Filmes

Entrevista

“Dançar não era o forte de John Travolta”, confessa diretor de Os Embalos de Sábado à Noite

Com episódios de Supernatural e Arrow no currículo, John Badham fala sobre os preparativos para os 40 anos do clássico

09.07.2016, às 20H14.

Mito da televisão americana, onde atualmente é responsável pela direção de episódios de Supernatural e Hora do Rush, além de uma colaboração direta em Arrow, o inglês John Badham já vem preparando sua agenda para os eventos comemorativos dos 40 anos de um dos maiores cults de Hollywood: Os Embalos de Sábado à Noite. Lançado em 1977, o filme - centrado na jornada de inclusão social do jovem Tony Manero (John Travolta) pelas pistas de dança de Nova York – já vem inspirando revisões críticas, novos artigos e exibições comemorativas, como “esquenta” para seu 40º aniversário.

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Em sua estreia, o cineasta foi catapultado ao panteão das grandes promessas de Hollywood, tendo emplacado ainda sucessos como Jogos de Guerra (1983) e Tocaia (1987). Na entrevista a seguir, concedida por e-mail ao Omelete, Badham, hoje com 76 anos, faz um balanço da TV feita hoje nos EUA e relembra detalhes da produção, que custou US$ 3 milhões e faturou US$ 237 milhões pelo mundo afora, imortalizando Travolta e a figura rebelde de Manero.

Os Embalos de Sábado à Noite chega aos 40 anos num momento em que o senhor, seu realizador, vive distante do cinema, fazendo apenas televisão? O que existe nas séries que o fascina tanto?

Talvez o mais correto fosse perguntar o que aconteceu com o cinema nestes anos 2010. Arrisco uma resposta: hoje os estúdios querem saber apenas de histórias em quadrinhos, deixando de lado os roteiros mais adultos, preocupados em falar da condição humana. Foi nessa brecha que a TV entrou, buscandos os bons scripts, a liberdade autoral, os elencos mais ousados. A televisão deixou de ser um aparelho para virar um canteiro de experimentação.

E qual era o espaço de experimentação que havia em um projeto como Os Embalos de Sábado à Noite nos EUA da década de 1970?

A questão cinematográfica ali era encontrar um equilíbrio para juntar dois mundos muito distintos e harmonizar duas linguagens distintas. De um lado, havia a realidade pobre do Brooklyn, a vida nas ruas, o dia a dia em família. Do outro, havia um mundo de fantasia no qual as pessoas acreditavam que tudo era possível quando elas pisavam numa pista de dança. Ali, muita gente poderia parecer uma estrela de cinema, assim como Tony Manero, que sonhava ser como Al Pacino. E, em termos formais, havia a linguagem da ficção, de um lado, e o realismo documental, do outro, aproveitando coloquialidades, abrindo a câmera para a pressão das ruas. O contraste entre esses extremos era o coração do filme, que teve em Caminhos Perigosos (1973), de Scorsese, sua principal inspiração. O realismo chegava ao seguinte requinte: todas as roupas usadas no filme tinham de ser peças que você pudesse encontrar nas lojas das regiões retratadas no filme.

O que havia de cinematográfico na Era Disco?

A Disco era um mundo que vivia da imaginação. Na prática, ao redor de todo o glamour das pistas, o que havia era um mundo ordinário e um ambiente de solidão. Mas as pessoas se esforçavam para ver o universo que habitava cada boate como se fosse um conto de fadas. Por isso, quando filmado, aquele ambiente tinha algo de mágico.

Como foi transformar o John Travolta num ás da dança como Tony Manero?

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John Travolta cresceu em Nova Jersey, o que dava a ele um entendimento quase intuitivo daquele mundo. Dançar não era uma de suas melhores virtudes quando começamos a trabalhar. Ele teve que treinar arduamente durante meses, com o coreógrafo Denny Terrio, para dominar os passos elaborados de Manero, que exigiam um preparo atlético tão grande quanto a invenção artística que demandava. O estilo do personagem era algo que espelhasse o universo da Disco Music e não algo que se parecesse com o modo de dançar de bailarinos da Broadway ou de dançarinos de balé clássico. Seu gestual precisava transmitir a sensação de ser fruto do autodidatismo das ruas, de quem aprendeu improvisando, vendo gente dançar na TV. Cada passo tinha de parecer improvisado.

Houve improviso na direção dos atores?

Todos os atores receberam sinal verde para reinventar os diálogos. Ainda que o roteiro de Norman Weller fosse muito caprichado nas falas, com algumas muito provocativas, valia a pena dar ao elenco espaço para imprimir sua própria forma de falar. Assim como Travolta, todos vinham de uma origem muito parecida com as raízes sociais de seus personagens. A liberdade na forma de falar alimentaria a realidade. Apostei nessa trilha.

Como é que anda a sua agenda na TV?

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No momento, eu ando trabalhando de maneira intensiva em Supernatural, Arrow e Rush Hour, e, quando não estou dirigindo uma dessas series, ocupo o meu tempo lecionando Direção na Chapman University, onde sou professor há 12 anos. E, quando sobre uma folguinha, eu jogo tênis.

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