Filmes

Entrevista

Canção da Volta | "Tive experiência de me despir da imagem de apresentadora", diz Marina Person

Ex-MTV contracena com João Miguel num drama sobre a vida a dois

29.10.2016, às 19H03.
Atualizada em 29.10.2016, ÀS 20H04

VJ das mais populares, famosa por sua maneira criativa, nas raias da ironia, de exercitar a arte da entrevista, Marina Person encarou por duas vezes – com êxito e prêmios – o desafio de dirigir cinema, primeiro com o documentário Person (2007), sobre seu pai (o cineasta Luís Sérgio Person, morto em 1976), depois com a ficção Califórnia (2015).

Agora, é a vez de encarar o risco de protagonizar um longa-metragem – e dos mais dolorosos – e ao lado de um dos atores mais aclamados do país, o baiano João Miguel. Os dois estrelam Canção da Volta, que entra em cartaz no dia 3 de novembro. Primeiro longa-metragem de ficção do diretor Gustavo Rosa de Moura (de Cildo), a produção terá duas exibições na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, ambas programadas para o Espaço Itaú Frei Caneca: uma neste sábado, às 15h30, e outra no dia 1º de novembro, às 19h50.

Na trama, ela é Júlia, uma mulher que tenta se suicidar, por uma série de conflitos internos. João vive seu marido, Edu, apresentador de um talk show de Literatura na TV paulistana, às voltas com o drama de sua mulher.

Nesta entrevista por e-mail ao Omelete, Marina fala desse exercício como atriz e das estratégias para driblar a imagem que consolidou ao longo de anos na telinha.

Você construiu uma das carreiras mais sólidas da TV brasileira como VJ, jornalista, apresentadora... O quanto essa experiência pregressa pesa na hora de atuar? O quanto a sua incursão anterior em longas como atriz, dirigida por Carlos Reichenbach, em Bens Confiscados, já foi um chão firme para essa travessia radical de agora, em Canção da Volta?

Eu gosto muito de trabalhar em televisão. A MTV me fez construir uma personalidade na frente das câmeras. Comecei fazendo um programa de cinema e fui me aventurando em outras coisas, fui me soltando, brincando mais. O filme do Carlão foi o primeiro em que tive uma experiência de me “despir” da imagem de apresentadora pra encarar uma personagem de ficção. Claro que foi uma abertura de caminho pra mim. Adorava o Carlão. Foi um baita privilégio trabalhar com ele. Tenho muito carinho pelo Bens Confiscados. No Canção... eu tinha esse desafio de fazer o espectador esquecer da VJ da MTV, da apresentadora do Metrópolis. E é difícil, pois sinto que as pessoas têm uma ligação afetiva com aquela imagem, sobretudo da MTV, que marcou várias gerações. Gostei quando uma menina veio me falar que só sacou que era eu na metade do filme!

Como foi a preparação física e mesmo psicológica para a construção dessa mulher à beira da depressão, que encontra na dança uma parceira para driblar a dor?

Eu sou muito fascinada pelo trabalho dos atores, queria fazer uma preparação que me desse as condições de encarar essa personagem que é tão diferente de mim, e tão complexa. Fui procurando coisas que pudessem me ajudar a compor essa mulher cheia de pequenas obsessões. Fiz muitos exercícios de corpo e soltura com o Victor Mendes, um ator parceiro da Mira Filmes, que virou um amigo, pra então entrar na preparação do filme com o Gustavo, o diretor, e o João. Além disso, eu pesquisei o tema “suicídio”, que é um tabu e ainda é muito mal compreendido. Busquei inspiração nas atrizes que eu admiro, em especial a Gena Rowlands, a partir do desempenho dela em Mulher Sob Influência. Outra coisa que me ajudou foi a composição visual da Julia: os cabelos cuidadosamente bagunçados, sempre esculpidos com grampos, panos, fitas, presos em coque ou tranças, a mão cheia de anéis.... são detalhes que pra mim fizeram diferença, mesmo que o espectador nem sempre note. Outra característica importante é a dança. Na biografia oculta da Julia - eu sempre gosto de fazer uma para os meus personagens -, ela é uma bailarina que largou a carreira cedo. A dança é o refúgio dela, onde ela se sente livre, completa. A dança é o meio pelo qual ela se expressa. O corpo da Julia fala o que ela não consegue exprimir em palavras.

Que investigação sobre a vida a dois este filme de Gustavo Rosa de Moura nos dá?

Cada vez que eu assisto ao filme, eu vejo um aspecto diferente. É um filme sobre relacionamentos duradouros e seus desafios. E, sim, também é um filme sobre ciúmes e sobre a necessidade que sentimos de controlar a pessoa amada, também. Fala de suicídio, de depressão, de como a convivência com pessoas assim afeta a vida dos que estão em volta. E é um filme sobre a angústia, sobre como somos fascinados pelo mistério do outro.

Quanto a voltar a dirigir filmes, depois de sua experiência em Califórnia, quais são os seus próximos planos?

Já estou com quatro novos projetos, cada um em um estágio. Um roteiro, um argumento, uma ideia bem desenhada e uma vaga ideia. Vamos ver qual sai primeiro. Eu gostaria de fazer pelo menos um filme por ano, seja como diretora ou como atriz. E estou louca pra experimentar teatro também.

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