Com a autoridade de quem dedicou 56 de seus 87 anos de vida à missão de dirigir, editar e produzir curtas e longas-metragens com temas controversos, o cineasta Paul Vecchiali (de Réquiem Para Uma Mulher) aproveita sua estada no Brasil na 41ª edição da Mostra de São Paulo para polemizar. Falar com ele é ouvir questionamentos sobre o status quo audiovisual da França, em cuja indústria ele rodou cults como Mulheres, Mulheres (1974).
"Há um problema no cinema francês feito hoje no que envolve a lógica do 'filme de autor'. Ser autor é saber que cada filme demanda uma escritura fílmica própria. Para um autor, não interessa ter uma grande cena e sim que cada plano filmado puxe outro, alimente outro. O que conta é o conjunto. Por isso, não vejo sentido em chamar Jacques Audiard ou François Ozon de autores. Eles têm talento. Pode. fazer filmes bons, mas não autorais", avalia Vecchiali, em papo com o Omelete.
Vieram às telas de São Paulo 14 filmes de Vecchiali, incluindo o inédito Os 7 Desertores, com sessão às 21h15 desta segunda, no Cinesesc. Entre seus trabalhos de maior prestígio, a maratona cinéfila paulista tirou do baú Uma Vez Mais, drama LGBT indicado ao Leão de Ouro em 1998. A trama ficou famosa na Europa por seu pioneirismo em abordar a Aids.
"Sempre montos meus filmes para entender a cadência dos planos. E sempre começo o trabalho com os atores pedindo para que eles decorem as falas sem inflexão. Peço que eles sentem comigo e recitem, sem colocar rubricas, marcas", diz Vecchiali. "Na leitura eu sinto como o texto deve ser e, tal qual um maestro, decido com os atores onde entra o silêncio, componente essencial".
