Filmes

Entrevista

Carol | Não quis fazer um "filme gay", diz Todd Haynes sobre o romance lésbico

Longa campeão de indicações ao Globo de Ouro chega ao Brasil em janeiro

12.12.2015, às 15H57.

É a hora e a vez de Todd Haynes na caminhada para o Oscar 2016, à força do carisma em ascensão de Carollove story homoafetiva sobre duas mulheres apaixonadas – Cate Blanchett e Rooney Mara – nos EUA dos anos 1950. Líder de indicações no Independent Spirit Awards e do Globo de Ouro, o longa-metragem ganhou o prêmio de melhor atriz (para Rooney) e a Quuer Palm (Palma LGBT) no Festival de Cannes, em maio. Sua montagem é assinada pelo paulistano Affonso Gonçalves (de True Detective), parceiro do cineasta na minissérie Mildred Pierce (2012). Com base no romance The Price of Salt, lançado por Patricia Highsmith em 1952, esse drama romântico rodado em Cincinnati, Ohio, que só entra em cartaz no Brasil em 14 de janeiro, foi laureado no Festival de Chicago e ganhou o troféu principal da mostra Camerimage, na Polônia.

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O que convida as pessoas a entrar e ficar nesta história é o fato de ela retratar o delírio que o amor deixa quando está em seus primeiros dias, o calor do despertar de uma paixão”, disse Haynes ao Omelete em Cannes. “É uma reflexão sobre modos de olhar e sobre como a pessoa apaixonada fica míope diante do que está ao seu redor. O foco inicial é sempre aquele que parece dominado pelo querer, o mais fraco... Mas essas posições de poder mudam”.

Sua estreia nos EUA, num circuito restrito, feita apenas para habilitar a produção a concorrer às estatuetas da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, foi coroada por críticas elogiosas e um boca a boca fervoroso. Carol é um ímã de aplausos. Com isso, só faz crescer o cacife de Haynes, diretor aclamado no passado por Velvet Goldmine (1998), Longe do Paraíso (2002) e Não Estou Lá (2007) que abrilhanta a capa da mais recente edição da revista britânica Sight & Sound. Sua obra ainda virou tema dos livros Gay Directors Gay Films?, de Emanuel Levy, e All That Heaven Allows – The Cinema of Todd Haynes, de James Morrison.   

Eu não queria um retrato em sépia do amor e muito menos do amor vivido nos anos 1950 e, para isso, foi uma opção estética usar película, filmando em 16mm, para poder preservar a granulação, a ranhura e as imperfeições que dão vida a um filme.E busquei influências naturalistas de fotógrafos americanos em destaque na metade do século XX para encontrar o colorido que usei. Este é um filme que precisa reviver no espectador as artimanhas de olhar atento para o mundo, de observar o real, de entender o que se passa naquilo que só se enxerga ao olhar nas frestas, nas beiradas de porta”, explicou Haynes, que construiu uma delicada sequência de nu. “Em vários planos, a câmera se posiciona em aberturas de janelas, em gretas. É de lá que eu espio esse amor”.

Na versão do cineasta para a literatura de Highstmith, focada em Nova York, a jovem Therese (Mara) é funcionária de uma loja de departamento onde conhece (e se encanta por) uma bela mulher da alta classe média, divorciada, mãe de uma menina (Rindy) e sexualmente bem resolvida em seu desejo por mulheres, Carol, vivida por Blanchett. Sua separação foi dolorosa em função dos esforços de seu ex-marido (Kyle Chandler) para afastá-la do convívio de Rindy. Apesar desse conflito, ela não fecha os olhos para o prazer e decide ensinar para Therese, que nunca havia tido experiências homossexuais antes, o que é amar.

Eu não quis um filme que se encaixasse em rótulos como o de ‘filme gay’ ou ‘filme lésbico’, até porque, muitos rótulos não existiam nos anos 1950. Naquela época o que havia entre os homossexuais era o isolamento e isso é o que eu discuto na figura de Therese e em tudo o que está represado dentro dela. É uma história para nos lembrar de que a conexão afetiva entre duas pessoas não se forja por convenções sociais: ela brota, de maneira espontânea e, por vezes, irrepresável”, disse Haynes com foco nas convenções morais de uma Nova York ainda presa a valores do pós-II Guerra Mundial.

Moralismos inerentes à Guerra Fria assombram todo o filme. “Aquele é o momento do chamado ‘resfriamento’, quando as tensões políticas à esquerda e à direita ficam mais fortes, ampliando-se o conservadorismo”, disse Haynes, elogiando a colaboração de seu montador brasileiro.

Segundo o cineasta, a química entre ele e Affonso Gonçalves é fundamental para o tom do Carol. “Nosso entrosamento se dá pela proximidade de nosso olhar. Tivemos um encontro de sensibilidades. E isso facilita a dura tarefa que é descartar cenas que consideramos bonitas mas de pouca importância para a edição final”, disse o cineasta, que hoje idealiza um filme sobre crianças até 12 anos, chamado Wonderstruck, e baseado em um romance homônimo de Brian Selznick sobre o verbo amadurecer. “Eu tenho um interesse em retratar pessoas às voltas com incertezas”.

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