Por Um Punhado de Dólares, 1964, Por Uns Dólares a Mais, 1965, e Três Homens em Conflito, 1966) dirigida pelo mago do faroeste-espaguete, o italiano Sergio Leone. Foi uma referência importante para você também, Idris?
Elba: Exatamente o oposto (risos). Fiquei o mais longe possível de qualquer comparação com o Clint. Minha ideia foi a de reinventar o Roland. Agora, aquela interpretação do Clint é um absurdo, o personagem virou ele, né? As imagens que ele e Leone criaram são inesquecíveis. Mas tenho certeza de que Stephen King não queria Idris fazendo Clint, e sim minha interpretação para o Roland que ele criou nos livros. Mas entendo perfeitamente quando as pessoas olharem pro meu Roland e pensarem: o Stephen King, certamente, ama a Trilogia dos Dólares. Estou de boa com isso!

Já sobre O Homem de Preto, o máximo que King disse foi ele ser um dos personagens criados por ele mais difíceis de se traduzirem em imagem. Isso deu mais liberdade a você, Matthew, ou foi mais difícil imaginar quem seria este vilão poderosíssimo, que, sem exagerar nos spoilers, sabe exatamente o que todos pensam e é aparentemente invencível?
McConaughey: Foi difícil, mas ajuda quando você está recebendo um bom salário para criar sua própria imagem do personagem (risos). Sério, sim, percebi que, neste caso, eu teria de tomar as rédeas da coisa. Peguei o que pude dos livros, mas também usei muito minha imaginação, o que foi uma delícia. Ele é um vilão, mas extremamente charmoso e elegante. Eu o percebi como um aristocrata, alguém que se move com disciplina e economia de gestos.
Elba: E tem o cabelo, né? (risos)
McConaughey: É. Mais preto e com um topete muito mais interessante, digamos assim, do que o meu na vida real (risos).
Elba: Sim, mais negro e mais alto do que a própria torre (risos).
McConaughey: Ah, agora você já está me zoando (risos).
Elba: Não, sério, adorei sua escolha. Foi muito corajosa (mais risos)

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