Filmes

Entrevista

Árido Movie | Filme cult brasileiro vai ganhar sequência no Rio São Francisco

Confira nossa entrevista com o diretor

27.09.2016, às 16H44.

Incumbido de revistar seu próprio passado - e um momento de glória para o cinema autoral brasileiro – no encerramento do 49º Festival de Brasília, nesta terça (27), em uma sessão em homenagem aos 20 anos de Baile Perfumado (corigido por Paulo Caldas), o diretor pernambucano Lírio Ferreira está levantando os meios para levar às telas uma sequência (ele chama de “extensão”) de um de seus longas-metragens mais cultuados: Árido Movie (2005). O projeto se chama Aqua Movie e deve retomar os personagens centrais do filme anterior, no qual Guilherme Weber, um apresentador do tempo às voltas com a seca no Sertão, era obrigado a lidar com um pleito de vingança de sua família, seguido de perto por seus borrachos amigos (Selton MelloMariana Lima Gustavo Falcão). Agora, a ação vaia para o Rio São Francisco, o folclórico Velho Chico, já abordado na atual novela das 21h da TV Globo, a ser abordado por Lírio sob a ótica da baixa de suas águas e a transposição de seus recursos hídricos.

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Onde tem água tem sonho, tem imaginação, tem cinema, o que me dá um desespero ao ver que um rio com as dimensões do São Francisco sofre a ameaça de acabar por intervenção do homem”, diz Lírio, que acaba de rodar com seu conterrâneo Cláudio Assis a minissérie Ouro Velho, Mundo Novo, sobre poetas populares, para o Canal Brasil. “Desde as filmagens de Árido, eu me preocupo com a questão da falta d’água vs. o excesso de informação. Se você pensar que, há uns dois anos, a falta de água chegou a São Paulo, a maior metrópole do país, estamos com problemas sérios. E a ideia é que esta ‘extensão’ seja um olhar da ficção sobre a realidade, como numa mistura da estética do diretor chinês Jia Zhang-Ke com o filme brasileiro Iracema - Uma Transa Amazônica, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna, pioneiro em mesclar fronteiras narrativas”.        

Não é certo ainda quem sai e quem volta de Árido Movie (cuja carreira começou na mostra Horizontes do Festival de Veneza) em Aqua Movie. Certeza Lírio só tem de que sonha com uma “parte três”, ambientada no futuro, e no céu, chamada Air Movie, cuja ideia é viabilizar como longa de animação.

Imagine como fazer espaçonaves no Sertão? Só em animação mesmo”, diz o cineasta que acaba de preparar uma série sobre fantasmas para o Canal Brasil com Jesuíta Barbosa Hermila Guedes no elenco: Fim do Mundo, baseada em roteiro de Hilton Lacerda (diretor de Tatuagem). Às vezes, as pessoas me perguntam de Game of Thrones, mas eu não vejo estas séries. Diante da TV, eu gosto mais do prazer do controle remoto do que da programação em si. Gosto de estar assistindo a um jogo e cortar no ato de um gol do Sport para um desses docs de natureza, com gnus sendo comidos por jacarés. Mas experiência da televisão, para quem já fez documentário, ficção, videoclipe e até DVD do Rappa é um espaço de aprendizagem e descoberta”.

Ocupado ainda com um documentário sobre o fotógrafo Cafi, responsável pela imagem de capa de um lendário LP do Clube da Esquina, Lírio ainda tem um projeto de filmar (também com o parceiro Cláudio Assis) a vida e obra do cantor e compositor Alceu Valença.

“Está tudo andando, à sua maneira, pois tenho trabalhado muito. Outro dia eu li uma frase: ‘O Tempo deveria ser multado por excesso de velocidade’. Ela faz todo sentido”, diz Lírio, que engrossa em seu cinema militante o coro dos descontentes com a atual política do país. “Apesar de sorrir muito, eu não sou tão otimista como pareço, pois já tive perdas profundas. Mas perder um país, como aconteceu com a gente agora, é f.... Sinto uma tristeza profunda com o cinismo à nossa volta”.

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